Prólogo

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Milhares de velas queimando entre as paredes escuras daquela caverna feitas por rochas grossas e ela conseguia sentir uma gota de suor escorrendo entre seus seios enquanto suas maos estavam presas em algemas grossas.

Ela permanecia deitada sobre uma enorme lápide que era um pouco maior que seu corpo e conseguia sentir a corda que estava amarrada em torno de seus pés.

Não havia entrada de ar naquela caverna escura, apenas o barulho dos ratos que ecoavam no recinto. Ela tentou olhar em volta para encontrar uma maneira de sair, mas era inútil, de qualquer forma estava presa aquelas correntes.

De repente surgiu um barulho de bater de asas junto com um nevoeiro escuro e denso que pairava ao lado dos pés dela. Então dá névoa soturna ele surgiu em carne e ossos e os olhos da jovem ficaram paralisados de medo.

- Você. - ela sussurrou. - Não é possível. - acrescentou.

Ele caminhou em direção à ela e quando ficou ao lado do corpo dela, disse:

- Devia ter acreditado em seus pais, Mirena.

Ela o observou enquanto a raiva e terror faziam seus olhos transbordar. Mas parecia que quanto mais ele se aproximava, mais os quadris de Mirena se mexiam e a jovem não fazia ideia do quanto aquilo soava sedutor para ele.

- Você é a fera que os povos temem. - afirmou ela.

Ele assistiu uma lágrima escapar dos olhos de Mirena, então aproximou-se lentamente dos rosto dela. Após secar a gota de água que escorria pela bochecha da garota e disse:

- Agora você sabe o que se esconde por trás do nevoeiro da noite.

Os lábios suaves de Mirena estavam pintados de vermelho, mas não suplicavam para que ele a beijasse como era de costume. Agora eles guardavam palavras chulas e frases que capazes de magoá-lo.

Ela não iria implorar para serví-lo, o desejo de Mirena era que ele morresse. Mas mesmo que fechasse os olhos aquilo continuaria sendo o pesadelo mais real que ela chegou a conhecer e para ela não importava mais nada além do que estava por vir.

Mirena havera se apaixonado por um vampiro, pela fera que todos os reinos e camponeses temiam. Mas só agora ela sabia que era ele quem se escondia na noite e atacava o gado e animais da floresta.

Nao havia lei ou intervenção real que poderia salvá-la dos braços dele. Mirena estava pronta para fechar os olhos e cair nos braços da morte. Mas ele não fazia ideia de outra coisa que ela queria que ele soubesse.

- Mirena. - sussurrou ele acariciando o cabelo louro e cacheado dela.

Olhando nas íris azuis de Mirena, ele assistiu algo passar rapidamente e escutou o bater de asas como se algum pássaro estivesse fugindo da caverna.

- Feche os olhos. - ele pediu deslizando sua mão para fechar as pálpebras dela.

Morda e terá a vida eterna. Ele escutou uma voz masculina e grossa sussurrar no fundo de sua mente.

Mirena fechou os olhos e tudo o que sentiu fora a dor dos dentes dele. Com os lábios do rapaz sobre sua pele, o veneno que ele transmitia se espalhou por todo o sangue dela.

Enquanto a mordia e sugava toda a vida dela. Ele sentiu as mãos de Mirena apertarem sua costela, mas o toque da jovem fazia cócegas perto da dor que ele provoca nela.

Assim que afastou-se do corpo de Mirena, ele assistiu o azul das íris da jovem se apagar e algumas palavras escapar dos lábios dela.

- Eu irei amá-lo até a morte.

Fora tudo o que ela disse antes de fechar os olhos e cair no manto negro da morte que já estava a espera da doce alma de Mirena.

Naquele momento, ele percebeu que mostrar seu interior e revelar seus segredos a Mirena só saciou seu desejo por sangue. Mas ele recordou do preço que haveria de pagar se ousasse se apaixonar por alguma mulher.

- Eis o seu carma. - uma voz masculina ecoou pela caverna.

Ele olhou ao redor do local para encontrar o dono daquela voz familiar, mas não havia ninguém mais além do corpo falecido de Mirena. Não existia forma de trazê-la de volta a vida ou fazer o coração de sua amada voltar a bater.

Ele não poderia mudar o que havia feito e nem tampouco tirar a memória do olhar frio que ela lhe lançou quando estava lúcida. Mas Mirena havera dito aquela frase que soou mais como uma maldição do que uma despedida.

Como esquecê-la se não queria deixá-la ir? Ele desejava que Mirena pudesse fitá-lo com suas íris azuis do jeito apaixonado que ela fazia. Mas queria muito mais poder beijá-la sem segurar suas presas para não machucá-la.

Ele falhou em mostrar seu interior e tentar protegê-la de si mesmo. Mais que isso, queria poder trazer a vida para as veias secas do corpo de Mirena, mas a ressurreição estava fora de seu alcance.

Todo o amor, toda a generosidade, todas as coisas boa que ele conheceu era ela. Mirena se foi e levou toda a bondade, apenas restou o amor que sentiu percorrer junto com o veneno pelo seu sangue. Ele sentia-se mais morto do que já era e totalmente sozinho.

- Eu avisei o que aconteceria se voce se apaixonasse.

Mais uma vez aquela voz horripilante percorreu pelo recinto e ele conseguiu recordar de todos os momentos que passou lado de Mirena. Após colocar sua orelha sobre o peito esquerdo da jovem, não conseguia mais sentir o bater do coração dela.

Ele puxou as correntes que prendiam as mãos de Mirena fazendo-as sair de dentro da rocha e desamarrou os pés dela. Após subir na lápide, tomou o corpo morto em seus braços e afastou o uma mexa de cabelo louro que caía sobre os olhos fechados da jovem.

- Agora vocês ficará com ela por toda a eternidade. - afirmou aquela voz rouca.

- Cala a boca. - ele gritou com raiva.

Ele conseguia sentir a dor se instalar perfeitamente em seu corpo. Depois que o devaneio passou, ele percebeu o que havera feito com Mirena.

- Não, anjo. - ele sussurrou entre as lágrimas que saiam de seus olhos. - Volte para mim, querida. - implorou.

Ele agarrou o corpo morto de Mirena em seus braços e rezou para que Deus trouxesse sua amada de volta. Mas ele sabia que o Senhor não atenderia as preces da criação do demônio.

- Mirena. - ele gritou.

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