XIV. O Pai Maluco

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Kieran gostava muito de ouvir as próprias histórias e saber que suas alcunhas tinham chegado em reinos dos quais ele nem tinha ouvido falar ainda. A sensação de glória era o que continuava lhe impulsionando a cada empreitada mais absurda que a anterior. Mas era frustrante ouvir sempre que a história mais contada era a dos 12 corações, e até reclamaria com Leelo sobre a insistência na história cheia de fatos distorcidos, mas ouvir o "13 Corações" lhe deixou de orelhas em pé.

– Espere aí, você disse 13?

– É o resultado dos doze que você já tem mais aquele do Anjo da Morte, não é? – um sorriso amplo surgiu nos lábios de Leelo depois de ver a expressão surpresa do ladrão. – Essa não parece a cara de quem ficou mais famoso e deveria agradecer ao meu bom trabalho.

Aquele do Anjo da Morte?! – a surpresa de Kieran era tão notável que ele esqueceu completamente de procurar por Dargan que já tinha sumido na feira.

– Você veio morrer e saiu com bem mais do que uma morte, hm? Parece que as vezes que disse que entrou no castelo não eram mentira no fim das contas. – o bardo riu de novo, começando a andar na direção do centro da feira, onde havia mais espaço entre as tendas, sendo prontamente acompanhado por Kieran.

– Eu disse que não era menti- arh, esqueça, não é importante. – o ladrão sacudiu a cabeça para os lados, mantendo-se próximo de Leelo. – De onde é que essa história surgiu?!

– De onde é que ela não surgiu, Mago? Você anda bem desinformado pra um cara que circula todos os reinos do continente.

– Ninguém acreditou em mim quando eu disse que conseguia entrar no castelo, agora todo mundo acredita magicamente que eu fui lá e roubei o coração do... – Kieran nem conseguiu completar a sentença, de tão absurdo que parecia. – Qual é o problema de vocês nesse reino?!

Leelo parou só quando estava na praça perto do palacete, além das tendas com todo tipo de mercadoria, havia também uma série de artistas fazendo de tudo um pouco para entreter os moradores e ganhar algum dinheiro, desde empilhar copos na ponta do nariz a desenhar caricaturas.

– Você entrando no castelo é inacreditável. O Rei sair do castelo é algo que corre todas as ruas de Arcallis mais rápido do que as mensagens do Lorde Branimir. – explicou o bardo. – Bom, não que alguém tenha percebido a saída dele do reino, mas o retorno por uma das fortalezas do norte, e o trajeto in-tei-ro de volta ao castelo na companhia de um certo ladrão... vou dizer, Mago, era só o que eu precisava para aumentar meus lucros.

Kieran abriu a boca e fechou algumas vezes, procurando exatamente o que responder. Ele não fazia ideia de como Idris tinha deixado Arcallis, afinal, ele não passava exatamente despercebido, mas sabia muito bem que depois de todo o caminho discreto e inconveniente de volta, eles só tiveram um descanso depois de entrar no território de Arcallis de novo, onde nem Idris nem Jort pareceram se importar em serem vistos, inclusive, sendo acompanhados por mais soldados no caminho da fronteira até o castelo.

– Deixa eu fechar isso aqui pra você. – Leelo levou a mão até o queixo de Kieran, para que ele fechasse a boca depois de tentar pensar mais de uma vez no que falar. – Por que não senta e aprecia o espetáculo? Vai entender exatamente do que estou falando. Pode me agradecer depois por lhe deixar mais famoso.

Sem nem esperar pela resposta, Leelo se afastou na direção do grupo de artistas e depois de trocar palavras com alguns conhecidos, ele pegou um alaúde e começou uma apresentação se anunciando, o tipo de coisa com que Kieran estava bem acostumado. Quando alguns poucos curiosos se aproximaram mais devido ao anúncio, o som do alaúde se sobrepôs um pouco ao burburinho costumeiro da feira e Kieran provavelmente era a pessoa mais atenta às palavras cantadas por Leelo:

O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]Onde histórias criam vida. Descubra agora