O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]

XXIX. O Templo dos Manas

Exatamente como Idris tinha dito, pouco mais de meio dia e eles alcançaram finalmente os terrenos do tal Templo dos Manas que tanto interessava às criadas e até a princesinha do reino do Leste, a ponto de ser o objetivo primeiro da viagem diplomática dela a Arcallis, até ser pega na armadilha do conselheiro psicopata.

Kieran tinha que admitir a beleza e a majestade do lugar. Depois de trilhas acidentadas e ladeadas por densas árvores e arbustos num clima úmido e cada dia mais frio, eles entraram num caminho macio, que mais parecia um tapete de veludo, e a primeira coisa que Kieran avistou foram os lagos cristalinos que ladeavam a trilha que eles seguiam, cobertos por inúmeras pontes que ligavam o templo ao terreno acidentado ao redor. Mais adiante, havia uma construção belíssima se erguia em meio aos morros e declives, com paredes de pedra e madeira que mais se confundiam com a paisagem em si do que com um prédio inteiramente construído por mãos humanas.

Em muitas das paredes, árvores e plantas se mesclavam e compunham um cenário harmonioso que parecia de outro mundo. Havia lagos cristalinos e fontes por todos os lugares, com pequenas quedas d'água que saíam desenhando caminhos intrincados entre as paredes e caminhos de pedra. Tudo parecia tão claro e limpo que se não fossem as paredes de pedra espessas, Kieran poderia jurar que aquele era um enorme jardim nos terrenos do castelo de Arcallis.

Eles não eram a única comitiva que percorria o caminho até o templo, inúmeras pessoas iam e vinham pelas trilhas e pontes que atravessavam os lagos, sozinhas, em grupo, com grandes comitivas e carruagens, mas nenhum outro grupo provocou um efeito tão grande quanto o deles, quando Idris cavalgou a frente com os cavaleiros o ladeando e ladeando a carruagem.

As pessoas desviavam do caminho e arriscavam até cair no lago para manter uma distância segura. Muitos se curvaram, outros cochicharam entre si, desviaram o olhar, e logo todo o caminho até o enorme templo principal estava completamente desimpedido para eles.

Quando eles passaram pelo que Kieran interpretou ser a entrada do templo, com colunas majestosas envoltas por ramos de folhas douradas que ele teve certeza que eram ouro, estavam no meio de um jardim ainda mais extenso, com plantas, lagos, fontes e gazebos espalhados que dificilmente se comparavam ao que Kieran entendia por "templo".

Muitas pessoas conversavam, faziam gestos de oração e se dirigiam, em grupo ou sozinhas, a pessoas que usavam roupas no mesmo estilo, de tons verde e detalhes dourados, embora não parecessem nem de longe tecidos finos ou adornados por joias. Eram pessoas humildes em roupas igualmente humildes que chegavam a destoar do belo lugar, e certamente eles deviam ser os servos daquele templo.

― Então são esses os tais imortais que vocês tanto falam? Eles não parecem muito imortais daqui. ― Kieran fez questão de abrir a porta da carruagem e debruçar o corpo para fora, mesmo em movimento, os pés no degrau de metal e as mãos apoiadas no topo da porta aberta.

O ladrão quase não ouviu o som da risada de Zareen em meio ao barulho da carruagem, mas ouviu a resposta dela logo em seguida com mais clareza.

― Não, esses são os servos do templo. Muitas pessoas vêm para o templo para oferecer serviços voluntários e aprender com os imortais em troca. É difícil vê-los com frequência, não há mais do que meia dúzia deles. Às vezes as pessoas que vêm aqui nem têm a chance de ver só um deles que seja.

― É brincadeira, não é?! ― o tom de Kieran foi extremamente indignado. ― Viemos todo esse caminho e eu nem vou ver esse tal imortal?!

― Talvez tenha mais sorte do que imagina, senhor. Afinal, viemos acompanhando o rei de Arcallis. ― a resposta veio de Ninian, e pelo sorriso no rosto, ela tinha certeza de que a presença de Idris era motivo suficiente para falarem diretamente com os imortais.