SEIS

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— Você permaneceu sozinha com ele? — O tom de repreensão na fala da Sra. Nagael fez Angelina se envergonhar.

— Ele me pediu para ficar, pois não desejava manter-se sozinho. — Angelina respondeu sem olhar na face de sua amiga mais velha. — Meu coração foi fraco, admito!

— Minha filha, sabe quão é perigoso para uma jovem demorar-se na presença de um homem sem acompanhamento adequado. Por favor, não repita essas ações. — Ela tocou no ombro de Angelina. — O Sr. Scott é um homem formado já, e devemos ter cuidado. — Lembrou-se de quando o vira acordado, as palavras lhe escapuliram dos lábios.

Angelina sabia do sermão que levaria ao contar sobre aquele episódio nada decoroso de sua parte. Apesar de já possuir idade avançada para uma moça e ser considerada pelos habitantes de Scarborough Fail uma solteirona convicta. A Sra. Nagael a tratava como se fosse uma donzela de 16 anos, cuidando sempre de sua pureza. E, por esse motivo, reteu por três dias as palavras em sua boca sobre suas atitudes.

— Eu prometo que usarei de mais sensatez, senhora!

Ao apreciar a resposta por parte de Angelina, a Sra. Nagael continuou sua andança pela feira. O local era sempre agitado, com vendedores gritando seus mais variados produtos, cuja qualidade eles mesmos garantiam. Ambas pararam diante de uma barraca de tecidos, havia as belas estampas de flores, listras e as mais diversas formas.

— Acho que essa cor combina com sua pele, querida. — Olívia esticou o tecido e sobrepôs a pele branca e corada de Angelina. O tecido azul com estampa floral produzia um aspecto de saúde e frescor para a dama.

— É belo, realmente! Mas, não possuo de recursos no momento — a menina baixou a da senhora com o pano. — É melhor deixarmos para outra ocasião.

— Mas seria bom você comprar tecidos e produzir uma nova coleção de roupas, não acha? — a senhora insistiu na questão.

— Qual motivo me levaria a costurar novos vestidos? — Angelina contraiu o cenho e cruzou os braços sobre o busto.

— Não sei — Olívia quicou os ombros —, mas é sempre bom renovar as vestimentas.

— Eu, nestes tempos, não tenho interesse nisso. — A Srta. Jones virou-se e caminhou em direção as frutas frescas.

— Oh, Senhor! — Suspirou a mulher ao ver Angelina sempre se desviando de situações que pudesse a conduzir a um novo caminho.

Elas compraram algumas frutas, 2 galão de leite fresco, vegetais, grãos e carnes para os próximos dias. A caminhada ficava exaustiva com o tempo, mas a agitação da conversa dos feirantes fornecia para  Angelina a sua cota de socialização para a saúde de seus relacionamentos. Certamente, eram momentos agradáveis para se vivenciar. Gostaria de trazer sua mãe ou mesmo a levar para passear na praia, entretanto era quase impossível ter força suficiente para carregá-la, o que ocasionava em deixá-la viver todos os dias dentro de um quarto.

— Parece que desta vez você está levando comida em dobro, Angelina — a voz de Emily ressoou, fazendo a Srta. Jones galgar para trás, pelo impacto do susto.

— Assustou-me, Emily — disse Angelina, apoiando as mãos em cima do peito ao lado do coração. — Estou levando o normal — replicou.

— Você sempre compra somente um galão de leite porque desta vez é dois? — a menina intrometeu-se.

— Porque é necessário! — Angelina respondeu somente.

— Será que não está escondendo nenhum segredo? — a moça instou no assunto.

— Srta. Brown, temos atividades importantes para fazer em nosso dia a dia — Sra. Nagael intrometeu-se. — Acha mesmo que gastaremos de nosso tempo em brincadeiras inúteis?

Emily recolheu as mãos para trás e recuou em sua gracinhas.

— Perdão, senhora — abaixou a cabeça. — Não era intenção minha causar algum transtorno.

Angelina comoveu-se com a humildade da garota.

— Não incomodou. — Tocou no braço da menina.

— Obrigada, Angelina, mas agora preciso me retirar — ela as reverenciou e se afastou, mas não se deixou convencer, então caminhou para uma barraca próxima, que a possibilitava escutar a conversa entre as duas mulheres. 

— Precisamos ir, pois o Sr. Scott nos aguarda — disse Angelina e a Sra. Nagael concordou.

"Quem é Sr. Scott?" — Emily indagou para si, pois morava ali há anos e nunca ouvira fala sobre um tal "Sr. Scott". A sua curiosidade aguçou ainda mais e resolveu num impulso seguir as duas.

Passou pela multidão que percorria a feira e conduziu-se se escondendo entre algumas casas, barris, barracas para que não fosse descoberta. As mulheres, depois de um tempo, entraram na floresta e a Srta. Brown contraiu os lábios, não entendendo como podia habitar alguém ali, porém se afastou suas indagações e retornou a perseguição.

Nathan não se encontrava dentro da caverna quando Angelina e Olívia chegaram. O rosto pálido da Srta. Jones denunciaram o seu nervosismo sobre o que poderia ter acontecido. "Onde estaria o Sr. Scott?"

— Será que outras pessoas o acharam?

— As coisas permanecem do mesmo jeito de antes — disse Olívia, observando a posição das coisas dentro da caverna.

— Mas para onde pôde ter ido? Ou... — Aquela ideia doeu em Angelina como se um soco tivesse atingido em cheio seu coração.

— Ou...? — A Sra. Nagael queria a conclusão da pergunta.

— Ele pode ter ido embora — despejou as palavras como se fosse um carga de toneladas.

Por um instante, um nó em sua garganta se formou, porém o engoliu a muito custo.

— Mas a vida é assim...

— Ou ele pode está tomando um banho de mar — declarou a Sra. Olívia, olhando em direção ao praia.

Angelina pestanejou e saiu da caverna, vislumbrou, então,  aquele esbelto homem nadando em meio as águas azuis. Ele representava bem a beleza de uma vida que havia renascido em toda a sua glória.

À distância, Emily contemplava o Sr. Scott, paralisada diante daquela paisagem exuberante que ele formava. Só pôde então pronunciar:

— Ele é o homem que vi em meus sonhos!

Benigna Onde histórias criam vida. Descubra agora