Quando cheguei, Josh estava na frente da televisão, comendo o restante de sua barrinha. O saco de dormir estava em cima do sofá, onde o deixei. Sentei na outra extremidade e me cobri com ele. Levantei uma ponta.
— Quer dividir?
— Não estou com frio.
Minha barrinha continuava em cima da mesa de centro, e, apesar de não sentir o estômago reclamando muito, eu a peguei e comecei a comer. Era idiotice usar comida como distração aqui. Não podia me dar esse luxo, mas continuei comendo mesmo assim.
— Posso contar nos dedos de uma mão quantas barrinhas de amendoim eu provei em toda a minha vida, mas nesse momento essa é a melhor que eu já comi.
— É.
— Você sempre come isso?
— Não.
— De que barrinha gosta mais?
— Acha que só porque jogamos baralho agora somos amigos? — Senti todo o ar sair do meu corpo e abrir espaço para a raiva.
— Não. Só queria passar o tempo. — Provavelmente ele queria que eu saísse dali, mas, como era um babaca, eu ia ficar. Apoiei a cabeça no braço do sofá e olhei para a televisão. Estava passando um jogo de basquete. Não pensei que ele fosse fã de basquete. Na verdade, antes desse fim de semana, nunca pensei que ele fosse mais que um encrenqueiro. E até agora ele só confirmava essa impressão. Puxei o saco de dormir sobre o ombro.
Se Sabina estivesse aqui, estaríamos encolhidas juntas, falando sobre os últimos garotos de quem estávamos a fim. No sábado anterior, ficamos no sofá da sala na casa dela, conversando enquanto víamos um filme.
— Quando vai contar para o Noah que gosta dele? — ela havia perguntado.
Sabina era a única do grupo de amigas para quem eu tinha falado sobre Noah. Não por não confiar nas outras. Eu só passava mais tempo com ela fora do colégio, por isso conversávamos mais.
— Não sei. Acho difícil me abrir com ele. Cada vez que começo, fico nervosa.
— Não tem motivo para você ficar nervosa. Ele gosta de você.
— Ele parece gostar de todo mundo.
— Mas gosta mais de você. Todo mundo já viu.
— Então por que ele não me convidou para sair? — Ela afagou minha mão.
— Acho que os garotos são tão inseguros quanto as garotas. Você está passando uma mensagem confusa para ele.
— Estou?
— Sim, você mostra interesse, mas recua quando ele corresponde.
— É verdade. Começo a pensar demais. Penso demais em tudo.
— Bom, então para. Vocês dois são uma graça juntos. E, se não contar para ele e para todo mundo logo, a Shivani vai chegar nele primeiro.
— Quê? A Shivani gosta do Noah?
— Não sei, mas às vezes acho que sim. Vai pegar o que é seu — ela concluiu, depois riu muito. Eu também ri.
Voltei ao presente com um sorriso no rosto. Sentia falta de Sabina. Parecia bobagem, porque a tinha visto no dia anterior, mas devíamos estar passando o fim de semana juntas. Eu tinha esperado muito por isso.
Olhei para a embalagem vazia em minha mão. Tinha comido o restante da barrinha. A embalagem vazia da barra de Josh também estava em cima da mesa. Calculei mentalmente o que ainda tínhamos de comida. Não havia se multiplicado, mas ficaríamos bem. As pessoas sobreviviam na natureza por mais tempo e com menos do que isso. Por que pensar nesse assunto fez meu coração bater mais rápido? Por que minha respiração de repente ficou mais acelerada? Não, eu não ia surtar por causa disso.
Às vezes a ansiedade me pegava de surpresa, quando eu não estava esperando. Quando não parecia lógico. Quando eu achava que tinha feito um trabalho perfeito, esclarecendo para mim mesma um gatilho. É como se meu coração não ouvisse. Eu sabia que toda essa situação era opressora e que meu corpo estava decidindo entrar no jogo, mas eu não queria que fosse aqui, na frente dele. Ele já me julgava o suficiente.
Levantei, tentando controlar a respiração, e saí da sala. Esse lugar me fazia sentir presa. Eu precisava de um pouco de ar fresco. Devia ter uma janela que eu pudesse abrir em algum lugar do prédio. Minha cabeça girava enquanto eu me lembrava de ter tentado abrir todas aquelas janelas na noite anterior. Fui até a escada, subi de andar em andar procurando uma que eu não tivesse tentado abrir. Cheguei, ofegante, ao fim da escada, no quarto andar. Era um espaço destinado ao estoque. Uma sala com caixas e mais caixas de coisas, decorações antigas, pedaços de tecido, toalhas de mesa. Havia muita coisa lá. Um labirinto de coisas me prendendo.
A sensação que eu tinha era de que meu coração ia saltar do peito. Eu me recostei à parede mais próxima. Para para para para para, disse a mim mesma. Meus olhos se encheram de lágrimas; meus ouvidos ensurdeceram, a pulsação martelando dentro deles. Eu estava surtando com a possibilidade de surtar, e isso nunca ajudava
— Tudo bem surtar — falei baixinho, sem convicção.
Vi uma porta do outro lado, uma porta branca sem identificação, com uma barra de metal no centro. Uma porta que eu não tinha tentado abrir antes.
Tropecei em meus pés enquanto quase corria para ir empurrá-la. A porta se abriu para uma escada circular de metal. Cada degrau estalava, e a escada parecia estar muito perto de desmoronar com meu peso. Eu me segurei com força ao corrimão empoeirado e subi até o topo. Outra porta esperava por mim lá em cima, e uma pavorosa coruja de madeira no fim do corrimão guardava a porta. Eu a puxei e quase pisei no telhado, mas me contive antes de sair. O telhado era inclinado e não seria seguro nem sem a camada de neve, mas um sopro de ar frio me atingiu no rosto, secando imediatamente o suor que o cobria. Inspirei o ar gelado sucessivas vezes, esfriando meu corpo por dentro também.
Meu coração se acalmou, a respiração recuperou o ritmo. Como as pernas ainda tremiam, sentei no topo daquela escada estreita e olhei para fora, para o telhado branco de neve. Era razoável pensar que poderia passar o resto do fim de semana sentada lá em cima? O céu estava escurecendo e logo as estrelas apareceriam.
Pensei como era deitar na minha cama, como as estrelas brilhavam no teto quando estava escuro. Eu estaria lá em dois dias, talvez até antes. Pensei nas coisas que me ajudavam a relaxar, minha mãe escovando meu cabelo, meu pai cantarolando enquanto preparava ovos no fogão, meu irmão mais velho me levando de carro para comprar sorvete quando voltava para casa nos fins de semana. O resto do corpo se acalmou com esses pensamentos.
Enxuguei os olhos. Às vezes eles lacrimejavam em episódios como esse. Era irritante. Não que isso acontecesse com muita frequência. Só de vez em quando, quando coisas ou eventos inesperados me dominavam. Essa situação parecia ser um gatilho para mim. Não me surpreendia, considerando como as últimas vinte e quatro horas haviam sido incomuns. Eu voltaria ao normal assim que isso acabasse, dizia a mim mesma sem cessar. Só precisava aguentar mais um pouco. Inclinei o corpo para trás e me apoiei nas mãos.
— Por que não consigo controlar melhor minha mente? — resmunguei, olhando para o teto. Não, não era o teto. Percebi que estava olhando para a parte de baixo de um sino, e havia uma corda pendurada nele. Eu estava em uma torre. Claro. Eu tinha visto essa torre muitas vezes lá de fora, só não tinha pensado nela ali dentro. Eu estava sentada em uma torre, embaixo de um sino que nunca tocava.
Dei um pulo para levantar, segurei a corda e puxei. Alguém notaria um sino que nunca tocava. Alguém tinha que notar.
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Ao Seu Lado {Adaptação Beauany}
RomanceO que fazer quando você se apaixona pela pessoa que menos esperaria? Depois de se ver trancada acidentalmente na biblioteca pelo fim de semana inteiro, Any Gabrielly não acha que as coisas podem piorar. Mas ela percebe que não está sozinha. Josh Bea...