Capítulo 6

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Brandon

Foi uma coincidência encontrar Sophia no café, eu não menti quando disse que gostava do lugar, era tranquilo e agradável, longe o bastante do trabalho para que raramente alguém da empresa também estivesse ali, era bom tomar café sem ter que parar a cada trinta segundos para falar com alguém.

Eu poderia ter pego meu café e saído em seguida, mas quando dei por mim meus pés estavam me levando até ela, logo após flagrar seus olhos verdes me encarando.

Muito, muito impulsivo, mas quando percebi que deveria dar meia volta, já estava parado em sua frente e não seria tão idiota a ponto de simplesmente me virar e sair depois de estar ali, tão perto dela, tendo a possibilidade de ficar em sua presença, por alguns minutos.

O que deu em mim? Quem sabe, normalmente eu pegaria o meu café e sairia. E ela ainda me deu um bolinho, como se fossemos velhos amigos, sem se importar em parecer outra coisa, ela me tratou como qualquer um dos meus amigos mais íntimos, sem sedução, olhares furtivos ou tentando ser misteriosa, ela foi apenas... Indiferente.

E que loucura foi quando acordei mais cedo no dia seguinte, simplesmente porque queria chegar logo ao café e passar alguns minutos a mais, imaginando se teria a sorte de encontra-la novamente.

Não era pecado, Sophia era uma pessoa ótima para se conversar, era amiga de Cristal, e meu dia anterior certamente começou mais tranquilo.

Deu um sorrisinho quando vi seus cabelos ruivos pelo vidro, ela estava de costas para a rua, entrei devagar, mesmo assim o sino da porta fez seu trabalho.

A dona, uma senhora idosa, sorriu para mim de forma gentil, como sempre fazia, pedi um café, Sophia parecia distraída enquanto rabiscava furiosamente em seu caderno, cabelo preso, jeans, tênis, seu rosto estava limpo, ela usava apenas batom, a pele estava ligeiramente amarelada, ao invés do vivaz tom rosado, Deus do céu, eu sabia exatamente o que aquilo significava, olhei para a senhora que me entregava a xícara de café.

- Por favor, me dê um desse, um desse e dois desses aqui... - Ela colocou meu pedido em um prato e eu lhe estendi o dinheiro sob o balcão - Pode ficar com o troco.

Me aproximei da mesa devagar, eu tinha convivido a vida toda com duas mulheres em casa, eu não era estúpido a ponto de não reconhecer uma mulher de tpm, bom, minha mãe era do tipo que praticamente não sentia nada, então era possível ver apenas sinais sutis de irritação ou melancolia.

Já Cristal, bom, era do tipo capaz de arrancar sua cabeça com uma mordida se você ficasse no caminho dela, além do comum inchaço e da pele abatida, ela às vezes passava o dia na cama com dores ou simplesmente chorava do nada, por qualquer motivo sem sentido, reclamava o dia todo e nos dias ruins doces faziam com que se sentisse melhor.

Eu tinha um leve palpite de que Sophia era do tipo Cristal, e não do tipo mamãe, então os doces deveriam ajudar.

- Bom dia. - Falei devagar, ela levantou os olhos e me observou por alguns segundos, indiquei a cadeira vazia a sua frente - Posso?

- Bom dia. - Ela deu de ombros e voltou a atenção para seu desenho novamente.

- Isso é para você. - Empurrei o prato em sua direção chamando sua atenção, eu pedi uma fatia de torta de chocolate, um cup cake com cobertura de chocolate e confeitos e dois muffins de chocolate - Imagino que seja um dia ruim.

Ela olhou para o prato e juntou as sobrancelhas, depois para mim, depois para si mesma, fez um beicinho e novamente para os doces.

- E porque você acha que preciso de doces? - Ela estreitou os olhos, aquele era um campo minado, e ao menor deslize ela explodiria.

- Parece que você dormiu mau, está dando uma surra no caderno com o lápis, não quis ofender me desculpe, apenas quero ajudar. - Seu rosto se suavizou, se tinha uma coisa que nunca se devia fazer era ofender ou dar respostas curtas a uma mulher com hormônios enlouquecidos, o melhor é pedir desculpas, mesmo que sejam desculpas por ajudar.

- Obrigada. - Ela deu um pequeno sorriso - Imagino que um desses muffins seja seu?

- Sim, mas caso queira, pode ficar. - Ela pegou o bolinho e empurrou em minha direção.

- Pode ficar com ele, acho que já tenho o suficiente, obrigada.

Ela colocou o caderno de lado, escondi meu pequeno sorriso de vitória com a xícara, ela comeu a torta e o muffin antes de suspirar e voltar a falar, um pequeno sorriso deixou seu rosto.

- Minha aparência está tão ruim assim?

- Não, sou apenas um observador, e não esqueça que convivi com mulheres a vida toda, não é difícil saber quando uma mulher precisa de mais doces, e mais sono.

- Não dormi nada na noite passada, mas esses doces com certeza me deixaram mais feliz. - Ela observou enquanto eu devorei meu bolinho - Achei que não fosse mais vê-lo por um tempo, não falta muito para o lançamento da nova coleção.

- É verdade, acho que justamente por isso preciso de lugares calmos, todos parecem... - Olho para cima buscando as palavras certas.

- Loucos? - Ela completa.

- Sim, exatamente. - Ela suspira e bebe um pouco de chá, desvia o olhar para o bolinho do prato - Theodora está te enlouquecendo?

- Não, na verdade, como o anel é minha única peça a ser apresentada não tenho muito trabalho. - Ela olhou para a xícara entre as mãos - Por falar em trabalho, acho melhor eu ir pra não chegar atrasada.

- Claro. - Respondo enquanto ela começa a juntar suas coisas - Também estou indo, quer uma carona?

- Ah, não obrigada, gosto de caminhadas, são só algumas quadras, nos vemos amanhã, até mais.

Fiquei observando ela andar pela calçada e desaparecer do outro lado da rua, terminei o meu café enquanto pensava o que eu tinha acabado de fazer.

Não que eu não percebesse quando outras mulheres estavam com dias ruins, mas eu não me preocupava em agrada-las, tentava apenas ignorar qualquer resposta vaga, impaciente ou mau educada.

As únicas mulheres que eu me preocupava em agradar e mimar eram as da minha familia, aquilo deveria acender um alerta em minha mente, ou eu só simpatizava com Sophia e nossos poucos minutos juntos?

Certamente não era só um desejo louco de tirar a roupa dela, como pensei inicialmente, eu deveria me afastar agora, mas a opção de continuar perto parecia muito mais atraente.

Brandon - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora