muquifinho, gelo e amendoim

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Hage era um lugar, como Liebe descreveria, um muquifinho. Era um orfanato de dois andares apertados que eram colados numa capelinha.

No papel, a responsabilidade em manter os orfaos ali era exclusivamente da prefeitura. Essa conta não fechava de jeito nenhum, já que o governo não arcava nem com metade dos gastos de alimentação das crianças.

De cada cinco crianças, só uma havia sido realmente encaminhada para o orfanato, as outras só foram sendo deixadas lá e acolhidas pelo padre orshi. Então para a prefeitura só havia menos de metade dos órfãos que moravam no lugar atualmente.

Mas tinha uma coisa que ninguém tirava daquele lugarzinho: O gosto de lar que sempre transmitiria a Liebe.

As paredes tão desgastadas com um tinta bege encardida, as camas remendadas com colchões de pedra. A mesa grande de refeição que abrigava inúmeros bancos e cadeiras diferentes para que todos possam se sentar para comer.

O abraço caloroso da irmã Lily depois de uma longa viagem. Sim, nem o ouro de todo o mundo pagaria aquela sensação.

Liebe suspirou, aceitando bolinhos de chuvas — que foram feitos por uma senhora voluntária — enquanto comprimentava as crianças com um abraço.

Alguns rostos novos, outros velhos e a falta de alguns. A velha instabilidade de morar em um orfanato.

Prometeu contar histórias e brincar com as crianças assim que arrumasse suas coisas em seu antigo quarto.

Bateu na porta do quarto sabendo que seus dois irmãos também estariam hospedados lá.

Espiou Asta jogando sua mala no chão do quarto, soltando maldições baixinho para Yuno, que estava sorrindo para o celular.

Uma briga? Liebe supôs, adentrando o lugar, sentido logo a tensão que emanava de seu irmão de cabelos cinzas.

— Se apressem bastardos, temos que brincar com umas dez crianças cada um. — Tentou começar uma assunto.

Asta não o respondeu, apenas resmungou. Yuno não acordou do celular para dizer alguma coisa.

Encarou seus dois irmãos, agora realmente estranhando a tensão ali. Liebe não se lembrou de nada que pudesse os fazer ficar assim.

Ele não ligava para qual o problema, apenas queria que tudo voltasse a sua velha normalidade.

— Irmã Lily está lá em baixo, aposto que vai sair com você se pedir Asta. — Puxou assunto de novo, agora lançando uma roupa aleatória caída na cabeça do outro.

Asta praticamente rosnou para ele.

— Já vou sair com alguém hoje. — Seu tom saiu mais como um xingo para o irmão do que qualquer outra coisa. — E Yuno também. Não é, irmãzinho?

Um sorriso estranho adornou o de olhos verdes, um que seu gêmeo rapidamente reconheceu como tristeza acumulada.

Se Yuno ouvia as coisas e decidia ignorar ou se apenas estava alheio, ninguém sabia ao certo. Liebe só viu um sapato número 39 voando para o nariz dele.

— Aí! — Yuno gritou, largando o celular no exato momento em que o sapato o atingiu. Havia acertado seu nariz em cheio e provavelmente sangraria se tivesse de uma distância menor. — Você está louco, Asta? E se meu nariz tivesse quebrado ou estourado alguma veia?! Está doendo...

Liebe quase riu, mas aí pensou por alguns segundos e lembrou que Asta não era agressivo e que jamais jogaria uma coisa no irmão nesse nível se não tivesse um problema sério.

Correu para se sentar ao lado do irmão mais alto enquanto o fazia tirar as mãos do machucado para analisar melhor. Estava vermelho e provavelmente seria algo sério se Asta tivesse a uma menor distância.

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