Um pequeno debate

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Park Chaeyoung pov

Naquela tarde elas me mandaram um pequeno roteiro do que iriam fazer, então juntei alguns links ou dados, mandei tudo para Yuju. Talvez precise disso para incrementar no trabalho. Passei os últimos dois dias fazendo a mesma coisa, corrigindo o que me mandavam e mandando as alterações. Tudo escrito nos mínimos detalhes e sem deixar nada passar em branco. Eu queria conseguir conversar com ela, ou com suas amigas, queria muito fazer alguma amizade naquela sala, mas também existe amizade abusiva, qualquer um pode se tornar a nova Gyuri. Eu mudei, sei disso, mas não significa que eu ainda não chore, que eu ainda não pense nela todos os dias desde que terminei. Como eu já disse, essa casca de grossa e durona só é uma proteção, que pode cair por qualquer deslize.

(...)

Acabei dormindo em cima da mesa que uso para estudar, coisa que vem se repetindo muito. Sempre acordo com as costas doendo, mas sei que não vou perder esse costume. Separei uma roupa e a coloquei em cima da cama. Quando nos mudamos de Busan para Paju aqui em Gyeonggi, meu pai encontrou essa casa com três quartos, sendo dois com banheiro e como meu irmão não mora mais aqui eu fiquei com o dele. Agora posso ter mais privacidade, o que é bom porque não preciso mais sair do quarto se quiser ficar o dia todo trancada. Hoje irei demorar mais na faculdade, já que é quinta e tenho aquele pequeno castigo do professor Kang. Tenho que ver quais ônibus irei pegar e a que horas devo sair para não chegar tarde em casa.

Uma coisa que gosto é de pegar aulas com quem já é de outro período, aqui na Coreia pessoas mais velhas não gostam muito de falar com os mais novos. Porque tem toda aquela coisa de formalidade, só que só consegui pegar duas aulas esse semestre, que são exatamente as extras que faço a tarde. Então hoje nada de aulas extras, apenas um castigo.

Peguei o ônibus às seis e meia, como sempre. As aulas só começam às oito, chego meia hora antes, mas por conta do trânsito mesmo que seja só quarenta minutos até lá, o ônibus demora um pouco.

Repito a mesma rotina de sempre, mesmo ônibus, mesmo lugar. E o mesmo se repete na faculdade, mesma cadeira e sempre a última a chegar.

Entre os intervalos fico procurando alguma coisa para fazer. Às vezes, só às vezes nos intervalos entre o turno da manhã e da tarde ou no almoço dos outros e como está acontecendo nesse momento, eu fico olhando os estudantes. Fico no primeiro andar e ninguém me vê, mas eu os vejo muito bem. Gente andando de lá para cá, pessoas livres ou cheias de livros, sozinhas ou acompanhadas, seja com amigos, colegas ou.... Ou namorados. Uma vez vi um casal começar um namoro e duas semanas depois já estavam com outras pessoas. Aí eu me pergunto, como duramos tanto? Como eu fiquei tanto tempo com alguém que só me fazia mal? Acontece que eu não sei e estarei longe de saber essa resposta.

Já eram doze e quarenta e nove, a aula começa em onze... quer dizer, dez minutos. A uma hora dessas todos já estão na sala, ou seja, a minha hora de comparecer ao meu castigo. Entrei na sala pela única porta que fica nos fundos, sentei na cadeira bem no canto e longe da porta. Assim que o professor me viu, pude ver uma risadinha surgir em sua boca. Ele me paga.

A aula parecia legal, os alunos faziam muitas perguntas, principalmente questionamentos, mas só foi o professor escrever a frase "Ética no jornalismo, um mito" que toda a aula tomou um único rumo.

— Então o senhor está dizendo que no jornalismo não existe ética? - Ela estava de costas, então eu não conseguia ver seu rosto, apenas seu cabelo castanho, mas sua voz era firme.

— Não, estou dizendo que a ética do jornalista se resume a: o que o mundo quer ver, mas não tem coragem. As coisas que estão cobertas, devem ser expostas.

— Então basicamente a ética jornalística nos diz que tudo deve ser exposto? - Ela parece decidida a confrontá-lo ou provar que ele está errado.

— Você quer expor tudo?

— Não. - Como assim não?

— Então o que pretende expor? Gostaria de saber sua opinião sobre, senhorita Manoban.

Manoban, então ela se chama Manoban. Não parece um sobrenome coreano, ela pode ser estrangeira. Só que seu coreano parece impecável, nunca vi uma estrangeira falando tão bem com ela.

— Pode parecer tosco ou até contradizer o que estudo. - É óbvio que contradiz o que você estuda. - Mas a minha ética diz que devo expor apenas a verdade, que nem tudo deve ser exposto para uma possível reputação em cima daquilo.

— Então acha que os jornalistas mentem? - Todos mentem.

— Sem sombra de dúvida que sim. - Pelo jeito ela pensa o mesmo que eu. - Uma notícia rápida e cheia de furos, mas com algo muito revelador traz mais público.

— Poderia me citar alguma notícia recente? Sinto que estou desatualizado.

— Vazamento do suposto caso do prefeito. Viram ele com uma mulher, vazaram as fotos no mesmo dia, intitularam a notícia de "Prefeito de Seul é visto com amante saindo de seu gabinete".

— Me destaque a mentira.

— Aquela era a filha mais nova dele, que voltou ao país após dez anos estudando fora. Em apenas um clique eles poderiam ter descoberto qualquer coisa, mas uma única prova rasa fez o prefeito ficar afastado durante um mês e ser investigado.

— Vai se especializar em jornalismo investigativo, senhorita Manoban?

— Sim, qualquer coisa que traga a verdade. - Essa eu quero ver.

— Espero vê-la trazendo muitas verdade a esse país.

Aquele foi o fim da discussão entre os dois e ela com certeza venceu isso. Não sei como funciona isso de jornalista, mas já li vários relatos de processos em cima de pessoas que buscam essa área. O motivo é falar a verdade e espero que ela realmente faça o certo, realmente espero que ela não se perda e comece a falar mentiras para aumentar sua reputação.

Superando Traumas - ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora