DOIS

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Angelina levou à mão a boca ao ver o homem estirado no chão. Após ponderar um pouco sobre a situação resolveu ajudá-lo. Com decoro, ergueu a sua saia, na intenção apenas de se abaixar de modo adequado. Com seus poucos conhecimentos de saúde, fez uma primeira análise. E ao aferir a pulsação, percebeu estar fraca. Suspirou profundamente pela frustração de não ter força suficiente em seus músculos para ao menos movê-lo de posição. Sua mente se iluminou para uma idéia, se levantou e o deixou, partindo, com pressa, em direção à casa da Sra. Nagael.

— O que aconteceu? — perguntou a senhora com o cenho contraído ao ver os modos exasperados de Angelina a sua porta.

— Preciso — ela tomou ar — que me ajude com algo — pediu segurando na mão da mulher e já a trazendo para fora.

— Mas, por que tamanha pressa? — inquiriu, firmando os pés no chão. A senhora queria que a jovem se acalmasse e retomasse o juízo.

— Preciso mostrar-lhe algo, que não dispõe de tanto tempo. Por favor, não questione mais nada. Apenas siga-me! — disse aflita. — Mas, antes de partirmos, pegue suas mantas mais quentes e traga-as.

A senhora semicerrou os olhos e com um manear de cabeça concordou. Com as mantas nas mãos, as duas a passos ligeiros, seguiram por entre a mata fechada e ao sair do outro lado, Angelina a guiou rumo ao homem desmaiado.

— Pai das misericórdias! — Sra. Nagael exclamou ao vê-lo.

— O pulso dele está fraco e pelos dedos e lábios roxos posso assegurar que se encontra com hipotermia. — Angelina deu o diagnóstico, segundo o conhecimento que adquiriu com a vida.

— O que podemos fazer? — A senhora olhou em volta e não possuía uma direção específica em relação ao caso.

— Tem uma caverna mais adiante — a jovem apontou para o lugar a alguns metros de distância. — Ajude-me a arrastá-lo para lá.

A Sra. Nagael concordou com a ideia. Cada uma das mulheres segurou um dos braços do homem e juntas o arrastaram pela areia. O indivíduo não se movia de maneira nenhuma. Utilizando todas as forças que tinham, elas o fizeram adentrar naquela cobertura de pedra. Deitaram-no de peito pra cima e Angelina não demorou em tirar a roupa do homem.

— O que está fazendo? — Olivia perguntou com os olhos arregalados.

— Essas roupas estão frias e não ajudam. Preciso tirá-las e colocar sobre ele as mantas. — E ao ver o espanto ainda evidente no rosto da mulher, ela continuou: — É isso ou nós devemos abraçá-lo com o calor dos nossos próprios corpos, o que seria realmente mais eficaz.

— Jesus! — Foi tudo que a mulher conseguiu dizer.

— Por favor, acenda a fogueira. Existem uns galhos espelhados perto de sua saia — Angelina apontou para os gravetos e a Sra. Nagael sem demora preparou o fogo.

A moça sentiu as bochechas arder ao ver o homem sem camisa. Ela não esperou muito para cobri-lo com a primeira manta e depois o enrolou com mais três, tão grossas quanto a primeira. O calor do fogo logo começou a aquecer e iluminar aquela caverna escura e fria. Angelina percebeu que as mãos dele continuavam gélidas e então a tomou entre as suas para as aquentar com seu hálito quente.
Com as primeiras horas passadas, a moça averiguou  a situação do homem e, ele permanecia do mesmo modo: parado como uma estátua. Porém, ao menos, seus lábios já não se encontravam mais roxos e uma cor rosada tomava conta de seu rosto. A vida parecia retornar.

— Precisamos preparar algo para comer — a voz rouca da Sra. Nagael rompeu nos ouvidos de Angelina, tirando-a rapidamente daquele momento de admiração sobre o homem.

— Acho que um ensopado de legumes seria útil — declarou a donzela sem se mexer de sua posição.

— Não posso deixá-la sozinha com um homem, minha querida. Não seria adequado — falou a mulher ao ver como a menina parecia inerte em seus pensamentos ao lado do desconhecido. — E você não pode esquecer sua mãe.

— Mamãe! — Ao ouvir sobre sua genitora o coração de Angelina deu um salto. Estava horas fora de casa. Sua mãe não podia ficar tanto tempo seu auxílio. Por Deus, era uma filha desnaturada!

— Vamos, nós podemos deixá-lo só por um tempo. Mais tarde retornamos para vê-lo novamente  — replicou a senhora, com as mãos estendidas para moça.

— Sim. — Angelina, com o peito aflito, segurou a mão da mulher. — Mas antes deveríamos colocar algo na entrada desta caverna — sugeriu com medo de algo pior o acometer.

— Não a nada para cobrir a entrada — falou Olívia. — Só podemos pedir que Deus o livre do mal.

Angelina, com pesar, assentiu. Sabia que tudo que estava em seu alcance fora feito. Ela o deixou, e por mais que não quisesse, seu espírito e pensamentos ficaram com ele.

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