XV. A Primeira Resposta

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Era quase nostálgica para Kieran a sensação de estar sendo perseguido por Radulf depois de tantos meses em que ele tinha ficado longe de Arcallis. Primeiro, porque aquilo combinava mais com o Conselheiro do que aquele sorriso assustador de quem estava supostamente de acordo com a sua presença ao lado do regente; segundo, porque mesmo que eles fizessem a mesma brincadeira de gato e rato que lhe deixava mais em forma, Radulf definitivamente não ia lhe matar.

Claro que um detalhe importante fugiu à mente de Kieran: ele ainda podia lhe arrancar uma perna ou um braço sem lhe matar. Aquilo passou muito perto de ser verdade quando Kieran sentiu a lâmina afiada passar pela sua perna, e não foi só de raspão, foi um corte que certamente lhe causaria uma nova cicatriz. Era melhor ele correr mais rápido e chegar ao quarto de Idris onde estaria seguro dos ataques, porque mesmo sem olhar para trás, podia sentir toda a fúria do conselheiro, que estava sendo acompanhado na mesma velocidade por um Dargan sacudindo a espadinha de madeira e achando que eles estavam numa brincadeira de herói e vilão muitíssimo divertida.

O único problema de correr até o quarto de Idris era que ele não estava exatamente naquela direção. Mas antes de Kieran pensar em como se livrar do maluco talvez saltando pela lateral das escadas, ele avistou a segunda melhor alternativa para se livrar de Radulf.

– Ora, ora, já se divertindo tão cedo, vocês dois?

A voz de Wafula alcançou os ouvidos de Kieran que mal teve tempo de responder, só desviou do general para passar direto por ele e talvez usá-lo de escudo.

– Quer dar um jeito no seu marido, por favor?! – Kieran reclamou, depois de passar correndo por Wafula, o fôlego já curto, ouvindo então um som de um baque surdo.

Ele não parou de correr, e só depois de correr muito além do general foi que ele arriscou dar uma olhada breve para trás. Wafula tinha sumido do seu campo de visão, de tanto que ele tinha acelerado o passo nos corredores largos. Não só o general, mas Radulf também tinha ficado para trás, assim como Dargan. Só então, Kieran conseguiu parar e respirar fundo, entendendo talvez o que tinha sido o som do baque surdo. Com o sangue esfriando, ele começou a sentir a dor do ferimento na perna.

– Tch. – ele soltou o ar entre os dentes, dando um sorriso satisfeito em seguida. – Bom, pelo menos valeu a pena. Agora, de volta ao quarto.

Ele deu a volta nos calcanhares para poder ir até o quarto de Idris, ou pelo menos até encontrar um dos criados para lhe informar do paradeiro do rei, só então percebeu como estava numa parte do castelo que ainda não tinha explorado.

– Hm... às vezes eu esqueço como ainda falta explorar esse castelo. – ele deu uma boa olhada nos arredores para ter certeza de que não tinha passado por aquele corredor ainda, mas toda a arquitetura era tão parecida que era fácil de se confundir. Exceto que para uma pessoa bem treinada como Kieran, depois de ver o lugar apenas uma vez, ele podia distinguir os caminhos de fuga.

Ele ainda deu uns longos passos no corredor amplo sem encontrar nenhum criado circulando, o que era estranho, já que ele geralmente só precisava de uns instantes até se deparar com alguém limpando e organizando os cômodos quase intocáveis. Foi só depois de se deparar com um par de portas duplas com belos detalhes em dourado entalhados que ele teve a sensação de conhecer o corredor. Kieran não abriu as portas, mas encarou por longos instantes atélembrar de uma situação muito específica quando estivera em Arcallis meses atrás e que tinha lhe rendido uma fuga inesperada do castelo com um relicário prateado sem muito valor de moeda.

A expressão de compreensão tomou o rosto do ladrão no mesmo instante. Aquele era o corredor que dava no quarto da rainha, na ala leste, mas aquelas não eram as portas que ele tinha aberto da última vez. Com uma boa olhada até o final do corredor, ele avistou outro par de portas mais distante, só então tendo certeza de que se tratava do quarto que ele tinha invadido e roubado.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]Onde histórias criam vida. Descubra agora