Eu me apressei a entrar no carro, dizendo para mim mesma que tudo não passava de tolice, baboseiras supersticiosas e ri por dentro convencida da irrealidade de tudo. Então nós seguimos para algum lugar que parecia longe demais para o meu gosto.-Carga Explosiva. – Nathan falou objetivamente e sem tirar os olhos da estrada que se estendia a nossa frente.
-O quê? – Eu me senti confusa com a revelação repentina e senti uma vontade muito estranha de gargalhar.
-É do tipo de filme que eu gosto. – Sua expressão séria só aumentava minha vontade de rir
-Ah meu Deus. Você é tão previsível. - Eu fiquei mexendo na saia do meu vestido, fingindo estar fazendo algo muito importante para que ele não me encarasse.
-Então a senhorita acha que eu sou previsível. – Ele perguntou tentando parecer ofendido, mas havia divertimento em sua voz.
-Sim, eu acho. - Nathan me encarou por um momento e eu quase esqueci de falar.
-O que mais você pode sabe sobre mim, já que eu sou tão previsível.
-Humm. Isso é fácil. É do tipo que trabalha até tarde e convida desconhecidas pra jantar. -Uma risada genuína escapou de sua boca e o som parecia bem reconfortante.
- Muito bem. Mas e você? – Havia em seu rosto uma expressão inquisitiva.
-Eu? -Refleti sobre suas palavras e uma ideia me ocorreu. – Por que não tenta adivinhar?
-Deixe-me ver. Ama gatos e café, ler muitos livros, e tudo que é muito antigo, parece chamar sua atenção. Se distrai facilmente, fica franzindo a testa quando algo a incomoda e adora clichês românticos.
-Nossa, incrível. Mas você é um detetive, então, não me parece uma disputa justa.
-Ah, mas com certeza, não é mesmo. - Depois de vinte minutos dirigindo, nós chegamos a um restaurante rústico, à beira de um lago grande.
-Eu não sabia que tinha um lugar assim por aqui. – Parecia muito aconchegante.
-Geralmente está lotado, menos nesse horário, a maioria das pessoas já está em suas casas. – Senti um pequeno frio na barriga, recordando os momentos que observava as ruas vazias depois da meia noite. Vazias de pessoas, eu pensei.
-Tenho observado que as pessoas daqui não costumam sair muito de casa a noite, as ruas ficam quase desertas. – Disse com cautela e tentando parecer desinteressada.
-É, tem razão. -Esperei que ele prosseguisse, mas para minha decepção, Nathan permaneceu calado.
Nós nos sentamos na mesa mais próxima ao lago, O detetive encarava a água distraidamente, parecia um pouco distante, apreensivo até. O garçom, nos entregou o cardápio e nós fizemos os pedidos.
-Você quer algo para beber?
-Vinho.
-Ótimo. Pra mim também. Me traga uma garrafa de tinto.
Ele tamborilou o dedo em cima da mesa e tomou um gole de água. Me pergunto se eu devo falar sobre o livro, e sobre as coisas que tem me acontecido, até onde eu posso confiar nele? Nathan fixou seus olhos em mim, institivamente desviei o meu olhar do dele, e o ouvi suspirar, mas não era desapontamento.
-Tem algo que precisamos falar. Mas antes de qualquer coisa, eu quero que entenda, que a nossa cidade, não é como as outras. Vai parecer loucura, e você pode escolher acreditar em mim, ou achar que eu sou completamente insano.
-Bem, eu deixei você me trazer até um lugar onde eu nunca estive, por estradas escuras e desertas, acho que eu confio o suficiente em você. Mas esse suspense todo está me deixando assustada.
-Não, não está. Você já está com medo, desde quando eu cheguei no seu apartamento. Eu não sei o que você viu ou ouviu, mas você sabe, sabe que tinha algo lá. -Eu engoli em seco, algo dentro de mim se encolhendo. -O que nós precisamos saber é quão ameaçador ele pode ser. Eu não deveria estar te contando, mas você é a primeira pessoa que se muda pra cá em dez anos.
-Confesso que tem acontecido coisas inexplicáveis, desde que cheguei aqui. - Eu suspiro e percebo que estava prendendo a respiração. -E tem o livro.
-É amaldiçoado, ele não queima, não rasga, não molha, não importa de quantas formas você tente destruí-lo. Ele estava no museu, trancado, ninguém toca nele há anos. Mas de alguma forma ele foi colocado ao seu alcance. Por que ela sabia que você se sentiria atraída por ele. De alguma forma ele consegue está em todos os lugares, não importa onde você vá ou esteja nessa cidade, sempre que você olhar com atenção, vai notá-lo. Como um lembrete de que ela também está aqui, de que está vendo todos nós.
-Ela? -Antes que ele prossiga o garçom chega com o vinho e o nosso jantar. Leo enche nossas taças até a metade toma um gole demorado e continua.
-A mulher que fundou essa cidade. Segundo o que os antigos contam, ela era bonita, gentil e muito, muito inteligente. Conquistou muitas coisas, em uma época que as mulheres não tinham praticamente nenhum direito. -Nathan parecia exausto, como se contar aquela história, exigisse muito dele. -Mas por trás daquele sorriso afável, ela escondia um segredo, um terrível segredo, que foi a ruína total de todos que aqui viviam. Mas sabe, não devemos falar sobre isso agora, é uma história pra uma outra noite. -Ele deu um sorrisinho sem graça.
Eu encarei o lago a nossa frente, a noite estava assustadoramente calma. Um vento suave começava a se agitar sobre as águas, o que dava ao lugar um aspecto sombrio, como tudo nessa cidade. Dei um gole fraco no vinho, tentando assimilar tudo que eu ouvi.
-Bom, pelo menos eu descobri que não estou ficando louca. - Uma risada nervosa escapa da minha boca. Nós nos concentramos no jantar. E depois pedimos a sobremesa. Eu encaro a minha taça de sorvete e fico desenhando na borda distraidamente.
-Está com medo de voltar pra casa, não está?
-Sim, mas é como você disse, eu já estava com medo antes. -Ele segurou minha mão.
-Não se preocupe, vou te orientar sobre o que fazer. Vai ficar tudo bem.

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CIDADE SEM COR
HorrorApós a morte de sua avó, Linda decide recomeçar sua vida na pacata cidade de Black Hill. Mas ela vai descobrir que nem tudo sobre o lugar é tão tranquilo quanto parece ser.