O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]

XX. O Delírio de um Moribundo

•۵──✧{ Aviso: Violência Explícita }✧──۵•

Se Kieran tinha demorado para assimilar o fato de que um veneno mortal corria por suas veias e o único jeito de se livrar dele era entregando a vida de Idris em troca, foi ainda mais difícil assimilar que o calor do sangue que jorrou em seu rosto e seu pescoço não tinha sido seu. Fossem as forças do universo se movendo em favor dele, ou quem sabe a proteção divina do regente de Arcallis, ele abriu os olhos depois de ter o rosto banhado em sangue para ver que a cabeça da assassina tinha sido atingida por uma lâmina muito afiada e estranhamente maleável, ou era o que parecia de onde Kieran estava observando.

A cena toda ao seu redor se tornou caótica. Os gritos e vozes se sobrepunham aos sons de lâminas cortando carne viva, corpos inertes tomaram conta da trilha que devia ser praticamente deserta. O ladrão piscou algumas vezes, o sangue manchando os olhos e turvando a sua visão, para acompanhar a situação: além do Cigano e o grupo dele com os dois brutamontes e as três assassinas, havia mais pelo menos três pessoas em cena, além de alguns cavalos, pelo som do galopar.

Ele tentou acompanhar a situação, mas tudo o que sua vista embaçada pelo sangue captou foi o fato de que as duas assassinas que faziam parte do grupo estavam emaranhadas com outras duas pessoas muito habilidosas e com lâminas bem afiadas. Kieran sacudiu o rosto um pouco, se livrando do excesso de sangue no rosto para ver melhor o que estava se passando, enquanto as mãos trabalhavam mais rápido do que nunca para lhe livrar das amarras.

A cena na sua frente ficou mais clara, finalmente: a líder do grupo de assassinos estava caída no chão bem aos seus pés com um buraco na garganta que tinha sido rasgada de um jeito bem carniceiro. Um pouco mais adiante na trilha, os rastros de sangue adicionavam às outras duas jovens que faziam parte do trio de assassinas, caídas em poças do próprio sangue enquanto uma mulher e um homem em roupas manchadas de vermelho vivo colocavam espadas e adagas de volta às suas bainhas. Um pouco mais adiante, os dois brutamontes também estavam caídos ao chão, acertados por flechas, mortos. No meio do banho de sangue, Kieran não avistou nem um rastro do Cigano.

Quando ele ergueu o olhar para identificar o grupo que tinha ficado de pé, notou que três cavalos tinham parado bem a sua frente e o cavaleiro que liderava o trio o encarava de cima enquanto as mãos hábeis enrolavam um chicote de corrente com uma ponta de lança numa extremidade, onde um pedaço rasgado de pele humana estava preso.

– Ora, o que temos aqui? – a mulher terminou de enrolar o chicote e o prendeu na lateral do cinto, observando Kieran ainda de cima da sua montaria. – Esse aqui não parece ser de Táhir. Nem parece ser assassino também.

– Ele estava sendo mantido refém, senhora.

Kieran desviou o olhar da mulher imponente no primeiro cavalo para o casal que estava sem montaria e tinha matado as outras duas mercenárias. Até onde o ladrão conseguia assimilar, o grupo deles era apenas aquele, com cinco pessoas e a mulher do chicote como líder. E ela nem precisava vir a frente para qualquer um entender que era ela quem mandava ali.

– E por que é que três assassinos de Táhir estavam mantendo você de refém, forasteiro? – ela perguntou a Kieran, puxando as rédeas do cavalo que se moveu inquieto.

– Bom, madame... foi um enorme mal-entendido. Eu acho que foi meu dia de azar, por estar andando na trilha errada na hora errada. – disse Kieran, com um sorriso falso enquanto as mãos continuavam tirando as cordas. – Ou o meu dia de sorte, já que a madame e o seu grupo vieram ao meu resgate.

– HÁ! – a risada da mulher foi alta o suficiente para espantar alguns pássaros das árvores ao redor. – Ainda não decidi se vou lhe deixar vivo, forasteiro. Se assassinos de Táhir estavam fazendo você de refém, talvez eu tenha que me preocupar com sua presença no meu reino.