Passei em casa rapidamente e enfiei o livro de Black Hill na bolsa e me dirigi para a escola, cheguei depois de um tempo e saudei alguns professores com rapidez. Então me dirigi para a biblioteca e fui direto para a seção de ocultismo. Após chegar me dei conta de que eu não sabia quais eram os livros de Siena, nem como reconhecê-los, deslizei o dedo pelas lombadas, mas não conseguia sentir nada de especial.Algo em meu íntimo me dizia que eu estava procurando no lugar errado. Caminhei pelos outros corredores verificando cada uma das estantes gigantescas e embora o bibliotecário tenha me oferecido ajuda duas vezes, eu não podia aceitar.
As horas passaram correndo e eu tive que me retirar, pois a escola já estava fechando. Só podia esperar que que Arthur tivesse se saído melhor na sua busca. Fui para casa, tomei um banho rápido e fui preparar o jantar aguardando que o porteiro chegasse com novidades.
Depois de alguns momentos esperando ansiosa, ele chegou, mas sua expressão entregou que ele tivera tanto sucesso quanto eu.
-Nada.
-Nada.
Falamos em uníssono.
-Você quer jantar? – Ele concordou e eu o convidei a se sentar, servi o jantar e comemos em silêncio.
-Há um lugar. – Arthur disse quebrando o silêncio – Mas não é um lugar bom. Ninguém, e eu torno a repetir ninguém quer ir lá.
-E há uma razão específica? – Engoli em seco.
-Ninguém fala sobre o que acontece lá, não sei se é por causa do medo, ou se é por que as pessoas realmente não tem conhecimento. O manicômio sempre pareceu um lugar terrível. Se eu fosse esconder algo que não gostaria que fosse encontrado, seria naquele lugar.
Quando ele mencionou o nome senti a atmosfera do apartamento ficar tão densa que eu quase poderia tocá-la.
-Então, a nossa única chance de dar um fim a tudo isso é ir até lá?
-Eu receio que sim.
- E como nós vamos fazer isso.
-Eu tenho uma ideia. Mas para isso eu tenho que contatar um velho amigo. Você se lembra do homem que a atendeu quando você foi para o hospital. Acho que ele poderia nos colocar lá dentro.
Refleti sobre suas palavras recordando como Dr. Miguel parecia próximo de Nathan. Me perguntei se ele era conhecedor da verdade. mas em seus olhos ele carregava um ar de determinação, aqueles que só as pessoas que dão tudo de sí pelo que fazem tem. Mas eu já me enganara antes.
-Ele sabe sobre ?
-Eu creio que não. Imagino que ele vai sofrer muito quando descobrir, é o melhor amigo dele afinal.
Senti uma pequena pontada no peito ao recordar o médico gentil que me atendera.
-Então, o que nos vamos fazer? Simplesmente falar com ele?
-Basicamente, é isso. Mas, nós temos o livro. É a maior prova concreta que possuímos, podemos mostrar a verdade, mas não podemos forçá-lo a acreditar nela.
-Na melhor das hipóteses, ele vai acreditar em nós e nos ajudar e na pior vamos para o manicômio, mas como pacientes.
Arthur deu uma risada, mas notei que havia certa tensão em seu maxilar, denotando que ele não estava tão relaxado quanto tentava parecer.
-Linda, se tudo der errado, eu vou te dar cobertura, saia correndo desse lugar. Se sua avó conseguiu sair, você também vai.
-Não me tome por covarde. – Eu me senti um pouco ofendida por seu pedido repentino.
-Não, não. Você me interpretou mal, mas esse velho aqui já viveu por muitos anos. Se algum de nós precisar morrer, é bom que seja eu.
-Bem, não vamos ter um pensamento tão pessimista. Você não vai morrer. -Notei um pequeno sorriso que suavizou a face de Arthur.
-Vamos falar com o nosso bom médico. Mas primeiro, pegue seu telefone. Você tem o número dele, certo?
Abri a bolsinha que eu sempre carregava comigo e retirei o aparelho, verifiquei minha lista de contatos e encontrei rapidamente o contato do dr. Michael.
-E agora? – Eu indaguei esperando que ele me dissesse o que planejava.
-Precisamos trazê-lo aqui sem despertar suspeitas, mas a sua casa não é segura, vamos para o meu chalé, assim que você ligar para ele, apenas diga que eu passei mal e que pedi para vê-lo.
-Só isso? E como sabe que ele vai vir? – Imaginei que por ser médico ele deveria estar bastante ocupado para dar atenção a um velho que na maioria do tempo parecia senil.
-Ele sempre vem. – Arthur disse com firmeza e eu percebi um brilho sutil no seu olhar.
Confiante nas palavras do meu mais recente amigo, cliquei no ícone e chamada, enquanto me dirigia porta a fora, para que chegássemos a tempo no velho chalé, falei tudo que me fora orientado e o dr. Miguel se comprometera a chegar em meia hora. Caminhamos com pressa pelas ruas tranquilas do meu bairro, até chegar na parte mais movimentada da cidade e seguir pela estradinha que levava a casa dele. Eles chegaram dez minutos antes de Miguel. Aguardei silenciosa. Até que a impaciência me venceu.
-Como vai fingir que está doente? – Perguntei esperando uma explicação convincente.
-Olhe para mim, menina! Eu pareço doente. – Revirei os olhos, mas minha boca se curvou em um sorriso suave.
Alguns minutos depois, escutamos um carro estacionar por perto. E o jovem doutor desceu carregando uma bolsa preta, com os instrumentos que geralmente precisava. Ele entrou e ofereceu um sorriso sincero a Linda, que sorriu de volta. Ele era bonito de uma forma diferente de Nathan, não tinha o corpo tão definido, era um pouco magro e tinha em torno de 1,80, os cabelos eram de um castanho escuro, quase preto e os olhos muito azuis e quando ele sorria covinhas adoráveis apareciam. Suas mãos eram firmes na forma como manuseava os instrumentos, mas isso, eu supunha ser uma parte exigida do ofício.
Depois de examinar o Arthur, ele deduziu o que nós já sabíamos, não havia nada de errado com ele. Então a narrativa sobre a realidade que cercava a cidade começou e como prova entregamos o livro a ele.
Seus olhos expressavam confusão e incredulidade, mas seu espírito parecia declinar, uma vez que a história no livro batia exatamente com o que havíamos relatado. Miguel esfregou as têmporas, parecendo um pouco mais velho do que realmente era. Logo, Arthur retornou com uma xícara de chá e o médico tomou um gole grande.
-Isso... Parece loucura. Mesmo pra essa cidade. Vocês tem alguma prova de que ele o autor de todo esse infortúnio?
-Não exatamente, mas é que tudo aponta para ele. Eu mais do que qualquer um gostaria que não fosse verdade. Preferia que ele fosse o que me ajudaria a caçar a fera, e não a monstro a ser caçado. – Miguel me ofereceu um olhar compreensivo.
-Bem, eu vou dar um jeito de colocá-los dentro daquele lugar, mas eu mesmo preferiria não ter que estar lá. Eu entro em contato.
Segui para casa ainda mergulhada no caos dos últimos dias. O fim de semana se aproximava e eu não mais poderia fugir de Nathan, mas será que eu conseguiria encará-lo com os mesmos olhos de antes?
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CIDADE SEM COR
HorrorApós a morte de sua avó, Linda decide recomeçar sua vida na pacata cidade de Black Hill. Mas ela vai descobrir que nem tudo sobre o lugar é tão tranquilo quanto parece ser.