Talk To Me

Prólogo: Estúpida mensagem

Noelle respirou fundo tentando acalmar sua mente. Ela era de uma das famílias mais importantes da cidade de Clover, era algo fácil para ela fazer isso, certo?

Era hora de se declarar ou dar uma mínima noção dos seus sentimentos. Desde a alguns meses atrás, Noelle tinha começado a reparar em Yuno. Ele era bonitinho, estudioso e quieto, do tipo que Nozel queria que a irmã tivesse um relacionamento. Os dois se aproximaram ao ponto de serem amigos-mais-para-o-lado-de-colegas. Era algo novo e recente, surpreendente até mesmo para a própria garota.

Mas antes de, provavelmente, tentar dizer ou dar algum sinal para o garoto, Noelle teve a brilhante ideia de falar com Vanessa, já que ela já tinha experiência no assunto e poderia ter uma noção melhor de tudo isso. E também, a Silva sabia que existia um pequeno grande problema: A Vergonha. Como dizer para alguém que você tem um crush na pessoa sem explodir de tanta vergonha?!

E a resposta veio logo depois: pela tecnologia. O grande privilégio de ter nascido na época em que as pessoas usavam mensagens e não cartas.

Sentada na cama com um pijama de gatinhos fofinhos, Noelle segurava o celular caro tremendo. Ok, não era tão fácil quanto parecia, na verdade, pretendia escrever uma coisa curta que representasse o possível interesse que ela poderia ter. Abriu o contado salvo como Uno, uma bela gracinha da parte dela, e clicou no botão para escrever uma mensagem.

Droga, o que ela podia escrever?

Desistiu por um tempo, apenas refletindo. Ela era corajosa, mas nem tanto. Esses sentimentos poderiam ser, como Vanessa classificaria, fogo no rabo, e poderiam nem ser tudo isso. Ou talvez, era apenas sua ansiedade falando.

O celular vibrou e acendeu a tela, que já estava se apagando. Havia chegado uma nova mensagem, de Asta, o garoto idiota que ela tinha como melhor amigo. E bem, responder ele agora seria como um evitar uma situação constrangedora.

Hey Noelle, olha só! Abriram a nova sessão de mangás de terror.

- 19:00 PM, 18 de maio de 2021.

Mangás de terror não eram a prioridade no momento, mas Noelle tinha dinheiro demais para não gastar com um hobby. E Asta amava o gênero terror, então sempre acabavam conversando sobre isso.

Bakasta, pare de ser idiota!
Você nem leu os clássicos, não pode falar comigo.

- 19:02 PM, 18 de maio de 2021.

Provocar Asta ou se submeter a uma vergonhosa declaração que estragaria sua vida? Ara, preferia o Astupido, até porque ele sabia um pouco de tudo que Noelle gostava.

Bagunçando sua coberta lilás felpuda e amassando o travesseiro, a garota se deitou. Asta tinha a respondido com um "Eu não sou idiota! E não li porque não tenho dinheiro", então era perfeito para começar uma nova discussão. No fundo, Noelle sabia que só estava procastinando o inevitável.

A conversa com o garoto durou demais, mais do que algumas horas. Já eram três da manhã e era domingo, e Noelle se xingava por isso. Seus olhos ardiam em um nível sobrehumano, além de estar tudo borrado e coçando. A garota anotou que deveria procurar um oftalmologista logo, sua visão acabava por piorar quase sempre.

Asta, acho que preciso fazer uma coisa.
Tchau, diz para a Vanessa não beber escondido de novo se você ver ela pela cantina ou nos corredores.

- 03:19 AM, 19 de maio de 2021.

Ignorando alguma despedida do garoto, Noelle foi direto para o contato de Yuno. Ou o que ela achava que era Uno, estava cada vez mais difícil enxergar pela sua visão. Não, quando você se declara é melhor elaborar, certo? Não pega bem um texto mal escrito, se é que se declarar por mensagem alguma vez foi algo bom. Abriu o bloco de notas, logo começando a escrever alguma coisa melosa e romântica, esforçando para ler as letras do teclado. Yuno gostava de coisas diretas, então não enrolaria.