VINTE

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O sol da manhã de sábado decidiu refletir o ardor de felicidade que expunha Emily, pois neste tão esperado dia ela mudaria o rumo de sua vida por completo e não se podia recomendar palavras de mais ânimo do que as da própria imaginação. Ataviou-se com belas vestimentas e desceu para o desjejum e nem a presença inconveniente de Ian Turner, este que ela decidira ignorar a existência em seu lar, pôde abalar as belezas das profundas alegrias na quais sua alma se deleitava.

Em breve.

Muitíssimo em breve.

Ela seria a Sra. Emily Scott!

Não se dispendeu muito tempo, para que a criadagem começasse a preparar a casa para a festa que ocorreria horas mais tarde. Era de conhecimento de todos que o regimento militar fora convidado e as demais classes da sociedade do pequeno Vilarejo. De fato, esta comemoração deveria ser sublime ao ponto de ser comentada por muitos dias.

Emily deslocou-se para o mercado da cidade a fim de buscar seu vestido preparado especialmente para tão memorável ocasião. Após receber o perfeito embrulho, direcionou-se a joalharia da pequena cidade, contudo, naquele momento, encontrava-se cheia e foi obrigada a aguardar. A donzela obtinha esperança de que o homem que recebia o atendimento pudesse ser convencido, por seu cavalheirismo interno, de ceder sua vez com total polidez para ela. Mas a correção de seu olhar e a aspereza das expressões foram maior do que a gentileza masculina, levando-a bufar pelo trato austero. Contudo, sua atenção fora redirecionada para a dama que entrara na joalheria. Aquela que lhe era inimiga, pois teria roubado as atenções e afeições do amado Tenente Scott, sendo que todo trato e cortesia dele deveriam ter sido recomendados somente a sua própria pessoa.

Angelina sentiu-se ser observada e teve sua confirmação ao avistar o olhar frio da Srta. Brown sobre ela. Permaneceu paralisada sendo perturbada pelo sentimento de desprezo e ressentimento ante aquele impertinente exame de suas expressões. O desejo de entregar a encomenda de costura para aquele vendedor ficou mais pulsante. Por sorte, o ajudante do joalheiro a atendeu. Logo acertou o negócio, recebendo o que lhe era devido e saiu do estabelecimento. Do lado de fora, soltou o ar e logo um cavalheiro colocou-se ao seu lado. A Srta. Jones voltou os olhos para o homem e descobriu ser o Tenente Floyd.

O prazer que o militar demonstrou ao encontrá-la foi suficiente para qualquer um discernir sobre seus sentimentos mais elevados em relação à senhorita. Certamente, ele estava longe de lamentar a proximidade que teve ao tornar a ver a bela dama de cabelos ruivos e olhos da cor do oceano, o que proporcionou na jovem, um extinto de precaução. A pergunta dirigida a ela fora respeitosa e atenciosa.

— Srta. Jones, veja que sorte temos em nos reencontrar. Sente-se bem neste dia?

— Minha saúde está em perfeito estado. Agradeço a gentileza da preocupação sobre meu estado, mas não é necessário.  

— Como eu poderia não me preocupar? Nenhum homem que enxerga lágrimas nesses olhos tão reluzentes pode se desvencilhar de tal inquietude. — Ele atentou-se ainda mais ao olhar dela.

— Não tinha como propósito afetar o sossego de nenhum senhor — ela declarou. — No entanto, posso agora trazer o conforto para suas emoções, mostrando-me perfeitamente bem. Tenha um bom dia! — Angelina deu um passo a frente, porém o tenente atravessou-lhe o caminho.

— Permita-me acompanhá-la? Não é apropriado para uma dama andar sozinha.

— Caro Sr. Floyd, a vida toda andei por este vilarejo. Tenho por certo que minha honra nunca fora afetada. — Ela prosseguiu mais um passo e ele a segurou pelo braço.

— Srta. Jones, não é muito decoroso desprezar a gentileza de um homem. Certamente poucas mulheres têm a chance de obtê-lo — ele disse num tom mais baixo.

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