O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]

XXIII. A Resposta Honesta

O silêncio na sala pareceu durar uma eternidade inteira. E então, sem nenhum comentário adicional de Idris, Kieran finalmente encontrou a própria voz de novo.

– Você concordou com isso?! – o tom dele subiu algumas notas em indignação. Se estava sem saber o que fazer alguns minutos atrás porque ele tinha causado a confusão, o mesmo espírito de inconformidade com a notícia tomou conta do ladrão. – Você vai mesmo casar com uma menina de quinze anos, Idris?! Você está louco?!

– O problema é só a idade dela, então? – a pergunta era a mesma de Wafula, mas o que incomodou o ladrão foi o fato de que, saindo dos lábios do regente, parecia bem mais sóbria, a ponto daquele cenário todo parecer mais real.

– Não é só a idade dela...! – o tom do ladrão era quase aterrorizado.

– Então eu não deveria casar?

– Não! – a resposta de Kieran saiu de um modo tão impulsivo que até a expressão de Idris mudou um pouco para uma de surpresa, enquanto Kieran começava a calcular mentalmente as implicações daquela resposta imediata.

Ele certamente não tinha ideia de porque tinha sido tão enfático, e era bom pensar em alguma explicação bem rápido, mas a pergunta de Idris sumiu com todas as suas tentativas de racionalizar.

– Por que não?

– Porque... – Kieran quase engoliu em seco, incapaz de pensar numa justificativa para aquela pergunta enquanto encarava a expressão muito séria de Idris. Aquele assunto não devia ser algum tipo de tabu? Ele mesmo tinha acabado de sair da sala das coroas em que a coroa da falecida esposa de Idris estava faltando, tinha visto em primeira mão como a lembrança da morte da mulher o afetava, ele precisava mesmo colocar a justificativa em palavras?

Talvez não fosse aquele o primeiro motivo para a sua negativa enfática, por isso, Kieran se pegou quase engolindo em seco, falhando em encontrar palavras para aquela pergunta, a ponto de sentir o suor escorrendo frio no canto da testa e ele nem estava a um fio de morrer no meio de um dos seus roubos gloriosos.

Mas toda a tensão que se formou na sala com a conversa mais improvável do reino se dissipou diante de um gesto quase imperceptível de Idris: um sorriso discreto surgiu no canto dos lábios dele e Kieran sentiu finalmente como se o regente só estivesse brincando até então.

– Se lhe incomoda tanto, eu não vou casar com ela. – Idris respondeu, e a expressão suave somada ao sorriso bonito fizeram Kieran se sentir bem idiota. – Não achou mesmo que eu aceitaria casar com uma criança, não é?

– Dizer que me incomoda talvez seja exagero. Mas é bom saber que você ainda tem alguma razão debaixo das tranças. – respondeu Kieran em meio a um suspiro aliviado, encostando-se à mesa de reunião e cruzando os braços e pernas com Idris parado bem a alguns passos de distância dele.

– Eu sou um rei, suponho fazer bem em ter a razão no lugar. – Idris respondeu, dando um passo na direção do ladrão, mantendo as mãos unidas diante do corpo. – Mas é bom ver que recuperou toda a energia, depois do veneno.

– Só mais um dia de trabalho, nada com que não esteja acostumado. – Kieran deu de ombros, descruzando os braços para apoiar as mãos na mesa logo atrás de si. Idris só lhe devolveu outro sorriso em resposta com um aceno leve de cabeça e antes que o ladrão pudesse aproveitar a oportunidade para saírem da biblioteca para um local mais privado, sua língua foi mais rápida do que ele gostaria. – Você... gostaria de casar de novo, Idris?

O fato de estarem sozinhos na biblioteca facilitou para que Kieran notasse a breve hesitação no gesto do regente em voltar o rosto em sua direção de novo. Aquele breve segundo fez com que Kieran engolisse em seco, como se só então tivesse ouvido a própria pergunta. Bom, não podia evitar a curiosidade, menos ainda o interesse numa resposta que no fundo, ele sabia que devia ser sincera.