ONZE

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O coração de Angelina estava acelerado e a sua respiração ofegante quando chegou à horta. Observou a distância Nathan entre as plantações, ele arrancava ervas daninhas dentre o plantio e as lançava fora. Seu rosto estava suado e vermelho, marcas de um dia cansativo de trabalho. Ela apertou o xale em seus braços e respirou fundo. Precisava ter coragem para falar-lhe novamente. Aceitar o convite que tolamente havia rejeitado. Enquanto dava seus passos em direção ao homem, pedia a Deus coragem, sabedoria e diligência. Scott diante de si avistou botinhas pretas abaixo de uma saia, ao levantar o rosto constatou a face corada da Srta. Jones. A jovem tinha os lábios contraídos e os olhos semicerrados por conta do ardente sol. Ele calmamente se ergueu e retirou a terra das mãos no tecido da calça, procurando ficar apresentável.

— Angelina, o que faz aqui? — perguntou.

— Primeiramente, pedir perdão. — Ela entrelaçou as mãos frente ao corpo e soltou o ar. — Agi insensível diante de sua oferta. Por favor, perdoe-me!

— Não há nada para perdoar. Você tem o direito de aceitar ou recusar um convite. — Ele sorriu. — Não se sinta mal por ser sincera.

— Não fui sincera, Scott — ela rebateu, querendo esclarecer todas as suas ações.

Ele franziu o cenho ao ouvir tal relato.

— Eu só estava com medo e fazendo o que faço de melhor — ela cruzou os braços e desviou o olhar —, se escondendo.

— Por que faz isso? — Nathan indagou num tom sério.

Angelina soltou o ar repetidamente e começava a se arrepender por se colocar numa posição de desconforto ao precisar reabrir seus temores.

— Não precisa temer, Angelina — Scott disse como se lesse os pensamentos em guerra dentro dela.

— Eu tinha sonhos. — Ela começou a falar e, ao mesmo tempo, andou até debaixo de uma árvore. — Mas o meu maior sonho era ser enfermeira. — Ela sentou-se perto ao tronco e mirou o horizonte verdejante à diante. — Quando eu tinha 20 anos recebi, com minha melhor amiga, a chance de ir a Capital para fazer um curso de enfermagem, mas, um dia antes de minha viagem, mamãe adoeceu de repente. — Angelina umedeceu os lábios, relembrando o doloroso dia em que precisou abrir mão de seu futuro. — Não pude partir, e a saúde de mamãe agravou-se até chegar à situação atual.

Nathan, ao lado dela, respirou fundo. Ele queria poder fazer alguma coisa, pois via a tristeza no rosto da graciosa Angelina. Nenhuma jovem merecia ficar desamparada no mundo. Sem pai, recursos e com uma mãe doente para cuidar. Quão terrível sensação de abandono deveria ter sentido no decorrer de seus dias.

— A pior sensação é a de ver sua mãe esquecer-se de você. Não lembrar mais o próprio nome. — Angelina limpou os cantos úmidos dos olhos com a ponta do xale. — Uma mulher tão viçosa perder as forças e isolar-se do mundo por não mais poder lidar com ele.

— Eu sinto muito, Angelina. Certamente, não posso imaginar o tamanho de seu sofrimento — Nathan disse com compaixão.

— A bíblia fala que a bondade e a misericórdia do Senhor nos seguiriam todos os dias de nossas vidas — ela falou. — Não poderia deixar de relembrar as muitíssimas graças recebidas. Ele me concedeu a amizade preciosa da Sra. Nagael, que tem sido uma grande conselheira para orientar-me na vida. Deu-me sabedoria para administrar as minhas terras e tirar dela o sustento de cada dia. Ele...

—... Deu a você um coração bom, uma alma gentil e... — ele a interrompeu, permitindo-se tocar na mão da jovem, que repousavam na grama — mãos cuidadosas para auxiliar um náufrago. — O calor da mão dele sobre a sua, fizeram-na arrepiar dos pés a cabeça. Os batimentos aceleraram violentamente e a sua face ruborizou. — Eu poderia dizer que lamento muito por não ter partido para seu curso, porém estaria sendo mentiroso. A verdade é que me alegro por você viver aqui. Deus foi gracioso ao fazer-me cair em suas mãos, Angelina. — Os olhos de Nathan brilhavam para a meiga mulher ao seu lado.

Oh! Ele não poderia negar seus afetos de gratidão pelos feitos da Srta. Jones. Mas era mais que isso. A bondade nas ações, as palavras acolhedoras, o espírito manso e tranquilo de Angelina, traziam-no uma reconfortante sensação de estar no seio do lar. Há tanto tempo viajando por terras distantes, longas e angustiantes noites solitárias e, encontrá-la era como ver um raio de sol brilhar entre as nuvens escuras. Nunca esqueceria as belas canções entoadas pela voz doce daquela donzela em seus dias de doença, que recitava palavras de vida e esperança para quem já havia visto tanta destruição. Ao conhecer Angelina Jones sentiu como se o Todo-Poderoso estivesse sorrindo para ele novamente, lembrando-se do seu pobre coração. Não podia negar para si mesmo que gostaria de tê-la sempre por perto e quando voltasse para casa fosse recebido por seu belo sorriso. Talvez seus sentimentos estivessem velozes, mas não se condenou por isso.

— Angelina — os olhos azuis dela o fitaram imediatamente —, não precisa se esconder mais. As coisas velhas já ficaram para trás e eis que tudo se fez novo.

— Mas, o medo de ter os sonhos desfeitos e as esperanças despedaçadas ainda se fazem presentes — ela contou seu temor.

— Não posso garantir que os planos nunca mais se destituirão, contudo não somos chamados para se preocupar com o futuro e sim para viver o presente. O que Deus nos dá é o hoje, seria sábio vivermos este presente. Basta cada dia seu próprio mal. — As palavras de Nathan a deram conforto.

— Então — ela mordeu os lábios —, seguindo seu conselho, eu quero dizer uma coisa.

— E o que seria?

— Que aceito seu convite para sábado. — Angelina apertou mais forte a mão dele. — Será uma honra acompanhá-lo.
Scott abriu um amplo sorriso e beijou o dorso da mão dela, com carinho e respeito.

— A honra é toda minha, Srta. Jones!
E uma paz que excede todo entendimento os envolveu. Talvez um novo tempo para ambos, enfim, houvesse chegado.

Benigna Onde histórias criam vida. Descubra agora