Na segunda-feira, quando peguei o Hamlet de cima do meu criado-mudo, pensei pela milésima vez em como seria o dia de hoje. O espelho de corpo inteiro atrás da porta do quarto mostrava como eu estava nervosa com o que faria em breve. Devolveria o livro a Josh sem a carta dentro dele. Seria assim que eu começaria a conversa. Talvez o levasse à estufa outra vez. Quem ia ligar se perdêssemos a primeira aula? Íamos conversar sobre a carta. Depois eu diria que gostava dele.
Endireitei o suéter verde, um dos meus preferidos, e ajeitei uma das minhas ondas soltas. Sim, hoje tinha caprichado mais no visual. Não tinha nada de errado em tentar distrair o cara enquanto dava uma notícia chocante.
Mas Josh não estava perto dos ônibus, onde eu normalmente o via de manhã. Olhei os corredores da escola e também não o encontrei. Virei uma esquina, pensando em ir dar uma olhada na sala onde ele teria a primeira aula, e dei de cara com Bailey.
— Any — ele falou, sério.
— Sim, Bailey?
— Hoje é o seu dia de ir ao hospital. Ainda pretende ir, não é?
— Na verdade, hoje vai ser complicado. Sabe se alguém quer trocar?
— Sério? Está saindo com alguém? — Ele me olhou com a mesma cara arrogante que fez no hospital, quando me viu com Josh.
— Não, é que... — Era exatamente isso que eu planejava fazer. — Deixa para lá, eu vou. — Precisava conversar com o Noah também. Podia falar com ele primeiro.
— Não, se é boa demais para ter um dia determinado de visita, posso colocar alguém no seu lugar.
— Bailey. Para com isso, tudo bem? Eu vou.
Ele levantou as mãos num gesto de rendição.
— Que bom. Porque, apesar de tudo, o Noah parece que gosta de você.
— Você é bem babaca, sabia?
— Só quando acho que alguém está sacaneando o meu amigo.
Eu queria discutir, mas estava me preparando para sacanear o amigo dele, e isso me contorceu de culpa. Precisei lembrar que tinha de viver a minha vida, não a de outra pessoa. Conversaria com Noah hoje.
Noah e os pais jogavam um jogo de tabuleiro quando entrei no quarto. Pela cara dele, percebi que Noah só estava jogando para agradar aos dois. A bandeja suspensa sobre a cama era pequena demais para o Jogo da Vida, mas eles se ajeitavam como podiam.
— Any! — Noah falou, e o carrinho com a pessoinha de pino caiu no colo dele.
— Oi.
— Vem jogar com a gente. — Ele colocou no tabuleiro um carrinho verde com um pino cor-de-rosa. Puxei uma cadeira, e o pai dele me deu um maço de notas falsas e um cartão de profissão. "Professora", dizia. Quarenta e sete mil dólares de salário. A estrutura do jogo acalmava um pouco meu nervosismo, e em pouco tempo eu estava rindo com Noah.
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Ao Seu Lado {Adaptação Beauany}
RomanceO que fazer quando você se apaixona pela pessoa que menos esperaria? Depois de se ver trancada acidentalmente na biblioteca pelo fim de semana inteiro, Any Gabrielly não acha que as coisas podem piorar. Mas ela percebe que não está sozinha. Josh Bea...