Capítulo 11

267 20 5
                                    

Sophia

Entro no café, suspiro ao ver Brandon sentado, eu não tinha parado de pensar nele desde a quarta-feira, a dois dias atrás, havíamos tomado café um dia antes, mas ele tinha agido normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Isso queria dizer então, que aquele momento em que nossas mãos se tocaram não passou de imaginação? Devia ser algo normal para ele? Ele estava agindo de forma casual com o intuito de deixar bem claro que nada aconteceria, afinal, mesmo que nossas manhãs sejam amigáveis, regada de conversas amigas, eu ainda era sua funcionária, e ele não tinha relações com suas funcionárias.

- Bom dia. - Falei me sentando com cuidado para não derramar o líquido quente da minha xícara.

- Sophia, bom dia. - Um arrepio passou pelo meu corpo ao ouvir sua voz forte e arrastada, o timbre forte e de certa forma sensual, para uma coitada claramente apaixonada como eu. - Achei que não fosse vir hoje.

- Ah, me desculpe o atraso, a minha tia pegou um plantão está noite, não tive carona essa manhã, não gosto de abusar quando ela chega claramente exausta.

- Bom, espero que agora você ganhe o suficiente para comprar seu próprio carro, é bem mais cômodo, você mora bem longe do trabalho, e sua tia pode descansar mais eu suponho. - Eu sabia que ele não tinha falado por mau, esse seria o raciocínio mais lógico, mas não pude evitar uma careta de desgosto - O que foi? Eu não sabia que... Me desculpe Sophia, eu...

- Tudo bem Brandon. - Levanto a mão o silênciando, ele parecia em pânico, se desculpando sem saber porque, respirei fundo e olhei para ele - Eu não dirijo, eu tenho carteira e aprendi como, mas... Quando tenho que colocar em prática, eu simplesmente não consigo, entro em pânico, principalmente em ruas de mão dupla com muito movimento, quando vejo os outros carros na direção oposta, só consigo me lembrar de...

- Do acidente? Você estava com seus pais no carro? - Balanço a cabeça afirmando.

- Sim, eu... Tinha treze anos, os médicos diceram que foi um milagre... Estava escuro e nevando, nenhum dos motoristas teve culpa, foi uma fatalidade. - Olho para fora, perdida em pensamentos, falar sobre aquilo sempre parecia doloroso, senti a quentura da mão de Brandon em meu braço, desviei meus olhos para aquela imagem, desejando que não fosse tão reconfortante, tão calmo e tão bom, porque aquilo significava muito mais para mim do que um conforto de um amigo.

- Eu sinto muito.

- Tudo bem. - Recolho meu braço e finjo tomar um pouco de chá - Já faz onze anos, é menos doloroso agora.

Ficamos um momento em silêncio, Brandon estava me dando um espaço para apenas absorver, eu fiquei muito grata por aquilo, ele limpou a garganta, olhei para ele.

- Quais os planos para o fim de semana? - Senti meu rosto esquentar, eu poderia mentir, mas não havia um sentido naquilo.

- Tenho um encontro. - Um silêncio estranho caiu sobre nós, me deixando inquieta - Er... E você?

- Vou a uma exposição de artes na One Galery, nada tão interessante quanto um... Encontro.

- Certamente é, ouvi falar sobre a exposição, soube que serão expostas obras de artistas renomados, uma parte inteira destinada a fotografias de grandes nomes, os ingressos estão esgotados a meses, mas você com certeza não precisa se adiantar com nada disso, você é Brandon Immers e tudo mais. - Falei tudo de uma vez, sem pausa para respirar, eu estava nervosa.

- Certamente tive que persuadir um dos meus amigos próximos para conseguir os ingressos, não foi tão fácil, eu não estava atento ao evento. - Seu rosto parecia relaxado, mas estava tenso, eu tinha aprendido aquilo sobre prestando atenção, ele sempre ficava daquela forma quando estava frustrado ou decepcionado, a máscara de indiferença tomava conta de seu rosto.

- Eu tenho certeza de que sua companhia vai gostar muito. - Falei com um sorriso tentando aliviar o clima.

- Acho que cheguei tarde.

- Por que? - Perguntei baixo.

- Ela tem um encontro. - Brandon pegou seu celular na mesa, eu sabia que minha boca estava aberta - Tenha um bom fim de semana Sophia, tenho que trabalhar.

Então ele saiu, como um rei, sério, frio, poderoso, sem olhar para trás, me deixando sentada sem reação, logo após me dizer que queria me levar a exposição, eu? Por quê? Meu cérebro se recusou momentaneamente a entender, seria por amizade? Eu não conhecia nenhum outro amigo dele, então não sabia se aquele comportamento era normal.

Então porque ele pareceu chateado quando falei sobre ter um encontro? Foi só coisa da minha cabeça... Mas é claro que não, eu sabia bem sobre suas reações agora, isso queria dizer que ele não gostou de saber que eu sairia com alguém.

E eu, como me conhecia bem, sabia que o encontro com Michael seria, de certo, frustrante, porque eu não pararia de pensar sobre a proposta de Brandon e...

- Quando é o seu encontro? - Quase tive um infanto ao ouvir sua voz mais uma vez, ele estava parado com as mãos ao lado do corpo, me perdi tanto em pensamentos que nem mesmo o vi voltar.

- Hm... Amanhã a noite?

- Ótimo, você pode sair comigo no domingo, os ingressos são para todo o fim de semana, saia comigo no domingo - Estando de pé, ele parecia muito grande e intimidador, cruzei os braços e levantei uma sobrancelha - Por favor?

- Tudo bem. - Falei categoricamente como se aquilo não fosse nada demais, ele não usaria sua arrogância comigo.

- Então... - Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo envergonhado e sem jeito - Eu te pego as 14h.

- As 16h, eu sempre almoço com minha tia e prima aos domingos.

- 16h. - Ele olhou ao redor, as bochechas levemente vermelhas - Certo, então... Me passe seu endereço por mensagem.

- Tudo bem. - Aponto para a porta, ainda seria - Você não ia trabalhar?

- Sim, você está certa.

Quando ele saiu outra vez dei um pulinho na cadeira e um sorriso enorme se abriu, eu iria sair com Brandon, como amigos, não era um encontro, mas mesmo assim eu iria passar um tempo com ele no fim de semana.

Meu coração estava disparado, eu me sentia eufórica e animada para que aquele momento chegasse logo.

E mesmo quando o sábado chegou e Michael me levou ao cinema e para jantar depois, não respondi a nenhuma de suas investidas, ele foi gentil e agradável o tempo todo, mas eu não sentia nada além de carinho por um colega de trabalho.

No fim, ele parecia ter entendido que nada além de amizade aconteceria entre nós dois, ele me levou pra casa, me fez rir e se foi, tinha sido de fato uma noite agradável, nós dois éramos muito parecidos, e gostávamos das mesmas coisas, mas não aconteceria nada além daquilo e ele levou isso de uma forma bastante tranquila.

Depois só me restou a agonia da espera para que o domingo logo chegasse.

Brandon - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora