- Sarah, você quer arruinar a nossa familia de vez? - Célia gritava enquanto atravessava o vasto jardim para ir ao encontro da filha.A jovem, naquele momento, já estava aliviada de ter negado o pedido de casamento, mas ela sabia que não seria nada fácil enfrentar o desespero de sua mãe.
- Eu não pedi para você me arranjar um casamento, ainda mais com Edgar! - rebateu Sarah querendo ir para casa o mais rápido possível.
- Nós não temos onde cair mortas, esse noivado era a única solução! - o corpo de Célia se mexia de forma frenética enquanto ela fazia gestos desesperados com as mãos. - Agora você trate de voltar naquele salão e desfazer a sua burrada!
A moça odiava quando sua mãe dizia que a única forma de melhorar de vida era se casando. Elas podiam trabalhar, rezar e até mesmo tentar negociar as dívidas, mas Célia queria mesmo era permanecer na alta sociedade, ter status social e poder dizer pra todo mundo que a filha estava casando com um homem de posses. Certamente disso Sarah sabia.
- Não vou! Toda essa situação é culpa sua, pois quando papai morreu, foi você que gastou rios de dinheiro em vestidos e artigos de luxo. - gritou a jovem descontando toda a sua raiva em cima da mãe.
Célia ficou parada por alguns instantes. Seu rosto fino estava cada vez mais enfurecido, ela não admitia que a culpa fosse jogada para si, mesmo que fosse verdade. Então, ela passou as mãos pelos cabelos colocando os cachos revoltados para trás e sua expressão se suavizou.
- Não vamos discutir isso agora. É melhor irmos para casa antes que essa noite acabe em uma tragédia maior.
Sarah foi atrás dela para que pudessem ir embora, pensou que sua mãe finalmente estava convencida de que não haveria noivado algum, mas ela se enganava. Célia ainda estava convicta do que queria, porém teve noção o suficiente para entender que nada ficaria bem se mãe e filha ficassem discutindo daquela forma. Além do mais, todos ouviriam e seria demais dar outro vexame. Portanto, a senhora Virgos não hesitaria em procurar o senador e refazer aquele noivado.
*****
Quando chegaram em casa, todos estavam cansados e em silêncio. Sarah subiu as escadas o mais rápido possível antes que sua mãe pudesse introduzir o assunto de casamento novamente e elas terem outra discussão.
Ao entrar em seus aposentos, a jovem sentiu o coração apertar de saudades do pai. Aquele quarto foi projetado por ele com muito carinho e orgulho, pois realmente parecia um quarto de princesa. Infelizmente, talvez aquela casa fosse vendida um dia e consequentemente, o quarto seria de outra pessoa e os sonhos do falecido pai de Sarah, destruídos.Tentando se desviar dos sentimentos tristes, Sarah trocou o vestido pesado para uma camisola leve e com um tecido gelado que trazia refrescância à sua pele. Penteou seus longos cabelos castanhos e se deitou na cama torcendo para ter um sono profundo e reparador que pudesse lhe ajudar a enfrentar o dia seguinte e a insistência de sua mãe.
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A noiva falida
RomanceDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...