XVI

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Subi para o apartamento depois do diálogo sobre o clima com o senhor Arthur. Fiquei um pouco assustada com o sigilo dele, ele provavelmente saberia quem era Acien, mas algo o impedia de falar. Então me dediquei a separar as atividades do dia, e alguns extras, além dos livros que pegara na biblioteca da escola.

Tomei um banho demorado, me sentia tão exausta, que a qualquer momento poderia voltar a dormir. Fechei os olhos devagar e acabei adormecendo.

Meu cérebro parecia relaxado. Até que eu abri meus olhos e percebi uma mulher sentada perto da banheira, devagar ergui a minha cabeça para observá-la melhor e pude sentir certa familiaridade naqueles olhos verdes. Mas não sabia explicar de onde vinha, apenas permaneci em silêncio encarando-a.

-Quem é você? - A mulher se espantou por ouvi-la falar.

-Quem eu sou? Acho que esqueci. Já foi há tanto tempo. Ainda posso responder as mesmas questões da mesma forma?

- Desculpe, acho que não entendo o que quer dizer.

-Você tem um dom, que está tão adormecido, que talvez só eu possa despertá-lo.

-E isso é bom?- perguntei ansiosa.

-Não, pelo menos não no início, mas depois a gente aprende. Vai ficando mais fácil conforme os séculos passam.

-Minha avó?

-E sua mãe...

-Não dizem que pula uma geração? - A mulher balançou a cabeça negativamente. E quase sorriu. Havia uma expressão tão melancólica que eu quase podia tocar sua tristeza.

-Elas não eram fortes o suficiente, e você é?

-É isso que vou descobrir. - Disse com firmeza.

-Sabe o que significa perder esta batalha, não sabe? - Sua expressão era perturbada.

meneei a cabeça negativamente, então perguntei.

-Eu vou lembrar disso?

A senhora se aproximou e segurou o meu rosto entre as mãos, sua testa tocou a minha de leve e eu acordei quase como se alguém tivesse estalado os dedos. Acordei com uma frase pairando na minha cabeça.

-As vezes o melhor presente que recebemos é a capacidade de esquecer.

Corri pensando que havia perdido a hora, mas só tinha se passado dez minutos desde que entrara no banho. Uma sensação esquisita me envolvendo, vesti uma saia no joelho e uma blusa de gola, coloquei um casaco e me dirigi ao porta jóias, no meu aniversário de 15 anos minha avó tinha me presenteado com um colar que pertencera a minha mãe.

Senti que seria certo usá-lo hoje. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Nathan explicando por que eu não respondera suas mensagens antes e nem atendera sua ligação. Ele respondeu imediatamente e me convidou para almoçar.

Desci as escadas rapidamente, pois hoje eu decidi que seria melhor ir caminhando. Arthur me interceptou.

-Senhorita Carter. Hoje você deve almoçar comigo. - Sua expressão era séria e eu pude apenas concordar e recusar o convite de Nathan.

De algum modo senti que as coisas caminhavam de uma forma estranha, mas decidi me focar na aula daquele dia e ignorar todos os problemas que eu tinha de enfrentar.

Me despedi de Arthur e ele sorriu, parecendo relativamente mais jovem. Caminhei pelas ruas e encontrei alguns dos meus alunos que foram comigo, senti minha alma renovada ao estar com eles, e percebi que tinha algo mais pelo que lutar além da minha própria estabilidade mental e física.

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