Vida Após Vida

64 7 5
                                    

Naquela tarde, o sol já começava a esconder atrás das gigantescas colunas da capela que fora abandonada e destruída há sete anos e esquecida pelo tempo que se passou. Natasha olhou para o céu acima e assistiu as nuvens cinza se preencherem na imensidão azul. Mas rapidamente, ela voltou a observar por onde andava para não tropeçar nas vigas que foram derrubadas com os ventos do passado.

Natasha não pretendia estar naquele lugar, mas Baltazar havera prometido a loura que diria todas as coisas que aconteceu entre Mirena e Vlad. Talvez, ela não estivesse pronta para conhecer toda a verdade e precisasse de mais tempo para aceitar que o vampiro era realmente o vilão. O demonio apareceu alguns centimetros atrás da garota vestido em sua túnica preta e disse:

- Então, você veio conhecer a historia de Vlad...

- Para saber se ele é o vilão. - ela o interrompeu.

- Ele matou Mirena. - disse Baltazar aproximando-se dela. - Ainda dúvida deste fato? - acrescentou.

- Como posso saber se esta dizendo a verdade?

Baltazar assentiu.

- Eu vou dizer a verdade. - ele disse aproximando-se do ouvido dela.

Não demorou muito para a expressão no rosto de Natasha mudar e ela sentir uma enorme dor em sua barriga. A loura assistiu Baltazar afastar-se lentamente com um sorriso perverso nos lábios e ao olhar para baixo notou que ele havera enfiado uma estaca em seu abdômen.

- Ele não pôde traze-la de volta a vida.

Natasha caiu de joelhos no chão e em seguida deitou seu corpo pesado sobre o solo frio. Ela olhou para cima e sentiu o vento frio aninhar-se a sua pele. As sombras do passado se fizeram presentes a cada suspiro de vida que a deixava e o ar umido trouxe consigo as mãos que a levariam de volta ao mundo dos mortos.

Natasha nunca havera conhecido a morte, não nesta vida. Mas ela conseguia escutar o bater de asas que parecia ecoar todo o seu cérebro, enquanto uma dor sinuosa trazia consigo os vestígios da morte. Era como se fosse o fim do começo de uma historia que nunca seria contada e ainda assim alguns fragmentos do passado se moldavam revelando frases de um verso onde continha beijos emersos de um capitulo perverso.

Um nevoeiro negro repleto de sussurros imortais se fez presente no altar destruído e logo a fisionomia dele se instalou na capela. Vlad desceu os degraus quebrados e aproximou-se do corpo de Natasha caído no chão. Ele ajoelhou-se ao lado da loura e observou ela tentando respirar enquanto seu corpo se desligava.

- Natasha.  - ele sussurrou entre lagrimas.

Lágrimas escorriam pelo rosto de Vlad enquanto suas íris a observavam caída no chão. Ele ajoelhou-se ao lado do corpo da loura e percebeu que a vida já estava se esvaindo do corpo de Natasha. Em seus últimos momentos de lucidez, ela segurou a mão do vampiro e disse:

- É minha culpa.

- O meu único erro fora ter feito aquele acordo com Baltazar. - ele sussurrou acariciando o cabelo louro dela.

Ele tentou afastar-se de Natasha para protege-la de todo o mal  que poderia atingi-la nesta nova vida. Mas os vestigios de Mirena habitavam nela e era impossivel que a maldição se tornasse nula. Encontrar-se com Baltazar fora uma má escolha, e talvez, ela não fora feita para viver o amor nesta encarnação.

Novamente a alma de Mirena caiu errado ao se apaixonar por ele mais uma vez, mas ela fora marcada desde a primeira vida e escolhida pela luz do dia e sombras da noite. Vlad afogou-se naquele par de iris quase sem vida e percebeu que havera caído junto com ela nas profundezas de um amor que foram invejado pelo próprio demônio.

- Não, Vlad. - ela fez uma pausa. - Você me deu a oportunidade de reencarnar mais uma vez. - acrescentou.

Naquele momento, ele recordou de quando Natasha disse que ela e Mirena eram pessoas totalmente diferentes.

- Mas você...

- Eu sou uma nova Mirena. - ela o interrompeu. - E nós iremos nos reencontrar novamente. - concluiu.

- Eu estou cansado de vê-la partindo.

- Ninguém pode ser perfeito. - ela fez uma pausa. - E eu nunca quis cair tão fundo desde que o encontrei. - acrescentou.

Vlad não queria acreditar que ela estava morrendo em seus braços novamente, porque somente desta vez, ele desejava que fosse diferente. Mas não havia promessa que pudesse remediar as escolhas feitas no passado e foram as mesmas que o fizeram ser quem era.

- Quando você se for... - ele sussurrou em soluços do choro. - Eu estarei perdido novamente. - concluiu.

- Morda. - ela disse levando o seu pulso para perto dele.

- Natasha?

Com um beijo Vlad conseguiu reconhecer a alma dela. Mas ele não tem o poder da ressurreição e não poderia salva-la. Não tinha capacidade parar a morte que se aproximava do corpo de Natasha e ela se entregava perfeitamente aos braços inviseveis dela.

Vlad estava totalmente incrédulo do que ela dizia e não acreditava que teria coragem de fazê-lo. Natasha não merecia passar por aquela dor, mas ele não sabia que a verdadeira intenção era que o vampiro e Mirena pudessem se reencontrar.

- Só assim poderá viver esse amor novamente.

Vlad segurou o dorso da mão da loura e deslizou levemente por poucos centímetros. Ele aproximou o pulso de Natasha até seus lábios e cravou os dentes na pele dela.

Uma lágrima escapou dos olhos da loura enquanto Vlad sugava o sangue que restava nas veias dela.

Olá, velha amiga. Desta vez, eu não vim para conversar. Sussurrou uma voz feminina na cabeça de Natasha enquanto mansamente surgiu a visão de uma mulher loira de olhos azuis. Mas ela reconheceu aquela voz, era a mesma que a atormentava em seus sonhos diurnos e pesadelos noturnos.

Antes que toda aquela luz cinza e neblina cessasse diante de seus olhos, Natasha ruas estreitas em formato de paralelepípedos, sob a luz de um poste de rua havia uma jovem loira segurando um guarda-chuva para se proteger da água que caía sobre a cidade.

O veneno se espalhou tão rápido pelo corpo de Natasha como uma bala e quando ele voltou a fita-lá, a vida havera esvanecido junto com o sol.

Lá estava ele novamente, debruçado sobre o corpo dela. Havia algo doce sobre a morte, mas naquele momento de dor, Vlad não era sequer capaz de decifrar o quão doentio era viver procurando algo que sabia que iria perder.

Ele abraçou o corpo de Natasha e chorou enquanto não reconhecia mais o pulsar do coração partido dela. A partir daquele instante, Vlad iria percorrer o mundo todo à procura da alma congelada de Mirena para sentir-se vivo novamente.

- Eu a amarei vida após vida. - ele sussurrou com os lábios próximos ao ouvido dela.

Um dia eles se reencontrarão novamente. No mesmo lugar... no mesmo pôr-do-sol... com os mesmos corações partidos... e almas congeladas. Farão escolhas que pode mudar todo o percurso da maldição ou irão permitir que o amor mostre novas vidas? Ambos estarão ligados um ao outro para sempre.

A historia nunca terminou. O passado foi só o começo de uma nova era!

Drácula - Soneto Da Morte Onde histórias criam vida. Descubra agora