VINTE E NOVE

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O Senhor teu Deus, o poderoso, está no meio de ti, ele salvará; ele se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. (Sofonias 3.17)

Os sentimentos de afeto e saudade sobrepujaram os de qualquer interesse acerca de condecorações, mas Scott teve de sacrificar-se um pouco mais a fim de cumprir rapidamente seu compromisso perante o rei e os cidadãos. Ele e o seu pelotão foram recebidos com palmas e gritos de celebrações, porém nada escutou, pois, seus olhos permaneciam atentos a única dama ruiva e de olhos azuis do salão. Angelina Jones estava radiante como o sol da manhã. E ele queria para sempre acordar, sendo ela a sua primeira visão do dia. Ainda se lembrava das noites de agonia e desesperança no frio e escuro esconderijo na fronteira, mas ao relembrar que havia um amor para qual voltar reanimava as forças, revigorava as ideias e, certamente, fazia-o mais grato em suas orações.

Nathan Scott recebera a medalha de herói de guerra, e todos os soldados foram perfeitamente homenageados. As últimas palmas foram dadas, as palavras de agradecimento se encerraram e eles poderiam enfim festejar a todos os demais. Os músicos posicionaram seus instrumentos e uma melodia harmoniosa começou a ressoar, trazendo muitos para o meio do salão a dançar. Scott só tinha uma direção para qual andar e seu alvo permanecia paralisado. Angelina, notando a aproximação, nada conseguiu fazer a não ser esperar pacientemente, no entanto, era somente isso que as emoções dela permitiam, seu assombro era tão intenso que não havia expressão maior, então aquele imponente homem fincou os pés a frente dela. Ele era majestoso em beleza, grandioso em humildade e ternura, tal qual refletiam nos olhos azuis. 

— Senhorita Jones, permita-me acompanhá-la numa caminhada? — ele disse com toda polidez requerida diante do público. 

Um sorriso casto iluminou a face da Srta. Jones e seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ela segurou. Ele ofereceu a mão, ela o aceitou e o toque firme e sincero a fez arrepiar por inteiro. Em moderados passos, ambos seguiram para uma suntuosa sala com lareira, iluminada com velas e as estrelas do céu brilhavam com intensidade. O som da música, dos falatórios e danças foram deixados para trás e somente a brisa, que entrava pela janela, ecoava no ouvido do casal. Eles pararam a caminhada perto de uma fonte de mármore e se posicionaram frente um ao outro, de imediato, não houve palavra, apenas a contemplação da presença de ambos. Scott, com o dorso da mão, acariciou a pele macia da noiva, ela sentindo o toque gentil fechou os olhos e lagrimou. 

— Minha amada Angelina quantas noites sonhei com o dia em que veria sua face novamente — ele declarou com a voz grave e emocionada. — Eu orava todos os dias pela oportunidade de vislumbrar sua beleza só mais uma vez. 

As emoções de Angelina encontravam-se em tamanha intensidade que ela não conseguia expressar em palavras, porém, sem medo, abraçou-o com paixão, saudosismo e amor. Oh, céus, como ela o amava! Scott a puxou para mais perto envolvendo-a por completo em seus braços fortes, expressando que seus sentimentos eram de igual modo ou maiores que os dela. Não havia como dimensionar a largura ou profundidade desse afeto. Os minutos percorridos naquele abraço nenhuma tranquilidade poderia obter, ao contrário, cada momento trazia nova euforia. Era uma alegria devastadora. Chegando ao ápice da satisfação plena ao saber que, pela misericórdia do Altíssimo, eles viveriam junto até o último fôlego. Ao fim do contato físico, Scott beijou-lhe a testa e entrelaçou a mão com a da noiva e sentaram-se num sofá perto do fogo para os aquecer da fria noite de inverno. 

— Há três semanas o major trouxe-me a plaquinha com seu nome. — Ela fechou os olhos, relembrando o terror que a dominou naquela noite. — Achei que o tinha perdido para sempre. 

Ele beijou-lhe a mão, querendo confortá-la. 

— Foi pela proteção do Senhor — ele falou, olhando-a atentamente. — Iríamos perder essa guerra. Os homens estavam fracos, pois não tínhamos mais quase comida ou água, e os inimigos avançavam sobre nós. Lembro-me de orar com demasiada aflição, dizendo a Deus que não prosseguiríamos mais...

Aquela noite turbulenta voltou com avidez na mente de Scott: A tempestade de neve não cessava, o fogo era escasso e os homens tinham seus pés sangrando e as mãos em carne viva; o tiroteio havia sido suspendido por uma hora e o desespero desceu sobre o 25º pelotão como um manto. Alguns militares achavam-se pronto a entregar-se para dar um basta em suas miseráveis vidas.

— Num ato de milagre aqueles soldados foram tomados por uma coragem e forças para batalhar, e a capacidade de pensar num túnel por debaixo da terra para chegar ao forte inimigo com os poucos recursos que tínhamos fora dado por Deus. — Ele apertou ainda mais a mão de Angelina, pois as imagens de tantos mortos ainda atormentavam sua mente.

— Eu vi o horror da guerra — Angelina proferiu com a voz baixa. — Os homens chegavam à base mutilados, esmagados e terrivelmente destruídos psicologicamente. 

Scott mirou a noiva. 

— Foi para o leste?

— Sim, eu fui. — Angelina o fitou com intensidade. — Estavam recrutando jovens mulheres para servirem como voluntária, e eu segui na esperança de cumprir o serviço de Deus, ser útil ao próximo e — baixou os olhos — encontrar você. Cada veículo que trazia soldados feridos fazia meu coração palpitar, achando que podia o achar num deles. 

— Seu amor e serviço ao próximo foram as primeiras virtudes que me fizeram amá-la. Eu a amo com todo meu coração. — Scott lhe beijou a face, deixando-a levemente ruborizada. 

— Eu também o amo. — Angelina tinha um brilho no olhar. — E prometa-me nunca mais se afastar de mim

— Quando conseguimos derrotar nossos inimigos, soube que não queria estar ali novamente. Fui então convocado pelos meus superiores a me integrar ao departamento de estratégia de guerra. — O salto no peito de Angelina a quase fez jogar o coração para fora. — Trabalharei de agora em diante na sede militar. 

Angelina apertou-o o braço com tremenda alegria. 

— Oh, o senhor é bom! 

Ela, aproveitando o momento, contou ao noivo sobre a herança que recebera, e as outras experiências que vivera. Os dois passaram um tempo vasto conversando e prezando a companhia um do outro. Não se importaram com os padrões sociais ou mesmo com a polida relação do sexo feminino em relação ao masculino. Somente os dois sabiam o quanto aquele momento fora destinado pelo Senhor Deus e não deixariam serem roubados tal ocasião. 

— No final da semana nos casaremos — Scott assegurou, e Angelina obteve um susto momentâneo, contudo, tal sentimento logo fora substituído pela radiante alegria.

— Não temos nada preparado — ela disse com um sorriso no rosto. 

— Temos o Senhor, nosso amor e um ao outro. O que mais é necessário?

De fato, Angelina não tinha preocupações acerca de festa. Ela sabia que a felicidade de um matrimônio não estava entrelaçado a danças, comidas e bebidas e, sim, no compromisso que o casal tinha com Deus e com os votos de juramento. A aliança sustentaria o amor, a devoção e a fidelidade. Conhecer um homem que tivesse esse conhecimento e amadurecimento para saber e viver essas verdades com responsabilidade era seu maior presente. Nisso ela estava completamente satisfeita. 

— Em breve será a Sra. Scott. 

— Agora tudo está bem. — Angelina suspirou e fechou os olhos aspirando aquele delicioso contentamento. 

— Sim, meu amor.

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