Reprogramar, promessas e novo começo

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ok, onde você está?
- 09:34 PM, 23 de setembro de 2021.

Os dedos de Asta mal conseguiram apertar as teclas do celular, que de repente se tornaram pequenas demais para alguém estressado e ansioso. Será que foi desesperado demais?

Não, as coisas só funcionavam quando pessoas eram racionais e conversavam sobre o problema, não fugiam dele. Era só que agora Asta gostava de Noelle, e ela sabia disso com todas as letras.

Era assustadoramente aterrorizante. Asta nem tinha conversado com Yuno ainda, Mimosa.

E se Noelle o odiasse? E se descobrisse coisas que ele preferia que continuassem ocultas? E esse sentimento? E se...

Antes que sua mente continuasse, seu celular vibrou.

Estou no meu dormitório. Podemos ir para outro lugar?

- 09:35 PM, 23 de setembro de 2021.

Claro.

- 09:35 PM, 23 de setembro de 2021.

Estou perto da varanda abandonada. Consegue ir?
- 09:35 PM, 23 de setembro de 2021.

Ah, sim. Aquela ansiedade familiar. Não a mesma de quando você sabe que algo bom vai acontecer, mas aquela que precede eventos ruins que serão remoídos durante um banho gelado e incômodo. Tudo poderia dar errado.

Seria um ótimo momento para Asta lembrar que, talvez, ele devesse ter falado o que sentia no momento certo. Como naquele dia do encontro do cinema, em que seus surtos se estenderam para Yuno conversando com sua então então amiga, resultando em agressão. Se Asta tivesse falado, as coisas não tomariam esse rumo.

De qualquer forma, as águas passadas não movem o moinho, e continuar pensando no que deveria ter sido ou já foi não fariam o problema ser resolvido, só trariam mais confusão. Quando Asta chegou na naquela familiar varanda, tirou de sua mochila uma velha toalha de mesa verde listrada, tentando deixar o ambiente mais apresentável e limpar a poeira.

O garoto se sentou, ironicamente rindo um pouco consigo. Foi Noelle que mostrou aquela sala para ele depois daquela briga no dormitório dela. Foi naquele chão que, depois de fazer as pazes, silenciosamente aproveitaram a companhia um do outro, só como amigos, é claro.

Quem dera Asta fosse corajoso o suficiente para ter a beijado naquele dia, aproveitado suas duas chances. Mas não, ele fez o oposto disso: Disse que queria sair com Mimosa, e que a ajudaria a ficar com Yuno.

Droga! Esse foi quase como um gol contra. Mas na defesa de Asta, o que ele deveria fazer? Ela preferia seu irmão. Tinha se declarado para ele — de um jeito incomum, mas a ordem dos fatos não altera o resultado.

Uma vez, Irmã Lily disse para ele, quando Asta ainda estava na casa dos onze anos, que o passado mal resolvido era uma espécie de erva daninha, que impediria toda plantação de ir para frente se não fosse logo cortada — na metáfora, significa que o passado nunca iria deixar as coisas fluírem se continuasse mal resolvido. Era estranho, mas fazia sentido: Se você não resolve uma história, nunca vai conseguir escrever outras.

— Oi. — Pequenos passou incertos foram ouvidos, surgindo a figura etérea de Noelle Silva na frente do garoto.

E poxa, como ela era linda. Até com seus cabelinhos arrepiados normais de um dia caótico, sua pele pálida e seu jeito meio tímido e extrovertido de ser. Ela era tão bonita, tão inestimável, tirava o fôlego do garoto apenas com seu olhar. Era indescritível.

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