Assombrado Pelo Fantasma

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Outra manha cinza repleta de raios cortando o céu silenciosamente enquanto frio se instalava por cada canto da Transilvânia e o vento chicoteava os galhos espalhando as folhas pelo jardim de Soneto Lincoln. Os alunos que chegavam à escola adentravam logo dentro do instituto para se proteger da chuva que cairia em seguida.

Natasha estava na capela iluminada pelas velas acesas e espalhadas pelo recinto. Ela continuou intacta, olhando para a imagem de Jesus na cruz e não moveu um músculo, apenas observou de canto de olho quando alguém sentou-se ao seu lado.

- As vezes pergunto-me por que Deus permite que sintamos dor?

- Questiona pelo seus pais ou por ter conhecido ele?

Natasha virou o rosto para o lado e observou o monge totalmente incrédula. Ele estava olhando fixamente para frente e sem mexer-se, disse:

- Eu também estou vivendo há milhares de séculos.

- Vai me culpar também?

- Não. - respondeu. - Não vai ser a primeira vez que vejo uma garota virar um fantasma. - concluiu.

Nossa. Pensou Natasha enquanto abaixa a cabeça e amaldiçoando a si mesma por ter se apaixonado pelo vampiro. Na verdade, sentia-se culpado por Mirena ter reencarnado no seu corpo e por tudo o que estava passando.

- Não vai adiantar culpar a Mirena. - ele fez uma pausa. - O amor continuou crescendo durante todos esses anos e todos nós estamos amaldiçoados cada vez que você vai embora. - acrescentou.

- Você conversou com ela? - perguntou curiosa.

- Não. - respondeu. - Está é a primeira vez. - disse o monge estendendo a mão para Natasha.

Ela segurou a mão dele.

- Cassius Wars.

- Natasha. - ela disse esboçando um sorriso. - Ou Mirena, se preferir. - brincou.

- Não importa o que aconteça e mude seu destino. - ele disse levantando-se do banco. - Um dia você irá escutar um sussurro familiar e irá rezar para que seja a Mirena quando se virar para ver quem está atrás. - concluiu.

- Eu escuto uma voz feminina e tenho pesadelos com ela todas as noites. - ela fez uma pausa. - E agora essa criança pode mudar alguma coisa? - acrescentou.

O monge assistiu ela colocando uma mão sobre a barriga e as íris azuis ficando emaranhadas. Ele voltou a sentar-se ao lado de Natasha e disse:

- Os reflexos nunca mudaram quando o adeus se aproximava.

- E como vai terminar?

- Apenas você e ele poderão definir o adeus.

Depois que o monge saiu da capela Natasha teve certeza de que tudo já estava quebrado e apenas não tinha enxergado o que o vento nunca levou. Ela conseguia ver claramente as cinzas caindo como a neve que se intensificava na véspera de Natal e apagar um momento com ele não mudaria o resultado que todos já haveram lhe contado.

Ela levantou do banco para adentrar na escola, ao passar pelos umbrais da capela observou Vlad caminhando sobre a passarela e em sua direção. Natasha assistiu ele parar e fita-lá como a primeira vez que a beijou em frente a floricultura.

Ao perceber que Vlad estava abrindo a boca para dizer algo, ela disse:

- Eu já sei como a história termina.

Fora tudo o que Natasha disse antes de passar por ele com o vento frio e não podia impedi-la. Vlad pensou que não seria bom para ela olhá-lo por obrigação durante a aula, então caminhou para fora de Soneto Lincoln.

Drácula - Soneto Da Morte Onde histórias criam vida. Descubra agora