XXXVI. O Dia Estranho

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Kieran acordou na manhã seguinte revigorado. O som da chuva martelando as janelas de vidro tinha cessado, e embora a chuva tivesse parado, o céu ainda estava com uma cor acinzentada, com nuvens pesadas que bloqueavam a luz do sol tão vívida com a qual ele estava acostumado a acordar em Arcallis. Pelo menos o clima frio parecia mais agradável do que o calor algumas vezes insuportável dos reinos do Norte.

Quando ele acordou, Idris seguia imerso no próprio sono no espaço ao seu lado na cama, o quarto já estava organizado, não havia nenhum rastro de água no chão da noite passada, as peças de roupa molhadas que ele tinha largado na noite anterior já tinham sido levadas provavelmente para lavar, e outro conjunto de roupas estava dobrado cuidadosamente sobre o divã aos pés da cama, com a sua bolsa de couro bem ao lado. Ou ele estava ficando enferrujado, ou confortável demais, porque nem tinha ouvido o movimento dos criados no quarto naquela manhã. Ele teria pensado se aquilo era preocupante para a sua carreira, mas uma olhada breve para o lado e só se permitiu relaxar um pouco mais.

O ladrão se espreguiçou e voltou a se deitar confortavelmente na cama, conseguindo respirar fundo sem ser interrompido por um espirro, e até arrumou a posição sob os lençóis para se aproximar mais de Idris e aproveitar um pouco mais do calor alheio naquela manhã fria. Mas antes que pudesse de fato relaxar com a companhia, ele levantou de um pulo tão rápido, acordando de uma vez, que o movimento brusco fez até com que Idris despertasse um pouco alarmado.

— Ih, merda, eu esqueci completamente do Gunne!

Kieran se arrastou pela cama até alcançar a sua bolsa de couro na beira dela, puxando alguns lençóis no caminho, o que fez com que Idris fosse obrigado a se sentar, os cabelos lisos desalinhados caindo na frente do rosto sonolento.

— Kieran? O que aconteceu?

— O Gunne! — Kieran puxou a bolsa de couro para o colo. — Eu encontrei com ele em Táhir, você sabia que ele é um espião do maluco? Todo mundo que trabalha nesse castelo é espião dele também? É por isso que eu não consigo ter paz?

O desviar do assunto pareceu nem chegar aos ouvidos de Idris, que acordou de uma vez com o primeiro comentário de Kieran.

— Você encontrou com ele? O que ele disse? — o tom do regente foi incomumente urgente.

— Aqui! — ele tirou da bolsa o objeto que Gunne tinha lhe entregado. — Ele disse pra trazer pra você, que se fosse magia, só você podia dizer. E se não fosse, o conselheiro maluco que ia saber.

Kieran mostrou o objeto e só então notou a expressão um pouco mais surpresa e tensa do que ele tinha esperado. O rosto de Idris estava absurdamente pálido. Só então ele olhou do objeto para o rei e lembrou do pequeno detalhe que Gunne tinha dito que aquela podia ser a tal arma mágica que seria capaz de matar Idris. Será que logo ele ia ser o responsável por aquilo por causa de um descuido? Cadê a tal magia que não estava protegendo o rei?

— O que é isso, Kieran? — Idris saiu do estado de choque antes que Kieran pudesse decidir se mostrar o objeto ali era de fato, perigoso para o rei.

— É a tal arma que eles têm. A arma que pode matar você. — só depois de falar aquela sentença em voz alta, que pareceu tão natural, foi que Kieran pareceu entender a gravidade da situação. — Espera aí, isso não desativou a sua magia, desativou? Mas estava aqui desde ontem! Eu entrei com ela no castelo, o castelo não devia ter feito alguma coisa? Idris?? Você está bem?!

Kieran largou o objeto de lado, percebendo que o rei ainda parecia num estado de choque. Ele se aproximou, segurando-o pelos ombros, sentindo que todo o sangue tinha esvaído do seu corpo quando não teve uma resposta imediata.

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⏰ Última atualização: Sep 23 ⏰

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O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]Onde histórias criam vida. Descubra agora