Uma verdade sempre doi menos que mil mentiras bonitas

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Yuno no fundo sempre gostou de se enganar, de contar uma linda mentira para mascarar a realidade.

Tudo começou lá na infância, quando seus pais decidiram que Yuno era uma bagagem a mais para carregar nas viagens internacionais. Eram burocratas empresários, e encontravam o orfanato de Clover em uma espécie de programa de doação anual que a empresa fazia. Não foi difícil escolher aquele lugar para opção para o garoto morar: era escondido, longe de mídia, o tipo de lugar que qualquer criança se adaptaria, e ainda por cima perto da escola prestigiada de Clover.

A 1• primeira grande mentira que Yuno decidiu acreditar veio talvez daí: Ele preferia mentir e pensar que seus pais eram ocupados por trabalho, e de longe continuavam se preocupando com ele, mesmo que eles o tenham abandonado em qualquer lugar e empurrando sua criação para qualquer um que aceitasse.

A 2• grande mentira chegou na mesma época: Yuno gostava de pensar que ele, Asta e Liebe eram verdadeiramente irmãos, parte de uma coisa maior. Era isso que o segurava nas noites em que sentia falta de sua família.

A partir daí, exponencialmente Yuno desenvolveu uma tendência de querer acreditar em coisas que mascaravam ou aliviavam a sua realidade. Ele amava insistir em situações que eram um jogo perdido, amava estar ligado aquela barulheira que o lembrava que ele ainda era alguém.

Sim, alguém. Yuno sempre foi o irmão responsável, o que não precisaria de ajuda, o que cuidaria dos menores, o mais inteligente, o que ganhava concursos, o garoto mais bonito, bom em tudo. Essa imagem cresceu sobre ele desde a infância, quando precisou ser o bom menino para se adaptar no orfanato e fingir que a perda de seus pais não o afetava tanto mais.

Um bom mentiroso é um bom ator, e o papel de Yuno se tornou tão natural num ponto em que ele acreditava que não conseguia nada a mais do que isso. Alguém bom em tudo, mas condenado a solidão e o abandono, condenado a uma vida em que nem seus pais o quiseram, condenado a ser sempre o mais bonito, mas não o acompanhado.

Por isso, Yuno adorava quando algo em sua vida desafiava seu misterioso papel. Ele era tão decidido, tão bom que precisava de um ponto de desequilíbrio. Algo para sempre o lembrar que ele era alguém de verdade, com sentimentos.

Na infância? Liebe e Asta. Na pré adolescência? As pequenas coisas escondido que fazia quando entrou na clover school, como sua primeira festa com álcool. Depois o futebol americano. Agora?

...

Noelle Silva e esse relacionamento estranho dos dois.

Ele sabia desde o começo que ela nunca pensaria nele 100% do tempo, mas isso não impediu dê inevitavelmente sentir atração, que logo se tornaria uma paixão.

Era isso. Talvez Yuno fosse doente por entrar em uma relação que ele sabia que estava fadada ao fracasso, e pior, o fracasso ainda viria de uma das pessoas mais importantes de sua vida, seu irmão. E que culpa ele tinha? E que culpa Noelle tinha?

No final, Yuno gostava muito da agitação e de tudo que Noelle o fazia sentir.

Quando procurou a Silva apenas alguns minutos depois que ela saiu, ele tinha um pressentimento que as coisas não acabariam bem.

E ele estava estupidamente certo.

— Noelle? Asta? — Os encontrou em uma posição bastante comprometedora.

Não, ela não era uma traidora, nem Asta.

Mas talvez os dois se gostassem e Yuno era a terceira pessoa.

— Yuno... — o olhar culpado de Noelle ficaria marcado no Grinberryall. — Eu e Asta estávamos conversando sobre o porque dele ter se afastado de mim.

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