26-After

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-Narcisa, eu não tenho nenhum senso crítico para moda.

-Eu sei, por isso preciso da sua ajuda. Se você gostar eu não uso.

Revirei meus olhos.
Eu só queria ir para a cama, e de preferência não sair mais de lá durante o dia todo.

Gostaria de ter o poder de pular um dia do ano. Se eu pudesse, o dia seria amanhã.

Um aniversário sozinha.

Não ousei contar para Narcisa. Queria ignorar totalmente o evento. Fingir que não existiu. Meus amigos...antigos amigos fariam o mesmo. Porquê eu deveria fazer diferente se eles eram os únicos que se lembravam, além de meus pais.

Fiquei em torno de 3 horas vendo Narcisa colocar, no mínimo, 10 vestidos diferentes a cada uma hora, sem contar as vezes que ela esquecia como o outro vestido tinha ficado em seu corpo e o vestia de novo.

Por fim, suas irmãs apareceram no dormitório e isso foi nossa deixa.

Já estava escuro quando íamos em direção a comunal da grifinória.

Narcisa não trocou o último vestido que usou. Ainda bem que estava tarde o suficiente e não tinham alunos andando pelos corredores. Todos iriam notar uma doida com roupa de festa em um dia comum.

Dei boa noite para a loira e aproveitei o grifinório que entrou segundos antes de mim, para não precisar falar a senha.

O salão estava escuro e silencioso, o que era estranho, já que, mesmo quando já era tarde, alguns grifinórios ficavam espalhados pelo salão.

Meu coração tropeçou quando, no meio do silêncio, o "lá" de uma guitarra ecoou por todo o salão.

Agora não estava escuro. Luzes artificiais iluminavam o fundo do salão.

Não acreditei quando vi.

Sirius, Remus, James e Regulus estavam em um palco improvisado me encarando.

Os outros grifinórios saíam de trás dos sofás e armários me olhando também.

Narcisa de repente estava do meu lado sorrindo.

Não tive tempo para falar nada.
Meus antigos amigos e Regulus começaram a tocar uma música que eu conhecia bem.

A nossa música.
A música que eu e os marotos fizemos, com a diferença que Regulus segurava minha guitarra.

Fiquei em choque durante a música toda.

Se de repente eu acordasse, não ficaria surpresa. Mas seria decepcionante. Aquele era o melhor sonho que eu poderia ter.

A música acabou e agora tudo estava em silêncio de novo, como minha mente.

Não conseguia absorver tudo aquilo.

Sírius foi o primeiro a se mover. Ele balançou o dedo indicador para que eu fosse até lá.

Meus passos ecoavam pelo salão enquanto eu passava. Senti que meus batimentos cardíacos estavam sincronizados com eles.

Regulus foi até o lado do palco e ofereceu sua mão a mim. A segurei como se ela fosse me levar ao paraíso, ou seja lá qual lugar as pessoas boas vão após a morte.

Só consegui desviar o olhar daqueles lindos olhos verdes quando a voz de Sírius soou no microfone.

-Eu queria contar uma história a vocês.

Ele não me olhava, mas eu sabia que estava falando as palavras para mim. Não tinha motivo, eu simplesmente sabia.

-Ela é sobre um garoto e uma garota.
O garoto anda pelo expresso de hogwarts. O qual todos aqui conhecem bem. É a primeira vez que ele está longe de tudo aquilo que o fez mal a vida toda. Se o garoto fechar os olhos agora, conseguirá sentir o cheiro de doces dentro dos carrinhos que senhoras empurram. Conseguirá escutar os passos pesados e as vozes excitadas de várias crianças e adolescentes falando ao mesmo tempo. E principalmente, conseguirá sentir um empurrão. Ele sente a mão pequena, mas nada delicada, empurrando seu ombro. E então uma voz angelical e estressada diz "Sai da frente, pamonha".

Um coro de gargalhadas escapou de mim e da platéia. Todos ouviam atentamente cada palavra que saiu da boca de Sírius.

-Ele deveria tê-la odiado desde o início. Era a primeira experiência boa que ele tinha e uma desconhecida estava estragando, mas por mais que ele tentasse, não conseguiu. Quem odiaria uma criança que acha o termo "pamonha" ofensivo ?

Mais um coro de risadas.

-Desde o início ele gostou dela. Não a odiou nem por um segundo sequer desde o dia que sua mão tocou seu ombro pela primeira vez.

Agora ele se virou para me olhar.

-E seis anos depois, o garoto foi idiota o suficiente para deixar dona da voz angelical e uma mão pesada, escapar pelos seus dedos.
E ele está profundamente arrependido. Faria qualquer coisa no mundo para ouvir aquela garota o chamar de pamonha outra vez.

Seus olhos lacrimejavam, e desconfio que os meus também.

Não soube como responder, então apenas obedeci o que meu corpo queria. Abracei meu melhor amigo e sussurrei "pamonha" em seu ouvido. Se minha dedução estivesse certa, um "eu te amo" sussurrou de volta no meu ouvido esquerdo.

As pessoas batiam palmas, mas eu não as ouvia com clareza. O "eu te amo" ainda gritava de forma suave no meu ouvido.

Alguém pigarreou ao meu lado. Era Regulus. Eu sabia, pois conhecia até sua respiração.

-Eu não sou bom com palavras, nunca fui, e duvido que um dia isso vá mudar, mas também gostaria de contar a história de um garoto e uma garota. Contar como a vida do outro garoto era sem graça antes de conhecer a garota. Mas a verdade é que ele não a vê como uma vida. Quando o garoto a conheceu, a conheceu de verdade. Fora dos corredores lotados e das outras vozes. O garoto e a garota, só, e apenas eles. Ele viveu. Ele conheceu o que era vida. Sentiu ar nos seus pulmões e a vontade de tê-los ali por um bom tempo, para que a garota pudesse continuar fazendo com que ele se sentisse vivo. E o garoto gostaria de saber se a garota se ofereceria para continuar mantendo ar nos seus pulmões.

Ele sorriu no meio da última palavra e eu também.

As pessoas estavam paralisadas, mas eu não. Eu consegui me mover com tanta facilidade, que mal consegui me controlar.

Beijei Regulus, e dessa vez, sem medo ou culpa.

Marauders; the band (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora