Acordei com um ruído que não consegui identificar. Uma espécie de estalo. Levei alguns minutos bem desorientadores para perceber que era Josh, a uns cinco metros de mim, tremendo enquanto dormia. Ele se controlava enquanto estava acordado para eu não perceber? Tentei ignorar, sabendo que ele não gostaria que eu fizesse nada, mas me senti culpada. Eu usava exatamente o que ele havia trazido para se manter aquecido. Abri o zíper do saco de dormir, saí de dentro dele e engatinhei para perto de Josh arrastando o saco comigo.
Ao lado dele, usei metade do saco de dormir para cobri-lo e me cobri com a outra metade. Ele acordou imediatamente. Ou talvez nem estivesse dormindo.
— Estou bem — resmungou.
— Acho que você adotou essa frase como mantra. Usa a metade.
— Não preciso.
— Cala a boca e pega.
Sem mais palavras, finalmente parou de resistir. Estava com frio. Mesmo sem me tocar, a temperatura embaixo do saco de dormir caiu marcadamente com sua presença gelada. Josh riu baixinho.
— Já tinha mandado alguém calar a boca?
— Não. Você arranca isso de mim.
— Como foi a sensação?
— Boa, na verdade. — Ele riu de novo e chegou um pouco mais perto, sabendo que o calor do meu corpo o aqueceria mais rápido.
Ficamos quietos por alguns instantes, só respirando. Respiração que eu podia ver como uma névoa sobre nós, deitados ali de costas. Estávamos na biblioteca havia dois dias inteiros, e, embora eu sentisse como se tivéssemos uma espécie de pacto, eu me perguntava se ele reconheceria minha existência fora dessa situação.
— Já somos amigos?
— Não tenho amigos. — Assenti, ainda que tivesse certeza de que ele não podia me ver. — Mas... você é menos irritante do que eu imaginava.
— Obrigada. — Provavelmente isso era o mais perto que ele chegaria de um elogio, mas eu ainda me sentia ofendida. Não queria que ele soubesse, por isso acrescentei: — E você me imaginava com frequência?
Era uma brincadeira, mas o jeito como ele ficou tenso ao meu lado me fez pensar que podia ter alguma verdade nisso.
— Sim, o tempo todo.
— Eu sabia — falei, fingindo não perceber a ironia.
— É difícil pensar que alguém pode não gostar de você?
— Na verdade, é.
— Por que se importa tanto com o que os outros pensam?
Pensei na pergunta. Por que eu me importava? Porque eu gostava quando as pessoas ficavam felizes. E por que eu não gostava de pensar que alguém podia não gostar de mim?
— Não sei. — Respirei fundo. — Agora que você parou de bater os dentes, vou dormir.
— Eu não estava batendo os dentes.
— Estava, sim. Parece que tem sentimentos, apesar do esforço que faz para negar. — Ele não respondeu, só disse:
— Boa noite.
— Boa noite.
Cheguei um pouco mais perto, porque seu corpo ainda estava frio, e tentei dormir. Minha cabeça não parava. Passaram-se cinco minutos, depois dez. O segundo ponteiro do relógio de parede parecia uma batida de tambor. Queria não me importar com o que as pessoas pensavam sobre mim.
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Ao Seu Lado {Adaptação Beauany}
RomanceO que fazer quando você se apaixona pela pessoa que menos esperaria? Depois de se ver trancada acidentalmente na biblioteca pelo fim de semana inteiro, Any Gabrielly não acha que as coisas podem piorar. Mas ela percebe que não está sozinha. Josh Bea...