Regatas pretas, aquela segunda

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O outono estava chegando com tudo na cidade de Clover, trazendo consigo um vento gelado e temperaturas baixas, ao ponto de ser necessário o uso de blusas de frio grossas.

As folhas, outrora verdes e amarelas, começam a cair totalmente. O tempo agora estava sempre cinzento, sem um raio de sol para lembrar do calor do verão passado.

- Nossa, não acredito que em 15 dias o tempo esfriou tanto. - Liebe beberica café quente enquanto segurava Harry Potter e a Pedra filosofal entre as mãos. - Nem parece que já é a saída desse mês.

A saída qual Liebe se referia era nada mais do que um final de semana de "folga" para todos os alunos.

"Folga" porque era na verdade o único final de semana que os alunos poderiam sair da escola no mês, então era mais como uma brecha na ditadura da escola - que foi criada para que a Clover School não mantivesse seus alunos o ano inteiro dentro dos portões.

A sexta, sábado e domingo de saída era sempre um bom momento para todos, porque era um alívio poder sair para fora e ver o mundo além da Clover School.

- Nem eu. - Asta sussurrou, distraidamente longe dali.

Quinze dias. Quinze malditos dias desde aquela maldita briga com aquela maldita pessoa. Sim, quinze dias, quinze dias que Asta estava eternamente preso em uma discussão na sua mente sobre o que fazer.

Naquela segunda, o garoto faltou em todas as aulas e se trancou em seu quarto. Ignorou as mensagens e ligações de Noelle pedindo desculpas, simplesmente se desligando do mundo.

Como ele queria a entender. Mas por enquanto, era melhor pensar em si próprio.

Porque Asta estava tão chateado com ela dizendo que nunca se apaixonaria por ele? Simples; ele tinha expectativas românticas com a Silva.

E quando digo expectativas foi porque Asta não entendeu imediatamente que tinha sentimentos por ela, e sim que quando leu a mensagem, criou expectativa do que poderia acontecer após aquilo.

E depois de entender que suas expectativas falharam, ele tinha uma ferida bem mais orgulhosa para lidar: Seu ego.

Ah, doeu. Doeu ela dizendo que nunca se apaixonaria por ele. Doeu mais ainda quando ela colocou Yuno na conversa.

E ego era uma coisa muito mais difícil de lidar do que o emocional. Era muito mais fácil guardar suas emoções para si até que elas estourassem. Mas as feridas do ego não são facilmente ignoradas, são como cortes profundos na seda.

O ego não lhe permitia falar com a Silva de novo. O orgulho ferido gerava raiva de tudo e de todos, principalmente de alguém que ele amava: Yuno.

É tudo tão confuso para Asta. Sua mente dá voltas em voltas em torno do assunto e nunca decide o que fazer ou com quem falar.

- Terra para o idiota! - Liebe bateu palmas na frente de Asta.

- Ah?

- Cara, você 'tá bem?

- Nunca estive melhor. - Asta mentiu, sorrindo para o irmão. - Estava pensando no que vamos fazer nesse sinal de semana, só isso.

- Bom, eu acho que vamos para o orfanato ajudar as crianças de novo. É tão bom ser tratado como o irmão mais velho que elas se inspiram.

- Concordo. - E novamente a mente de Asta entrou naquele limbo eterno: reviver aquela segunda, se sentir despedaçado, raiva e ir embora. Tudo isso somado a uma interna reflexão sobre o que fazer e o porque ele estava tão chateado.

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- Mas que merda de armário! - Noelle suspirou enquanto arrancava todas as roupas do seu cabideiro para as arrumar de novo, dessa vez por cor e tamanho.

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