Quando voltei àquela seção da biblioteca, a bolsa de Josh não estava exatamente onde eu a tinha visto pela última vez. Ele a tinha escondido? Não, só a empurrou para baixo da cadeira, percebi. Corri para lá sabendo que não tinha muito tempo e me abaixei. A alça preta estava para fora do esconderijo, e eu tentei movê-la. A bolsa ficou presa e tive de puxar mais algumas vezes para soltá-la, atenta a qualquer ruído.
Abrir o zíper levou cinco segundos, os segundos mais barulhentos da minha vida. Foi como se o ruído ecoasse pela sala toda enquanto eu prendia a respiração. Com a bolsa aberta, olhei para trás para ter certeza de que ainda estava sozinha. Estava. A bolsa continha tudo que devia ter para uma noite fora de casa: produtos de higiene pessoal (eu ia matar esse cara por não ter me contado que tinha creme dental), roupas, meias, algumas barrinhas de proteína (ele planejava dividir?) e finalmente, finalmente, no fundo da bolsa, encontrei o que procurava. Um celular. Era um velho aparelho modelo flip, e, quando o abri, vi que a tela estava escura.
Eu não sabia ligar o telefone. Apertei e segurei o botão lateral por alguns segundos. Nada. Tentei o botão com o desenho de um telefone verde. Ainda nada.
— Sério? — Josh falou atrás de mim.
Virei para ele ainda abaixada, perdi o equilíbrio e caí sentada. Agora eu segurava o celular na frente do corpo, totalmente à vista.
— Você tem um telefone — falei. — Estou presa aqui e você tem um telefone.
— Você mexeu nas minhas coisas? — Era uma pergunta, mas a raiva em sua voz a transformava mais em uma acusação.
— Eu fui obrigada, porque você disse que não tinha um celular, mas tem. Só quero ligar para a minha família. Eles devem estar preocupados comigo.
— Pode ligar. — Ele apontou o celular. Isso era alguma pegadinha? Olhei de novo para a tela preta.
— Não consigo ligar o aparelho.
— Exatamente. — Ele arrancou o celular da minha mão, enfiou na bolsa e fechou o zíper
— Como assim, exatamente? Pode ligar para mim?
— Não, não posso. Está sem créditos e sem bateria.
— Ah. — Continuei sentada no chão, desanimada demais para levantar. — Bom, então não serve para muita coisa.
— É que, antes de vir para cá, esqueci de pensar em você e nas suas necessidades.
— Por que trouxe um celular sem bateria? O carregador não está aí?
— O que você acha?
— Aliás, por que me seguiu?
— Porque você estava com cara de culpada quando saiu da sala, como se fosse cometer um crime.
— Você conhece bem essa cara?
— Não mexe nas minhas coisas — ele falou em voz baixa, quase inaudível.
— Desculpa por ter mexido na porcaria da sua bolsa. Só queria sair daqui. Minha família deve estar morrendo de preocupação. Sua família não está preocupada?
— Não.
— Aposto que está. Você fugiu?
— Não.
— Qual é, então? Só saiu? Ninguém liga se você passa o fim de semana fora? Se passa a noite em uma biblioteca vazia?
— Eles me deixam entrar e sair quando eu quero, e eu não denuncio ninguém pela plantação de maconha no porão. Funciona bem.
Fiquei em silêncio por um momento, chocada. Tinha ouvido histórias sobre a mãe dele ser uma drogada, mas era difícil saber o que era boato e o que era fato.
— Seus pais plantam maconha no porão?
— A família que me acolheu. Esquece o que eu disse.
Por algum motivo, eu estava mais surpresa por ser a família que o abrigava do que se fossem seus pais de verdade.
— Não olha para mim desse jeito. É perfeito. A melhor situação que já tive.
Melhor situação que ele já teve?
— Sinto muito.
— Por quê? Eu tenho liberdade. Eu é que lamento por você e por essa sua vidinha previsível.
— Talvez eu lamente porque isso te transformou em um completo babaca.
— Melhor que ser uma mimadinha ingênua e arrogante.— Soltei um suspiro frustrado. Essa palavra de novo. Por que eu ainda insistia? Eu não era uma dessas meninas que precisavam salvar garotos perdidos. Levantei e comecei a me afastar, mas antes de ir muito longe, voltei, abri a bolsa dele e avisei:
— Vou pegar um pouco do seu creme dental. — A expressão dele era um misto de espanto e raiva quando saí dali levando a pasta de dente. No banheiro, apoiei a cabeça na parede de ladrilhos frios e cobri o rosto com a mão. Ele não tinha um telefone, a única coisa que me dava um pouco de esperança. Eu estava presa ali de verdade, oficialmente.
Quando senti a respiração acelerar, me lembrei de me manter concentrada nas coisas boas. Eu tinha creme dental. E uma televisão. Podia fazer alguma coisa com isso.
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Ao Seu Lado {Adaptação Beauany}
RomanceO que fazer quando você se apaixona pela pessoa que menos esperaria? Depois de se ver trancada acidentalmente na biblioteca pelo fim de semana inteiro, Any Gabrielly não acha que as coisas podem piorar. Mas ela percebe que não está sozinha. Josh Bea...