VINTE E QUATRO

2.8K 485 109
                                    

"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor". (Isaías 55: 8).

“Guerra sangrenta no Leste deixa milhares de mortos."

“Famílias sofrem os horrores da guerra sem suprimentos para sobreviver.”

“100 soldados estão desaparecidos.”

Um mês decorreu e as notícias sobre a guerra do Leste estavam constantemente na primeira página do jornal. O coração de Angelina apertava no peito a cada nova informação, principalmente, sobre os desaparecidos. Era bem certo que desde a partida de Scott nunca mais obteve nenhuma informação. A única esperança era confiar na Providência Divina. Mas não podia negar as noites que ficava em claro orando para que Deus o livrasse do mal, e as notícias somente serviam para aumentas sua aflição. Os dias se passavam e os sentimentos de Angelina se tornavam, a cada novo amanhecer, mais melancólicos e pesarosos, sentia-se inútil diante de tantos acontecimentos trágicos.

“Oh, Senhor, proteja esses homens. Abrande o coração dos inimigos que desejavam tomar posse dos nossos territórios.” — Esta era a sua petição de todos os dias.

No jornal daquela manhã, a Srta. Jones leu a notícia que lhe moveu fortemente o coração, apesar do temor também se fazer presente: “Precisa-se de voluntários para o serviço de saúde na Guerra do Leste”.

As informações que se seguiam era que as caravanas passariam pelos Vilarejos recrutando as moças e rapazes que se disponibilizavam para ir à guerra cuidar dos feridos, trabalhar na limpeza, zelar pelos mutilados, cozinhar os alimentos e tantos outros. O coração da Srta. Jones queimou pelo desejo de servir os doentes e os que não tinham esperança. Ela prostrou-se em oração, pedindo a Deus orientação para fazer a sua vontade. Seus pensamentos tinham paz acerca da decisão que estava inclinada a tomar, no entanto, desejava de mais uma confirmação. Numa tarde, ela preparava chá de hortelã e tortinhas de amoras para conversas com sua querida amiga, a senhora Nagael, esta que sabia das confidencias de Angelina, sendo a primeira que havia sido comunicada sobre o noivado de sua menina. Oh! Ela regozijou-se deliberadamente, movendo-se em direção a jovem mulher com beijos e abraços de suas sinceras felicitações. E ela era a que também consolava a noiva a esperar no Senhor para trazer Scott com vida novamente.

As duas mulheres sentaram-se ao redor da mesa de madeira de carvalho, com xícaras de chá dispostas, tortinhas e bolo de maçã. Elas começaram a falar sobre as plantações e as chuvas de inverno que chegariam,  e como deveriam se preparar amontoando toras de madeiras no celeiro  para que o fogo da lareira não acabasse, armazenar as frutas em compotas de vidro e começar a produção de gelatinas. Apesar desse assunto ser importante, outro inflamava o coração de Angelina, e não podendo mais suportar, declarou:

— Sinto-me inclinada a partir de Scarborough Fair antes do inverno. — Suas palavras tiveram efeito imediato na Sra. Nagael, que por muito pouco não despejou o chá que acabara de colocar na boca.

— Perdão?

— A senhora leu a manchete do jornal esta manhã?

— Receio que estava ocupada com as encomendas de costura, minha filha. — A velha mulher deixou a xícara de lado e segurou o jornal que a Srta. Jones estendeu a ela, lendo em seguida a informação que mudara drasticamente os pensamentos de Angelina.

— Minha filha, a guerra está feroz. Deseja partir e até mesmo perder a vida? E o seu noivado?

A Srta. Jones baixou a cabeça e ponderou sobre aquelas perguntas, e certamente, ela mesma já havia refletido sobre tais conjecturas. Apertou os lábios pensando como seria convincente.

Benigna Onde histórias criam vida. Descubra agora