Sem Rumo Novamente

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O futuro já batia na porta de Natasha e o presente se tornou o dia que acabou. Ela caminhava pelos corredores de Soneto Lincoln com a esperança de encontrar as respostas para todas as suas perguntas.

Por que a Mirena iria se apaixonar por ele? Perguntou a si mesma ao assistir Vlad adentrando na sala dos professores e por breves segundos, ela quis invadir aquele cômodo e colocá-lo contra a parede e questionar tudo. Mas Natasha não poderia arriscar tudo o que sabia e nem tampouco a vida das pessoas que estavam envolvidas.

Quantas vezes permitiremos que eles desafiem as leis de Deus em nome de um amor que nem deveria existir? Ela recordou de um pedaço da conversa que Gordon teve com Sônia e um duvida surgiu em sua mente confusa. Natasha perguntava-se se o casal Black também conhecia Vlad e a história de seu passado.

Quando o som da sirene ecoou por todos os cômodos de Soneto Lincoln, Natasha deixou suas dúvidas de lado e movimentou-se para a sala de aula. Ela estava aliviada em saber que naquela manhã Vlad não tinha aula com sua turma e isso lhe dava um tempo a mais para criar coragem e perguntar a ele sobre Mirena ou para fugir dele.

Natasha acomodou-se na cadeira a frente de sua amiga e abaixou a cabeça para fazer algumas anotações em seu caderno. Mas uma voz a fez levantar as íris e deixá-la sem palavras.

- Bom dia, turma.

Era Vlad.

Todo o plano de manter-se longe de Vlad ao menos durante aquela manhã fora por água abaixo. Mas ela deveria ter imaginado que a qualquer momento poderia se esbarrar com ele na cantina... nos corredores... na capela. Natasha respirou fundo, engoliu um nó que estava preso em sua traqueia e voltou a abaixar sua cabeça.

No decorrer da aula, Natasha evitou olhar para ele e sempre que percebia que suas íris se encontrariam abaixava sua cabeça. Não era fácil fingir que Vlad não passava de um professor, mas ela precisava manter-se firme base de todas as informações que processava em sua mente.

Quando a sirene soou anunciando o fim da aula, os alunos recolheram suas coisas e antes que ela pudesse passar pela porta junto com a multidão, Vlad disse:

- Senhorita Black.

Natasha ficou por alguns minutos parada em frente a porta assistindo os alunos passar por ela e sentindo os olhos do vampiro preso a suas costas. Ela virou-se lentamente e observou Vlad vestido em um terno de três peças a fitando calorosamente com suas íris escuras.

- Fiz algo de errado? - ela perguntou movendo ambas mãos para trás de sua costa.

Vlad sentou-se sobre a borda da mesa e disse:

- Notei que estava distante durante a aula e...

- Acho que você entendeu errado, eu apenas estou com problemas em casa. - mentiu.

- Você quase derrubou dois colegas de classe tentando sair da sala. - ele fez uma pausa. - Está com medo de mim? - acrescentou.

Se o amor é sua coragem, vá em frente. Uma voz feminina sussurrou no fundo de sua mente como uma canção nunca cantada. Natasha não sabia mentir, e se queria respostas não poderia esconder a verdade dele. Ela avançou alguns passos e perguntou:

- Há motivos para ter medo de você?

Vlad reconheceu aquele olhar frio e desconfiado nas íris azuis dela. Ele recordou de ter visto na noite anterior a morte de Mirena.

- Não.

- Está mentindo.

Vlad observou ela caminhando em direção as janelas fechadas enquanto fixava seu olhar nele. Natasha estava diferente e ele não conseguia decifrar o que se passava ou que ocorreu para que continuasse agindo daquela forma.

- O que está acontecendo? - ele perguntou confuso.

- Você nunca sai sob a luz do sol. - ela disse abrindo as persianas de uma janela. - Por que? - questionou.

Vlad caminhou em direção ao canto sombrio da sala que e disse:

- Não posso, Natasha.

- O que?

- Não, insista. - ele fez uma pausa. - A verdade não é tão simples como os movimentos que você está fazendo. - acrescentou.

A cada respiração e cada passo de Natasha, ele recordava das palavras e votos de Mirena. Vlad acreditava que ambas estavam tão unidas quanto a certeza de que ela já sabia de alguns detalhes de seu passado.

Ela respirou fundo e disse:

- Eu quero a verdade, Vlad.

- Não irá gostar dela.

- Quem é Mirena?

Ela já sabe de algo. Ele disse para si mesmo quando decifrou aquele olhar no rosto de Natasha. Vlad avançou em direção aos feixes de luz solar que passava pelas persianas abertas e permitiu que a loura visse o que acontecia quando um vampiro saía em dias de sol.

Natasha observou a pele do vampiro queimar aos poucos e ele gemer de dor. Lágrimas transbordaram os olhos da loura e sua única reação fora empurra-lo e fechar as persianas. Vlad levantou seus olhos e a observou, ela estava em sem boquiaberta.

- Natasha.

- Seu lugar é na escuridão. - ela fez uma pausa. - Algumas pessoas não foram feitas para a luz. - acrescentou.

Vlad nunca imaginou que seria descoberto daquela maneira ou que ela teria aquele tipo de reação. Mas ele deixou Natasha passar pela porta como se estivesse levando toda a sua esperança para um lugar difícil de alcançar.

Por breves segundos, Vlad fechou os olhos e sentiu todo o passado vindo a tona junto com lágrimas e sorrisos. Mas quando ergueu suas pálpebras, uma gota de água escapou de íris emaranhadas e ele teve a certeza de que era apenas o vento do pretérito soprando contra sua mente.

Naquele momento, Natasha poderia sentir toda a raiva e mesmo que aquele sentimento fosse maior do que o passado que ainda desconhecia. Ela não sabia que Vlad estaria a observando a cada passo e cada movimento.

Você não consegue enxergar que pertence a mim. Ele disse para si mesmo enquanto sentia suas promessas se quebrar e o final épico percorrendo o mesmo curso de sempre. Era como uma reivindicação do passado e a única certeza que Vlad tinha em mente era de que em breve estaria sem rumo novamente, procurando por ela em outro corpo... outra vida... outra era...

Drácula - Soneto Da Morte Onde histórias criam vida. Descubra agora