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Enquanto eu caminhava de volta para casa fiquei pensando em Ryujin, ela já passa por tanta coisa todos os dias e agora tem que aguentar mais um tombo.

Por quê a vida sempre arruma um jeito de destruir gradativamente o dia de uma pessoa boa? Parece que ela se venda e simplesmente sai atirando tristeza para todos os lados, de verdade eu acho que nem a pior pessoa do mundo merece se sentir triste mas de qualquer forma a tristeza sempre cai em cima de alguém que já está tendo um dia de merda.

Quando estou prestes a subir o meio-fio que dá acesso ao hall de entrada da minha casa eu noto que há uma Range Rover parada na vaga onde o Crown Victoria da minha mãe costuma ficar parado, isso só pode significar duas coisas, (1) mamãe conseguiu comprar um carro novo ou (2) tem algum parente chato na minha casa. Espero que seja a primeira opção porque honestamente eu estou cansado de ver aquele carro morrer o tempo todo, sem motivos e nos momentos mais inoportunos.

Inflei as bochechas subindo as escadinhas correndo e enfiando a chave na porta, giro a maçaneta e vejo uma movimentação anormal na mesa de jantar.

A pronto.

Tiro meus sapatos e deixo no canto da porta junto com o amontoado de outros sapatos e penduro a jaqueta no cabideiro notando a presença de um casaco incrível de grande e de coloração verde musgo. Franzo o cenho e vou até a cozinha dando de cara com Haru encarando um rapaz mediano de cabelos ruivos e pele perfeitamente bronzeada.

Lembrete, preciso tomar sol qualquer dia desses.

- Oh Woo! Quanto tempo que eu não te vejo! - Jaehee brota da cozinha com um sorriso gigante no rosto. Ela estava completamente diferente comparada a última que nos vimos. Continuo encarando o garoto de orbes escuras e a forma como ele estava brincando com as gêmeas.

- Quem é esse cara? - aponto para o garoto sentindo seu olhar cair sobre mim. Meu Deus, ele parece uma pintura feita por artistas renascentistas.

- Choi San. E-eu sou amigo de escola da Jaehee.- ele então se levanta e me cumprimenta. Assim que nossas mãos se tocam eu sinto um formigamento estranho afastando nossas mãos rapidamente.

- Jung Wooyoung .- respondo simples.- E que eu saiba se vocês não são tão próximos assim, você não deveria dizer que é 'amigo' de escola da Jae e sim colega.

San concorda dando um sorrisinho simples e sem mostrar os dentes.

◇◇◇

- San, conte a eles sobre a sua viagem a Tijuana, no México! - minha irmã diz empolgada e eu tenho 99,9% de certeza que as mãos deles dois estão entrelaçadas por debaixo da mesa.

Tijuana, huh? Grande concentração de pessoas que usam drogas. Então é esse tipo de lugar que a Jaehee anda frequentando com esse cosplay ridículo de James Dean versão Coréia. Cruzo meus braços e me afundo mais na cadeira prestando bastante atenção na forma como ele falava.

Era incrível como todas elas ficavam bestificadas com tudo que aquele menino dizia.

- Bem, não é todo mundo que consegue passar uma noite em uma cabana cheia de maconheiros, não é mesmo Sannie? - disse, meu tom de voz carregado de petulância.

- Perdão?

- Está perdoado por ter contado essa história ridícula e entediante. Você já pensou em trabalhar como professor de história quando terminar o colegial? Tenho certeza que os seus alunos passariam aulas e mais aulas babando e não é porque você é bonito.- retruco e ele franze o cenho se levantando da mesa e dizendo que iria ao banheiro.

Pego a xícara de chá em cima da mesa dando um gole rápido no líquido quente, as cinco mulheres a mesa me lançam diferentes olhares mas todos com a mesma mensagem. O que eu mais tinha medo era o de Jaehee, sem dúvidas.

Queria dizer "pare de encher o saco do meu namorado senão eu dou um jeito de furar o seu".

Minutos depois San volta do banheiro avisando que precisava ir pois no dia seguinte ele ainda tinha que sair para correr antes de ir para a escola. Não sei o que é ainda, mas, tem algo de errado com esse garoto.

- Mas já vai? Está tão cedo. Nós ainda não estamos com sono, você poderia ficar aqui e contar mais uma de suas histórias aventureiras tenho certeza que...- sou cortado por um pisão no pé que Haerin me dá. - Puta que pariu criança, não tem mais feira do pônei pra você, falou?

- Preciso mesmo ir. Talvez eu volte outro dia.- San diz dando um sorrisinho e minha irmã se inclina e dá um selinho nele.

Eles não eram amigos da escola?

O mais alto fica todo sem graça e eu reviro os olhos me encostando no cabideiro e olhando o mesmo com uma feição entediada.

- Até mais Wooyoung, foi bom conhecer o cara que cuidou dessas cinco mulheres maravilhosas, sozinho!

Filho da puta, não pode jogar na minha cara que eu sou responsável senão eu vou acabar me deixando levar pela imagem de bom garoto que ele está tentando passar.

- Tchau garoto. Boa viagem até o Polo Norte ou sei lá pra onde é que você vai...

𝐈𝐍𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍. Onde histórias criam vida. Descubra agora