Amortentia - SaiDa

Abandono

[...]

"Srta. Sana, o seu pai já saiu para o Ministério"

Ouvi a voz fina de Finty do outro lado da porta do meu quarto e dei um pulo da cama.

Eu havia pedido ao pequeno ajudante para me avisar quando estivesse sozinha para enfim poder pesquisar melhor sobre a minha tia na nossa biblioteca.

Nesse meio tempo continuei atuando como a filha exemplar que os meus pais um dia tiveram orgulho de ter.

Antes de sair do quarto, eu parei em frente ao meu espelho de corpo inteiro e pela primeira vez eu pude reparar melhor no meu reflexo.

Vi algo diferente no meu olhar levemente roxo da grande surra que tinha levado do meu pai, não eram as marcas de agressão, mas sim um brilho novo e diferente do opaco sem vivacidade dos meus olhos castanhos.

A razão desse brilho novo tinha nome e sobrenome, a razão do meu sorriso involuntário me olhando no espelho agora.

Kim Dahyun.

Ela estava me ensinando que ser gentil não era sinal de fraqueza e sim muito pelo contrário, era um sinal de nobreza verdadeira.

Kim Dahyun não precisava ter sangue-puro para ser uma pessoa nobre de coração, e isso me empolgava para aprender mais e mais com ela.

"Senhorita, vai almoçar?"

A voz de Finty me tirou do devaneio a respeito da mulher que tinha o meu coração em suas mãos, e então segui para fora do meu quarto.

[...]

O almoço com a minha mãe foi silencioso como era de se esperar, a casa era um silêncio mortal desde sempre, éramos proibidas de viver normalmente até quando meu pai não se encontrava presente.

Nós nunca podemos relaxar na mansão dos Minatozaki.

Eu imagino que não seja fácil para ela ter que conviver sob as regras do Lorde Minatozaki, mas como ela nunca deu sinal de insatisfação com a vida que leva eu não faço questão de perguntar se ela gosta ou não.

Nós comíamos o crème brulèe que os elfos tinham feito de sobremesa especialmente para mim quando percebi que minha mãe parecia inquieta.

Talvez minha presença inusitada em pleno final de semana tenha incomodado ela.

Quando eu não incomodo os meus pais?

Não sei dizer.

— Mamãe, aconteceu alguma coisa? – perguntei colocando uma colherada de doce na boca.

Vi minha mãe se assustar e beber um longo gole de água.

— Sana, eu gostaria de te perguntar algo agora que estamos sozinhas.

Ela se remexeu novamente na cadeira aparentando nervosismo.

— Fique à vontade para me perguntar o que quiser mamãe.

Eu tentei acalmar a mulher sentada à minha frente na enorme mesa de jantar e a vi assentir séria.

Lá vem bomba.

Minha mãe parecia hesitar e ponderar algo, demorando mais que o esperado.

Inferno, o que essa mulher quer saber?

Seria sobre Dahyun?

Eu girei meu anel de esmeralda dos Minatozaki no dedo como fazia quando estava ansiosa esperando a mulher falar algo.

— É sobre o seu machucado no rosto – minha mãe olhou sob o ombro para ter certeza que estávamos sozinhas — Não pude deixar de notar, o que aconteceu com você?