Chapter Thirty

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Eu tinha tentado justificar a ida para casa na hora do almoço como uma fuga para não ter que encontrar meus amigos, mas isso só faria a afirmação de Bailey a meu respeito parecer verdadeira. Segurei o saquinho de papel pardo e entrei no refeitório. O que me atingiu primeiro foi o barulho, depois os diversos cheiros de comida — hoje os mais fortes eram de alho e espaguete. Mantive o foco e caminhei para nossa mesa.


Sabina sorriu e escorregou no banco para abrir espaço para mim. Só quando já estava sentada e notei os outros rostos sorridentes, percebi que Bailey não estava lá. Olhei em volta e não o vi no refeitório.


— Cadê o Bailey? — perguntei a Sabina.


— Não sei.


Agora era ele quem estava fugindo, então? Pigarreei.


— Lamento ter sido a única que conseguiu ver o Noah ontem à noite — falei para todos à mesa.


Shivani tocou meu braço.


— Tudo bem. É você quem pode fazer a diferença. Vocês se gostam. Ouvi dizer que as emoções têm um papel importante na recuperação da saúde.


Os outros concordaram, recitando versões variadas de como também não estavam bravos comigo.


— Any, a milagreira — Sabina resmungou ao meu lado com um sorriso.


Eu não sabia se ela estava falando sobre Noah ou sobre resolver a situação com meus amigos. Mas a resposta era a mesma para as duas alternativas.


— Ainda tenho muito o que fazer.


Sabina pegou um Oreo e me ofereceu, depois, como se soubesse que eu me referia a Bailey, disse:


— O Bailey é um idiota.


Sorri e dei uma mordida no biscoito, feliz por saber que ela estava do meu lado. Se é que havia lados. Não havia. Eu daria um jeito nisso.




— Ele saiu da UTI? — Abracei a sra. Urrea. Não dava para acreditar na alegria que eu sentia por estar em uma ala diferente. Com cadeiras diferentes e outra televisão no canto.


— Saiu. — Ela estava eufórica.


— Já avisou o Bailey? — Recebi a mensagem depois das aulas e esperei uma hora para vir, porque queria que ele chegasse antes de mim.


— Avisei, mas acho que ele tem treino de beisebol ou alguma outra coisa.


— Ah, entendi. — Mentira. Os treinos já estavam começando? Ainda era cedo para isso. Devia ser pré-temporada. — O Noah já está falando?


— Ele está mais consciente, mas ainda passa a maior parte do tempo dormindo. Os médicos estão diminuindo a dose dos sedativos. Acham que é por isso que ele não está totalmente consciente. Vem. Ele precisa te ver.


O quarto era menor, mas havia menos máquinas. E a janela se abria para o estacionamento. Sentei ao lado dele e segurei sua mão.


— Oi, Noah. Sentimos sua falta. Você precisa melhorar. Talvez possa conversar com o Bailey e dizer para ele que sou uma pessoa legal. No momento, ele parece pensar diferente. Essa é uma boa razão para falar, não é? Por mim.


Outro bom motivo para falar era me fazer parar de fazer piadinhas ruins. Isso seria pelo bem dele, é claro. Se é que ele ouvia as piadas.


Ele gemeu baixinho e meu coração deu um pulo.


— Noah?


Ele virou a cabeça para o lado e abriu os olhos. A sra. Urrea havia dito que agora ele passava mais tempo acordado, mas eu não imaginava que veria seus olhos tão focados. Como se realmente me vissem. A alegria me invadiu.


— Oi — falei baixinho.


Um sorriso dançou em seus lábios.


— A sua mãe ficaria megafeliz se você falasse. Para a gente, basta ver esses seus lindos olhos verdes... Mas, pelo jeito, para ela só isso não vale.


Ele afagou minha mão e fechou os olhos. Fiquei esperando, pensando que talvez ele só precisasse descansar mais um pouco, mas ele não voltou a abri-los.


Eu me sentia satisfeita com o relato que faria para a sra. Urrea, até chegar à sala de espera e ver Bailey lá, esperando para falar com ela. A mãe de Noah conversava com o médico.


— Tinha que ser a primeira — Bailey resmungou quando me aproximei dele.


— Eu tentei não ser. Não sabia que os treinos de beisebol já tinham começado.


A sra. Urrea se aproximou de nós.


— O médico acha que ainda é importante evitar muita agitação no quarto, pelo menos por mais um tempo. Quero que todos vocês o vejam, mas vamos ter que reduzir as visitas ao mínimo. Uma por dia.


— Mas o Bailey pode vê-lo hoje, não é? — perguntei, apavorada.


— Sim, é claro. Mas pode organizar tudo com seus amigos para o Noah não receber muitas visitas?


— Sim. — Mordi o lábio. — Quer dizer, sim, o Bailey pode montar uma agenda.


— Isso — ele respondeu secamente.


— Tenho que ir — avisei. A sra. Urrea não precisava do meu relatório. Nada de novo havia acontecido. — Boa visita.


Bailey só balançou a cabeça. Eu queria consertar tudo isso, mas só tinha piorado a situação.

Ao Seu Lado {Adaptação Beauany}Onde histórias criam vida. Descubra agora