Se a presa não vai até o caçador, o caçador vai até a presa.
É claro que Asta não pretendia cercar Noelle na parede enquanto a prepara para ser seu próximo alimento. Mas ele conhecia a amiga que tinha: sabia que ela fugiria dos problemas até que eles estrourassem no ventilador e se espalhassem como fogo na palha.
Tudo o que o garoto queria era respostas. O porque da mensagem, porque só agora ela decidiu falar, porque esse jeito estupido de expressar sentimentos. Porém, acima de tudo, Asta queria respostas para si mesmo. O que ele realmente sentia pela sua amiga? Era uma atração normal entre amizade? Era algo novo? Algo com que os dois poderiam descobrir juntos?
O intervalo durava uma hora e Asta sabia que Noelle iria ao seu dormitório para pegar seu uniforme de treino de líder de torcida — porque ela sempre esquecia de levar para o armário — e era essa a hora de a questionar. Yuno provavelmente deu seu recado a ela, mas ele duvidava que a garota iria realmente o encontrar.
Ela era assim; simplesmente adorava não lidar com seus problemas de um jeito fácil. E ela não falaria com ele tão cedo porque pensaria em mil coisas diferentes, algumas que feririam seu ego, o que transformaria uma simples coisa em uma confusão.
Porque Noelle Silva era complicada. E Asta odiava pessoas que não conseguiam resolver as coisas do jeito fácil.
Os pensamentos do garoto o levaram longe, tão longe que ele nem percebeu que estava andando em um corredor sem nem desviar dos alunos. Mas Asta era lerdo, e só acordou de seu transe quando bateu de cara com Mimosa, derrubando todos os cadernos que ela carregava.
— Me desculpa! — pediu desculpas rapidamente, enquanto se abaixava e recolhia todos os materiais jogados. — Estava com a cabeça nas nuvens.
Mal sabia ele que a mínima palavra dirigida a Mimosa fazia o coração dela acelerar como louco, batendo em seu peito como se lutasse para se libertar.
As mãos começaram a soar, a pele adquiriu um tom vermelho e de repente todas as palavras que ela havia ensaiado sumiram de sua mente.
Acontece que Mimosa era boa de interpretar o subentendido, e quando viu Asta andando tão distraidamente enxergou uma oportunidade de convidar seu grande amor para um encontro: bastava esbarrar "por engano" nele e casualmente conduzir o assunto para uma ida ao cinema.
— N-não foi nada! — Engolindo todas as suas emoções, ela se abaixou, juntando algumas folhas que voaram. — Na verdade, eu queria encontrar você mesmo.
— Sério? — Asta subiu o olhar dos cadernos para ela, enquanto a analisava.
Na luz das 10 da manhã, os cabelos castanhos quase loiros dela pareciam brilhar e cheirar a primavera. Os olhos, em um tom castanho tão atípico, refletiam tudo o que ela era por dentro: bonita, harmoniosa e sincera. O uniforme caia tão bem ao seu corpo; a cor branca da blusa a favorecia.
— É-é que saiu um novo filme de terror no cinema, a adaptação do livro que você estava lendo esses dias e comentou comigo. — Mimosa quase perdeu a coragem quando percebeu os olhos verdes brilhantes de Asta vagarem por todo seu rosto. — E e-eu queria saber se você queria ir ver comigo, é claro, se você estiver livre qualquer dia.
"E eu queria saber se você queria ir ver comigo, como um encontro, porque eu sou muito afim de você e se você não parar de me olhar assim, eu posso querer pular em você e te beijar, depois vamos sair, se conhecer, começar a namorar e adotar um hamster".
É claro que isso não saiu da boca de Mimosa, mas era realmente o que ela queria gritar a plenos pulmões.
E do outro lado estava Asta, que tinha uma capacidade de interpretação um pouco mais lenta e não conseguiu nem deduzir que ela queria um encontro. Para o garoto, era mais uma coisa de amigos qualquer que ele teve que aceitar para poder resolver seus negócios com a Silva.
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Talk To Me
FanfictionEm plena madrugada de domingo, Noelle toma uma decisão: se confessar ao seu grande amor adolescente por uma mensagem estúpida. Ela só não contava que sua mente cansada a fizesse enviar mensagem para seu melhor amigo: Asta.