O carro do doutor se aproximara e Arthur saiu apressadamente, eu os cumprimentei, mas meu pensamento ainda permanecia no encontro com Siena. Seguimos em silêncio por uma estrada sinuosa, até chegar diante de um grande portão de aço, cuja ferrugem corroera algumas partes. Entramos com a autorização do médico.
Quando fiquei diante daquele prédio de três andares apenas, senti uma pressão enorme, como se meus pés pudessem afundar no solo a qualquer momento. Eu só conseguia que coisas horríveis deveriam ter acontecido ali.
Eu que estava vestida de enfermeira e Arthur como um paciente. Caminhamos em silêncio, pelos longos corredores, sussurros vinham de todas as partes, mas eu não sabia dizer se eram dos vivos ou dos mortos. Enquanto caminhava com a tensão espalhada sobre o meu corpo, notei que um odor pútrido permanecia por toda a parte, incrustado no ar.
Finalmente chegamos a seção de arquivos dos pacientes, a porta marrom com o nome desgastado, parecia estar fechada a anos, o que era estranho, uma vez que pacientes novos sempre entravam. Entravam, mas nunca saíam. Aquele pensamento gelou meu estômago.
-O senhor tem a chave? – Perguntei ao doutor. Ele parecia tão nervoso quanto eu, então apenas meneou a cabeça concordando.
Miguel colocou a chave na fechadura e girou. Com um clique a porta abriu e nós entramos. Rapidamente começamos a vasculhar o local, em busca dos livros. Que estava abarrotado com uma quantidade absurdamente grande de arquivos. Depois de alguns minutos que pareceram horas procurando, comecei a achar que eles deveriam estar em outro lugar, mas minha intuição me dizia para ser persistente.
Notei um baú grande no canto, que estava cheio de gravações dos pacientes, retirei todas as fitas, de modo que pudesse chegar ao fundo, que da forma que eu imaginava, era falso, mas é claro que uma pessoa comum não conseguiria abri-lo. Michael tentou sem muito sucesso.
-Com licença, eu faço isso. – Arthur se aproximou com um pé de cabra. Onde ele havia conseguido aqui-lo?
Depois de três tentativas o fundo do baú soltou e eu peguei os livros, que consistiam em dois volumes pequenos e encadernados em couro os enfiei dentro do vestido, coloquei todas as fitas dentro do baú. Até que notei nomes que me eram familiares.
Alicia e Charles.
Percebi um tocador em cima de um dos armários e coloquei a fita. Imediatamente a gravação começou, reconheci a voz instantaneamente e Michael também, pois estava mais pálido que o normal.
Vamos para a seção de tratamento número um. Na sala estamos presente eu, o dr. Luke e os pacientes Alicia e Charles. – Luke, era esse o nome que usava na época dos meus pais?
-Ele sempre disse que Luke, era seu pai. – Miguel soltou uma risada amarga.
-Vocês sabem por que nós estamos aqui?
-Por sua causa!
-E posso saber o que exatamente eu fiz?
-Mentiu para nós e para todos.
-Sobre o quê exatamente?
-Você é um monstro! – A voz do homem era carregada de ódio. – Todos esses anos, cada pessoa que descobria a verdade, você as mandava para esse lugar horrível.
-Você faz ideia do que está dizendo? Eu sou um médico, se as pessoas dessa cidade permanecem seguras, é graças a mim.
-Não, você as mantém em cativeiro. – Meu pai falou com amargura.
-E onde está a filha de vocês? – A voz de Acien permanecia neutra, sem esboçar nenhuma reação.
-Você nunca vai por suas mãos nela. Por que ela nunca há de voltar para esse lugar. – Minha mãe disse com firmeza, e eu senti uma pontada de culpa em meu coração por tê-la desapontado.
-Prenda-os na cadeira. Vamos dar um choque leve, pra ver se eles retomam a consciência. Uma pena realmente, um casal tão jovem.
Ouvi o som da descarga elétrica e em seguida os gritos dos meus pais. Miguel desligou a fita e afagou minha cabeça.
-Linda, precisamos ir logo.
Enxuguei as lágrimas e corremos para a saída de emergência, pegamos o carro e seguimos para a casa de Arthur. Aquela sensação de que Algo grande se aproximava tornou a me envolver, os pelos da nuca levemente arrepiados. Então, Abri os livros de Siena e comecei a ler sem parar, absorvendo cada ensinamento como se fosse a única coisa a qual eu podia me agarrar.
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CIDADE SEM COR
HorrorApós a morte de sua avó, Linda decide recomeçar sua vida na pacata cidade de Black Hill. Mas ela vai descobrir que nem tudo sobre o lugar é tão tranquilo quanto parece ser.