Pretexto • Lucas Paquetá ✅

8. Não se repetirá!

Eu sabia que não aguentaria esconder aquele "segredo" por muito tempo e nem queria. Apenas esperava a confirmação da médica que estava tudo bem para já espalhar a notícia pela família, amigos e principalmente com o mundo.

As minhas melhores amigas já sabiam, quando se tratava de esconder coisas delas eu era péssima e gaguejava só ao responder um bom dia que elas me dessem, depois dos meus pais eram elas me conheciam completamente e saberiam se eu estivesse estranha e iriam me fuzilar de perguntas, fazendo eu falar a verdade e de qualquer forma elas descobririam o que eu tanto escondia.

No fundo eu ainda sentia um certo medo do que a maternidade iria me trazer de como eu me sairia sendo mãe. Afinal nunca tive experiência com bebês e estava em um frente a um quadro em branco que não tinha a mínima ideia de por onde começar a colorir.

Apesar disso, a sensação de gerar outro alguém era inexplicável, sentia como se fosse a mulher mais forte e realizada do mundo e, ao mesmo tempo a mais medrosa e altruísta também. Sentia como se minha vida só tivesse tido sentido a partir do momento que recebi o positivo e a confirmação do médico da gravidez, mas também sentia que um prédio poderia desabar a qualquer momento só te mim.

Era estranho pensar que em alguns dias eu e Lucas ficamos cada vez mais próximos e a possibilidade de um relacionamento era cada mais clara da parte dele e de minha parte. Ambos queriam muito isso, mas o medo de dar errado e acabarmos magoados e sem um ao outro era maior do que qualquer desejo que tínhamos.

Meu coração desejava cada vez mais Lucas perto de mim. Meu corpo pedia seu abraço. Minha boca pediam seus lábios. E meus olhos pediam ele ali, em minha frente. Todos com muita urgência.

Era estranho e ao mesmo tempo lindo o jeito que nos aproximamos e ficamos tão íntimos em alguns meses. Era realmente coisa do destino, esse que adorava brincar comigo, mas que dessa vez parecia estar levando o trabalho bem a sério quando se tratava de mim e Lucas.

Cheguei ao CT e me deparei com Lucas abraçando uma mulher que até aquele momento era desconhecida por mim. Um fiasco de ciúme quis marcar presença, tentei o impedir, mas quando me dei conta já estava olhando com cara de nojo para alguém que nem conhecia. O que estava acontecendo comigo? Não era eu que deixava sempre claro que não queria nada e que relacionamentos no trabalho só atrapalham as coisas? Por qual motivo estava sentindo aquele maldito sentimento? Eu me perguntava, no fundo eu sabia as respostas, era o amor que eu sentia pelo rapaz dando indícios que queria ser mostrado ao mundo e que não aguentava mais ser contido e reprimido a uma amizade. A realidade era que eu não queria Lucas como amigo, queria ir além, conhecer junto a ele o amor que sempre quis provar, mas que estava sempre guardado esperando o momento certo para desabrochar. E naquele momento, quem estava prendendo o sentimento era eu. Chegava ser contraditório "a menina que sempre quis viver um amor diferente de todos os outros nega o sentimento quando ele realmente acontece". Isso me definia totalmente.

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Três semanas já haviam se passado desde a descoberta da gravidez e Laura ainda não acreditava, já amava o bebê mas a ficha ainda não tinha caído. Os enjôos diminuíam a cada dia e as consultas com a obstetra se tornavam cada vez mais especiais. Ouvir o coração do bebê, era inexplicável e fazia o coração da mais nova mãe transbordar amor.

O dia iniciou como qualquer outro, Laura se arrumou e esperou Lucas para irem juntos ao Centro de Treinamento do Flamengo. Nas últimas semanas eles estavam cada vez mais próximos e com isso iam todos os dias juntos para o trabalho. O que fazia todos desconfiarem de um possível relacionamento entre os dois, já que ninguém (além das amigas e familiares do casal) sabia da gestação da jovem.

— Laura eu preciso falar com você.

— Oi Lu, pode falar. Aconteceu algo? — Disse fechando a porta do carro.

— Sim... Laura desde que eu te conheci senti algo totalmente diferente do que já presenciei em toda minha vida. Não sei se isso se chama amor a primeira vista ou outra coisa, só sei que estou perdidamente apaixonado por você. Quero passar a minha vida com você e com o nosso filho. — Pusou — Ana Laura aceita namorar comigo?

Por alguns segundos o silêncio tomou conta do carro. Fazendo Lucas ficar cada vez mais nervoso e já se preparando para ouvir o não sair da boca da fisioterapeuta. Laura ainda tentava processar a informação.

— Eu não sei nem o que te dizer. Claro que eu aceito. Também quero passar o resto da minha vida ao seu lado, eu te amo muito, Lucas, muito mesmo, não sei nem explicar o quanto.

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— Oi meus amores, como vocês estão? — Lucas disse assim que adentrou a sala de Laura.

— Estamos bem. E você está fazendo o que aqui mocinho? Essa hora está tendo treino — Olhou o relógio e levantou.

— O treinador precisou sair e fomos liberados mais cedo. — passou os braços pela cintura da moça — E aí vim te ver. — beijou ela.

— Lucas...

Continuaram beijando e repentinamente Marcos Braz entrou na sala da moça, presenciando aquela cena. Pigarreou fazendo os dois se assustarem e pararem o beijo imediatamente.

— É... Marcos? Precisando de alguma coisa?

— Bom eu já vou indo. O Ceni provavelmente está chamando o time para treinar. — Lucas disse saindo da sala e recebendo um olhar de reprovação de Marcos.

— Então Laura, preciso que você mande a ficha técnica e médica dos jogadores para podermos selecionar quem vai para a seleção olímpica.

— Claro. Acho que até amanhã já envio para o senhor tudo direitinho. — confirmou com a cabeça.

O homem já ia saindo da sala e Laura já respirando aliviada quando virou-se para a moça novamente.

— Ah só mais uma coisa. Por favor sem demonstrações amorosas nas dependências do Flamengo. Aqui é um local sério e de trabalho, vou deixar passar por ser você, Laura. Mas por favor não deixe que se repita. Assim como foi eu quem presenciei poderia ser outro diretor. Então eu peço encarecidamente que isso não se repita. Pelo menos não aqui, no local de trabalho dos dois.

— Entendo. Não vai mais acontecer, eu juro. Foi um acidente. Do fundo do meu coração peço desculpas ao senhor. Foi realmente um acidente.

— Tudo bem, contanto que não se repita fingiremos que não houve nada aqui. E por favor me entregue o quanto antes as fichas.

Ao chegar a casa de Lucas deu uma bronca nele, mas logo depois o assunto tinha virado uma piada interna entre os dois.