O salão de entrada era pequeno, o piso era de mármore preto e branco, desenhado em xadrez e a parede pintada de branco, onde havia pequenas molduras de fotografias da fazenda. Ao centro, uma mesinha de madeira francesa suportava a jarra de água, onde se lavava as mãos.
Bernardo esperou que seus convidados terminassem a lavagem das mãos e logo depois, atravessou o salão para abrir a porta de madeira maciça com duas folhas. Assim, finalmente a família Virgos pôde entrar na sala de estar.
Sarah se deslumbrou ao enxergar tudo aquilo. Os raios de sol que saíam das enormes e inúmeras janelas iluminavam todo o ambiente e o deixava ainda mais confortável, apesar de todo o luxo. As paredes eram cobertas até a metade por um papel de parede rosé, que era de origem francesa, enquanto a outra parte continha uma cor lisa de bege e era detalhada em tons de dourado. Além disso, haviam molduras retangulares por todos os cantos com desenhos e pinturas de figuras ilustres, como Dom Pedro II e a falecida mulher de Bernardo. Haviam dois sofás grandes, feitos de algodão, na cor bege, e quatro poltronas da mesma cor espalhadas ao redor. Cortinas de renda, móveis feitos de jacarandá, lustres de cristais e o perfume fresco de flores enchiam os convidados de êxtase.
A família Virgos estava nos céus, todo aquele luxo era muito maior do que eles haviam imaginado e por estarem falidos, não experimentavam tal sensação há séculos. O que mais agradou a jovem senhorita foi encontrar em cada detalhe, uma marca da esposa de seu primo. Com certeza ele a amava muito, pois tudo ali parecia trazer à memória dela de volta.
Bernardo fez sinal para que todos se sentassem. Logo depois, uma mulher alta, de corpo alongado e pele muito branca, com os cabelos meio castanhos e esbranquiçados entrou na sala, com as mãos ocupadas de um jogo de chá prata. Ao colocá-lo na mesa de centro, a mulher serviu uma xícara de chá, com toda boa vontade, ao patrão, que pegando a louça, disse:
- Essa é a Zenaide; a governanta da casa.
A senhora balançou a cabeça em forma de cumprimentou e deu um sorriso gentil. Apesar de suas vestes serem em tons de cinza e preto, e a expressão já envelhecida e cansada, parecia ser uma pessoa bondosa. O dono da casa havia contado que Zenaide era governanta da casa desde quando ele havia enriquecido, com apenas 24 anos. A partir disso, ela participou ativamente da vida de Bernardo e de sua família.
- Os senhores fizeram boa viagem? - questionou a senhora, fazendo com que todos percebessem a sua voz firme.
- Apesar dos lugares horríveis que tivemos que ficar, foi ótima! - mentiu Margarida, mas sorrindo de orelha a orelha por estar em um lugar tão chique.
Celinha revirou os olhos exalando impaciência. As vezes ela se esquecia da presença da cunhada, mas toda vez que um comentário alegre demais era feito, conseguia lembrar-se daquela criatura. Apesar da senhora Virgos não acreditar, Margarida era uma ótima pessoa e a mais sensata daquela família, depois de Sarah. Ela só estava um pouco agitada, pois seu marido finalmente havia arranjado um emprego em uma propriedade lindíssima.
- Mas e então Zenaide, onde estão meu filho e meu afilhado? - perguntou Bernardo.
- Ainda não chegaram, mas devem estar a caminho. - retrucou ela, satisfeita de ter uma resposta para o patrão.
O fazendeiro se levantou e convidou os hóspedes para conhecer o restante da casa. Mas, Sarah estava se sentindo muito indisposta, a viagem realmente tinha sido cansativa e ela queria estar descansada para conhecer todo aquele lugar, mais tarde. Então, a jovem disse:
- Senhor Bernardo?
Ele se virou para ela, assim como sua mãe e seus tios.
- Sim, querida?!
- O senhor se importa que eu vá para o quarto? Gostaria de descansar um pouco.
- Por favor! - disse ele estendendo os braços para a escada. - Fique à vontade, a casa é sua.
Assim, Sarah subiu pela escada de mármore, dispensando a ajuda de Zenaide para encontrar seu quarto. A jovem imaginou que seria muito fácil achar o cômodo destinado à ela e sua mãe naquela casa imensa.
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A noiva falida
RomanceDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...