Chapter Two

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Acordei, assustada, e demorei alguns minutos para lembrar onde estava: presa em uma biblioteca. O livro que tinha escolhido para ler descansava aberto em meu colo, e minha cabeça havia caído sobre o braço da cadeira. O pescoço doeu quando sentei direito. Massageei o nó que tinha se formado ali. O relógio na parede sobre o balcão da recepção marcava 2h15.

Por que ninguém se preocupou comigo? Ou me procurou? Talvez estivessem procurando. Nos lugares errados. Todo mundo achava que eu tinha ido para a fogueira? Que tinha decidido voltar para casa de lá?

Meus pais me matariam. Nunca era fácil convencê-los a me deixar passar o fim de semana na cabana com as meninas. Eu tinha que negociar muito. Minha mãe era advogada, especialista em me fazer ver as coisas do jeito dela, por isso eu sempre falava primeiro com meu pai. Além do mais, ele trabalhava em casa ("Criando o lema ou o jingle perfeito para a sua empresa." Palavras dele, não minhas.). Portanto, era ele quem estava sempre disponível para ouvir meus pedidos. Quando ele ficava do meu lado, normalmente conseguíamos convencer minha mãe. A negociação aconteceu mais ou menos assim:

— Pai, posso ir para a cabana da Sabina no fim de semana? — Ele virou a cadeira para me olhar.

— O que acha que fica melhor? "Tommy's, porque todo dia é dia de donut." —

— Ahh. Todo dia é dia de donut. Eu ainda não comi o meu hoje.—

Ele levantou o dedo.

— Ou "Tommy's, eles são quentes e gostosos".

— Quem é quente e gostoso? Parece que está falando de uma casa cheia de universitários ou alguma coisa assim.

— Tem razão. Eu preciso da palavra donuts aqui, não é? — Ele virou a cadeira e digitou alguma coisa no computador.

— E aí? Posso ir no fim de semana?

— Para onde?

— Para a cabana da Sabina.

— Não.

Eu o abracei e apoiei a cabeça em seu ombro.

— Por favor. Os pais dela também vão, e eu já fui para a cabana outras vezes.

— Um fim de semana inteiro é tempo demais. —

Sorri para ele com minha melhor cara de súplica.

— Eu vou ficar bem. Prometo. E no outro fim de semana nem vou sair, vou ficar e ajudar com as tarefas de casa.

Dava para ver que ele estava amolecendo, mas ainda não tinha se convencido.

— E vou sair com o Lamar na próxima vez que ele estiver na cidade.

— Você gosta de sair com seu irmão, Any. — Dei risada

— Ah, eu gosto?

— A firma da sua mãe vai organizar um jantar de negócios daqui a duas semanas. Se pode passar um fim de semana na cabana, também pode lidar com isso.

Nada poderia ser pior que lidar com um jantar de negócios. Mas esse é o significado de fazer acordos: abrir mão de alguma coisa por outra que você quer mais

— Tudo bem.

— Então está certo — ele respondeu

— Posso ir?

— Vou ter que falar com sua mãe, mas tenho certeza que ela vai concordar. Se cuida. E leva o celular. As regras para o fim de semana são: não beber, não usar drogas e ligar para nós todas as noites.

Beijei o rosto dele.

— As duas primeiras podem ser complicadas, mas a terceira é fácil.

— Engraçadinha.


Ligar para eles todas as noites. Hoje eu não tinha telefonado. E não ligaria amanhã. Isso os colocaria em modo parental total. Meu pai ligaria para os meus amigos. Se eles ainda não tinham entendido por que eu não estava lá, entenderiam que, em algum trecho do caminho, eu tinha sido deixada para trás. Alguém somaria dois e dois. É claro, meus pais nunca mais me deixariam sair de casa depois disso, mas, pelo menos, alguém me encontraria.

Minha cabeça doía, e fui até o bebedouro do lado de fora do banheiro. No mínimo, lá teria água. E mais nada. Mais nada. Balancei a cabeça. Esses pensamentos eram errados. Alguém logo me encontraria. Se não essa noite, amanhã cedo, quando abrissem a biblioteca. Eu não conseguia lembrar o horário de funcionamento aos sábados. Abria às dez? Só mais oito horas. Fácil.

Estava ficando mais frio no prédio. Encontrei uma caixa de termostato na parede, mas estava trancada. Esse lugar parecia ter medidas de segurança bem caprichadas.

Ouvi uma batida cadenciada ao longe. Havia música em algum lugar. Corri para a porta da frente e vi um grupo de pessoas passando pela calçada, rindo. Eles tinham um celular, um iPod ou alguma coisa que brilhava no escuro e tocava música alta o suficiente para eu ouvir. Bati no vidro e gritei. Ninguém virou ou parou. Nenhum deles olhou em volta como se tivesse escutado algum ruído. Bati de novo e gritei mais alto. Nada.

— Ouvir música em volume muito alto prejudica a audição — falei, apoiando a testa no vidro. Foi quando vi um papel branco preso à parte inferior da porta. Peguei o papel e li o que estava escrito nele: "Esta biblioteca estará fechada de 14 de janeiro, sábado, a 16 de janeiro, segunda-feira, em cumprimento ao feriado do Dia de Martin Luther King Jr.".

Fechada o fim de semana inteiro? Os três dias? Eu ficaria presa aqui por mais três dias? Não. Eu não ia aguentar. Não poderia passar três dias sozinha em um prédio enorme. Isso era meu pior pesadelo.

Meu coração agora batia tão depressa que parecia que meu peito ia arrebentar. Os pulmões travaram com a falta de ar. Puxei as correntes que envolviam as maçanetas da porta da frente com toda a força.

— Quero sair, me deixa sair.

Uma voz dentro de mim dizia para eu me acalmar e não piorar a situação. Ia ficar tudo bem. Eu estava presa em uma biblioteca, sozinha, mas estava segura. Podia ler, correr na escada e me distrair. Havia muitas distrações por aqui.

Mais tranquila, ouvi alguma coisa atrás de mim. Passos no assoalho de madeira.

Virei e colei as costas à porta. Foi quando vi uma sombra na escada e um objeto de metal brilhando em sua mão direita. Uma faca. Eu não estava sozinha, afinal. Definitivamente, eu não estava sozinha.

Ao Seu Lado {Adaptação Beauany}Onde histórias criam vida. Descubra agora