Ecos do Amor

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Entre milhões de palavras e diversas memórias antigas Vlad continuava caminhando de um lado para o outro. A visita do monge o deixou pensativo e tudo o que ele queria entender era como o destino de Natasha poderia mudar. Ela já conhecia o final e no fundo, o vampiro queria salvá-la do que todos já previam.

Volte ao dia em que conheceu Mirena, antes do primeiro toque. Ele recordou das palavras do monge e por muito quis retroceder o tempo. Vlad jamais teria ousado em tocá-la ou ter feito aquele acordo com o demônio.

Ao passar pelos umbrais dos portões de Soneto Lincoln, Vlad arrumou seu sobretudo de cor preto e caminhou em direção à escola. A cada passo que avançava sobre o corredor de chão opaco ele tinha a convicção de que concertaria as coisas como aquelas cenas de finais felizes dos cinemas.

Não era seu dia de apresentar sua aula para a turma de Natasha e ao adentrar na sala, ele avistou Emily falando sobre a revoltas dos franceses. Todos pararam olhá-lo e Vlad percorreu seus olhos pela sala, mas não avistou sinal alguma dela.

- Posso ajudá-lo, Vlad? - perguntou Emily caminhando na direção dele.

- A senhorita se Black se encontra... - ele olhou por toda a sala procurando vestígios dela.

- A senhorita Black não veio a aula, senhor Vlad. - respondeu Emily. - Qual é o seu súbito interesse nela? - perguntou.

- Ela tem que entregas alguns trabalhos pendentes.

Emily não disse nada, apenas assentiu com a cabeça.

Vlad saiu da sala e começou a caminhar pelo corredor vazio e de chão lineoleo. Mas parou ao escutar passos vindo atrás de suas costas, ele virou-se com um sorriso no rosto e com a esperança de que fosse Natasha. Em vez disto, seus olhos escuros se depararam com os cabelos negro e bagunçados de Julie que se aproximava dele.

- Não irá encontrá-la aqui.

- Do que está falando, Julie?

- A Naty viajou com a família.

Fora tudo o que ela disse antes de voltar o percurso que havera feito para falar Vlad. Ao menos ela está a salvo. Pensou ele enquanto caminhava em direção a saída da escola.

Então, dias, semanas e meses se passaram e Natasha não retrocedia de sua viagem em família e todo aquele mistério estava o matando por dentro. Vlad permanecia acordado em pesadelo que não o deixava com a mente em paz. Ele sempre segurava o travesseiro contra seu rosto para sentir o cheiro dela.

Cada vez que Vlad fechava seus os olhos, conseguia ver nitidamente o rosto dela como uma luz em quarto escuro. Em alguns momentos pareciam tão real que ele podia jurar que escutava os batimentos cardíacos de Natasha, mas só queria saber em que canto deste imenso mundo ela havera se escondido.

Há uma hora de trem do coração de Londres, em uma cidade medieval que parecia ter sido tirada de uma pintura, se localizava Canterbury. Em uma casa no centro da floresta onde a construção da residência fora feita há séculos passados, Natasha se encontrava gritando com a dor, enquanto uma senhora desconhecida tentava retirar a criança.

No instante em que a parteira entregou o bebê a Natasha, as íris azuis da jovem radiaram com aquele par de olhos da mesma cor que os dela. Aquele momento era único e ela gravou como uma perfeita memoria que jamais poderia ser pendurada na parede ou colocada em um porta-retrato.

- Você se chamará Fleur.

Enquanto acariciava o cabelo loiro de sua filha e assistia ela adormecer em seus braços, Natasha começou a cantar tão baio quanto uma prece aos anjos.

- And if I really listen, I hear you in the distance. (E se eu ouvir com atenção, eu posso te ouvir à distância).

Natasha não se incomodou com a presença da parteira e havera esquecido que seus pais adotivos permaneciam na sala. Eles não estavam felizes com o nascimento daquela criança, mas ela não se importava com o que pensavam. Porque a serenidade de Fleur a fez desmoronar de imensa alegria e transbordar de amor.

Não demorou muito para Natasha adormecer com o pensamento de dizer a Vlad sobre o nascimento de Fleur e mesmo que a certeza de saber o que ele era não mudava o fato da paternidade ou de ainda estar perdidamente apaixonada pelo vampiro.

Na manhã seguinte, Natasha abriu os olhos e estudou todo o quarto para encontrar sua filha que na noite anterior estava ao seu lado, mas não havia vestígio dela. Ela começou a gritar desesperadamente, e não demorou muito para Sônia adentrar no recinto acompanhada de Gordon.

- Você precisa se acalmar, Natasha. - disse Sônia a observando em lagrimas.

- Onde esta a minha filha? - gritou a loira.

Sônia não disse nada, apenas abaixou a cabeça.

- Responde. - Natasha gritou novamente.

- Ela faleceu. - respondeu Gordon.

- É mentira.

- A parteira disse que ela estava com...

- Eu não quero ouvir a mentira que vocês têm a contar. - ela fez uma pausa.  Eu quero a minha Fleur. - acrescentou.

Quando a tarde chegou junto com uma enorme tempestade que caiu sobre Canterbury, eles levaram Natasha a um tumulo feito no quintal e desenterraram o bebê que fora envolvido por um lençol na cor branco. Ela não tinha nada a dizer, não queria escutar as lamentações de seus familiares.

O céu cinza chorou junto com Natasha, apenas a chuva forte calava o silencio e a fazia sentir como se estivesse quase no declínio de sua vida. Ela fora quebrada como vidro, rasgada como papel e sentia como se não houvesse restado mais nada além da dor. Porque só havera restado ecos do amor da noite passada e naquele momento parecia estar desaparecendo como notas de uma canção que chegava ao fim.

Não havia força na terra que faria Natasha sentir-se bem e o luto a fez cair de joelhos sobre a grama molhada pela água da chuva. Ela não sabia como seguir em frente, porque a desilusão havera caído sobre sua cabeça tão forte e tão mortal quanto o veneno que se espalhou pelo seu corpo no instante que seus lábios encontraram a boca de Vlad. Mesmo que toda aquela situação machucasse e continuasse a consumindo por dentro, ele precisava saber que em menos de vinte e quatro horas teve uma filha.

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