XXXV. A Conta de Vidro

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Kieran voltou para o quarto com Idris, seguindo os corredores silenciosos e escuros do castelo, acompanhados apenas do som da chuva cada vez mais intensa do lado de fora açoitando as janelas de vidro de uma forma que parecia que iam despedaçar a qualquer momento. O som estridente só não era suficiente para abafar completamente os espirros exagerados do ladrão antes dele chegar no quarto confortável do rei.

― Isso é incomum. ― Kieran anunciou, depois de entrar no quarto e seguir até as janelas atingidas pelas gotas de chuva intensa. ― Eu não sabia que chovia tanto aqui.

― Quando deixou Arcallis, foi logo antes da temporada de chuvas. Por isso está achando incomum. ― Idris respondeu, e passou perto da banheira primeiro para abrir as torneiras antes de seguir até onde Kieran tinha parado, admirando o cenário através das janelas translúcidas. ― Não tem esse clima no Norte?

― Temos chuva, mas não assim. ― ele respondeu, desfazendo os nós da roupa molhada para tirar as peças, sem se importar de deixá-las no meio do chão do quarto, começando a sentir o frio um pouco mais intenso. ― Acho que estou começando a sentir falta do calor no Norte.

― O suficiente para querer voltar? ― Idris andou até as janelas e fechou as cortinas, voltando-se então para o ladrão que tinha se livrado das peças superiores de roupa.

― Bom, depende se eu vou conseguir ficar bem aquecido aqui, majestade.

― Acho que posso ajudar com isso. ― Idris se aproximou o suficiente para passar as pontas dos dedos pelo peito de Kieran, deslizando-os até o cós da calça, o toque leve dos dedos frios fez com que um tremor perpassasse o corpo do ladrão e ele deixou uma risada baixa escapar.

― Vai ter que fazer melhor que isso... ― ele inclinou o rosto na direção do rei, mas não teve tempo de completar a aproximação. Assim como na sala da coroa, a sensação involuntária subiu pelo peito e ele cobriu o rosto bem a tempo de abafar uma série de espirros. ― Isso tá me atrapalhando mais do que o maluco.

― Tire o resto das roupas, você precisa mesmo de um banho. ― o toque suave com um quê de ousadia logo se tornou um empurrão firme na altura do peito, e no instante seguinte, Kieran estava sendo empurrado com firmeza na direção da banheira.

― Agora, você precisa trabalhar melhor esse seu tom de sedução.

Kieran não resistiu ao breve empurrão, tirou o resto das roupas enquanto seguia para a banheira, mas ainda observou curioso enquanto Idris se aproximava antes do móvel, parando ao lado das torneiras para fechá-las e sentir a temperatura da água. Kieran estava acostumado àquela cena, mas em geral, era Borya que preparava o banho, e para o rei.

— Quer dizer que eu só preciso ficar doente para receber atenção especial? — Kieran entrou na banheira, apoiando as mãos na borda ao lado de onde Idris tinha, inclusive, se sentado, no pequeno banquinho que ele bem lembrava de ter ocupado em uma situação distante, mas cuja sensação ainda estava bem vívida em sua memória. — Talvez o Borya não me mate pela sujeira no salão das coroas, mas me mataria por isso.

— Então talvez não devesse contar a ele. — Idris apontou para a borda da banheira, no espaço em que ele mesmo costumava apoiar a cabeça quando estava tomando banho, e Kieran ajustou a posição, mergulhando a cabeça na água antes de se acomodar com a nuca apoiada na borda da banheira, encarando o regente de baixo.

— Não sei, eu sou muito comunicativo, posso acabar deixando escapar. — Kieran respondeu, e precisou cobrir o rosto de novo para impedir que mais uma série de espirros inconvenientes atrapalhasse o momento, mais do que já estava atrapalhando.

— Nesse caso, não posso me responsabilizar pelo que pode lhe acontecer. — respondeu o rei, deslizando os dedos pelos fios de cabelo úmidos de Kieran.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]Onde histórias criam vida. Descubra agora