Capítulo 29

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Esse capítulo tem os sentimentos da Selene, então é um pouco mais triste.

Boa leitura!
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Por mais que eu tente a todo momento esconder o quão quebrada e machucada eu estou, às vezes não aguento, porque dói. Dói e muito, não conseguir abrir a boca e expressar aquilo que me consome cada dia mais. Dói não conseguir parar de chorar de madrugada e ter que lançar feitiço para que minha amiga não acorde.

Sei que todos olham e pensam como eu sou feliz ou forte, mas é horrível saber que elas se questionam por qual motivo eu sofri tão pouco com minhas perdas e, por incrível que pareça, a resposta é simples. Eu não consigo sentir falta da minha avó, não gosto de falar sobre isso por saber que vão me achar louca e sem sentimentos, mas dizem apenas por não terem que conviver com ela.

Simplesmente eu não podia gostar de garotas, não podia preferir acreditar em forças do universo do que em Deus, porque segundo ela é por ele que estou aqui e eu devo minha vida a ele. Ela me tratava como uma marionete, queria que eu seguisse tudo o que ela quisesse, me vestia como uma boneca, parecia que um unicórnio tinha vomitado em mim, fui obrigada a aprender inúmeras coisas de puros sangue, coisas que uma garotinha não deveria aprender.

Com a minha mãe sua relação era diferente, era boa, mas não me importo, ela tinha que ser boa para mim também.

Alisson, como eu sofri com a perda da minha mãe, mas a desmiolada da minha avó sempre me ensinou a reprimir sentimentos e foi o que eu fiz, meu interior se afunda em escuridão cada vez mais me levando a chorar por horas seguidas. Ela era tão jovem, queria que ela estivesse aqui mesmo com seus enigmas e não me falando nada sobre minha vida, ela foi a melhor mãe que eu pode ter e nunca vou esquecer dela, mesmo que seja atingida por feitiços da memória.

Minhas mãos são a prova do meu sofrimento, nenhuma mão normal tem tantas marcas e elas não tem formato de lua. Não mantenho as unhas médias por achar bonito, mas sim por ser uma forma de fugir dos meus pensamentos, a dor física alivia a dor psicológica.

Nunca fui ensinada a me expressar, era sempre um "engole o choro", "pare de fazer tanto drama", mas o que mais me machucava era o "todos temos problemas". Sempre me questionei se tinha cara de burra, porque eu sei que todos tem problemas, mas quando eu estou vulnerável não fale sobre a merda da sua vida, perante a situação o foco tem que estar em mim.

Não podia ser eu mesma, a Selene que elas diziam ser brilhante era a falsa eu, na verdade eu era brilhante até todos ao meu redor passarem a me odiar por algo que não fiz e ainda tive que aguentar a morte dos meus dois e únicos amigos. Depois de ver seus corações dentro de uma caixa preta eu me senti totalmente destruída, porque ali tinha uma carta que dizia que era tudo culpa minha, eles morreram por minha causa.

Era doloroso ter que fingir que não sofri depois da morte de tantas pessoas próximas a mim, me pergunto se eu realmente sou o motivo de suas morte.

Aos doze anos, depois de saber da morte dos meus amigos eu apaguei dentro de uma banheira por horas, mas algo não me deixou morrer, fiquei mais de horas ali sob a água esperando a figura preta da Morte vir me buscar, nada aconteceu.

A Morte sempre foi muito interessante para mim, talvez assim as pessoas continuassem vivas e felizes sem minha presença. Entretanto, sempre existiu um obstáculo para chegar ao meu objetivo, minha vida parecia estar escrita e que eu não poderia morrer antes do tempo, patético.

A garotinha de doze anos nunca pode chorar pela morte de seus amigos, nunca pode chorar nem por um machucado, talvez eu só tenha me acostumado a reprimir tudo, sentindo a escuridão me consumir como se tivesse muita coisa dentro e ao mesmo tempo eu estivesse vazia.

Selene Black - Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora