— Sabe, nunca entendi esse negócio de jogar bola enquanto tá frio. E muito menos esse negócio de intercâmbio entre escolas. Qual a necessidade desse tipo de contato físico estranho? O pior é que todo mundo só aceita isso como correto sem nem questionar.
— E como se questiona uma tradição que é mais velha do que nossos avós?
— Revolução. Não podem calar a voz do povo.
— Eu amo inverno. Amo jogar. Amo comida de inverno. Amo batata recheada quente saindo do forno. — Asta enrolou o cachecol vermelho em volta do pescoço, sentindo a brisa fria e cortante. — Fala sério, qual ser humano não ama brincar na neve?!
— Talvez eu não seja humano. Já pensou se eu for um alien? Vampiro? Demônio?— Liebe respondeu, se encolhendo. — Ainda passo frio de qualquer jeito, infelizmente.
Asta se distraiu brevemente da conversa com o irmão quando os alunos de Spade passaram pela mesa em que ele estava sentado.
Havia boatos de que aquele colégio estava em falência por má gestão. Na verdade, a proposta daquela escola era ser "diferente" das demais, ser uma alternativa onde os alunos poderiam estudar enquanto se dedicavam inteiramente a um intinerário de formação, sem as matérias tradicionais.
Obviamente, a mensalidade era um preço exorbitante demais para o que, no final, tinha o mesmo resultado de que qualquer escola. A direção era composta por três irmãos chamados Zenon, Dante e Vanica, que eram bem suspeitos na visão de todos. Estavam sempre de preto, de canto, observando, parecendo odiar adolescentes.
Mas quem que dirige uma escola e ainda por cima gosta de adolescentes? Não havia muito o que considerar suspeito além de aparência e boatos de lavagem de dinheiro. O colégio de Spade parecia muito bem, na verdade. E os diretores talvez fossem frios e sombrios porque precisavam assustar os alunos.
— Olha só, aquele tal de Sekke. Andando assim por aí até parece que sabe fazer alguma coisa. — Liebe apontou para Sekke Bronzazza, um aluno de Spade, que enquanto saia do refeitório, lançava risadas e olhares de deboche. — Ele é irritante dos pés a cabeça. Não sabe jogar, não sabe falar, não tem dinheiro, tem o cabelo espetado de gel demais.
E é claro que Clover tinha que convidar Spade para confraternizar antes dos jogos de temporada de inverno, porque eram escolas vizinhas. Óbvio que os jogadores de esporte de Spade teriam dormitórios especiais quando viessem para a Clover School. Era uma longa semana de união entre as duas escolas, na qual o tão esperado jogo de futebol americano ocorria só na sexta. No caso, ainda era uma terça feira.
— Todo mundo sabe porque aqueles sem tetos que estudam na Spade chamam o Bah-ha para todo esporte: Trapaça. — Asta respondeu, mal humorado. Odiava Sekke de um jeito especial.
— Eu lembro do ano passado, estávamos nas finais, faltava só um jogo para levar o troféu para casa. Só que ano passado quem estava hospedado era a gente, na escola deles. Na tarde do jogo, o Yuno foi tomar banho, e coincidentemente o chão estava recém lustrado com uma cera que não podia molhar porque escorregava. Só que ninguém avisou, e como já estava tudo seco, Yuno não suspeitou. Ele fraturou a perna em três lugares porque não conseguia ficar em pé sem cair.
— E no final, perdemos, porque eu e Yuno tínhamos uma jogada ensaiada para vencer. Eu não conseguia me concentrar porque a perna do meu irmão parecia precisar até de cirurgia. Ele gritava de dor e eu gritava porque não sabia como iríamos conseguir dinheiro para pagar o hospital. — Asta empurrou seu almoço para frente, sem mais fome por se lembrar de algo tão amargo.
— O Sekke foi tão cara de pau que quando foi trocar de roupa depois do jogo, deixou cair um vidro de cera do armário. — Liebe suspirou pesadamente. — E quando acusamos ele, chamaram a gente de péssimos perdedores.
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Talk To Me
FanficEm plena madrugada de domingo, Noelle toma uma decisão: se confessar ao seu grande amor adolescente por uma mensagem estúpida. Ela só não contava que sua mente cansada a fizesse enviar mensagem para seu melhor amigo: Asta.