9. Por que tudo isso?

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Era a terceira consulta pré-natal da gestação de Laura que já alcançava a 13° semana. Os dois estavam ansiosos para saber sobre o bebê e se já podiam descobrir o sexo.

- Olá papais! Vamos para a consulta?

Entraram na sala e repentinamente Laura começou a sentir uma sensação muito ruim, um presságio de algo que estava prestes a acontecer.

- Esse gel é bem gelado, não se assuste. Com licença - Colocou o aparelho na barriga da fisioterapeuta e repentinamente a face da médica mudou.

- Aconteceu alguma coisa doutora? - Laura perguntou preocupada.

- Só preciso ter certeza de uma coisa Laura, não precisa de preocupar. - A feição da médica só piorava o que assustou ainda mais Ana Laura - Bom... Infelizmente o bebê de vocês já não tem mais batimentos, sinto muito. Tentei fazer tudo que estava ao meu alcance mas agora estou de mãos atadas.

- Como assim meu bebê não tem batimentos doutora? O que eu fiz? Diz que isso é mentira por favor! - Laura disse se encolhendo na maca.

- Infelizmente essa é a realidade, Laurinha. Não tenho mais o que fazer. Agora é esperar que seu corpo expulse o feto em um aborto espontâneo. Só aí poderemos fazer alguns exames para saber se você tem alguma doença, se foi natural ou se o bebê não estava se desenvolvendo. Pude ver que o feto era um menino, mas já não tinha o que fazer. Vou deixar vocês a sós agora.

- Amor como assim o nosso bebê não está mais aqui? Como? Não tivemos nem a chance de conhecer ele.

- Eu também não entendo, La. Não sei explicar. Mas independente de tudo eu estou com você. Eu sei que é difícil, sinto a mesma dor que você...

- Podemos escolher ao menos um nome para ele? Eu quero muito!

- Claro, vamos dar um sim. Ele merece.

- Não tenho cabeça para pensar nisso agora. Mas vamos escolher um sim. Agora por favor, me leva para casa. Não aguento mais esse local.

- Ok linda. Vou passar na recepção para ver o que temos que fazer.

Laura confirmou com a cabeça e os dois saíram da sala, ainda abalados. Apesar de não demonstrar Lucas estava com o coração em pedacinhos. Se mantia forte por Laura, sabia que se ela visse ele naquele estado ficaria pior e se sentiria culpada, então guardou todos seus sentimentos e transformou em apoio para Laura. Antes de ir para casa passaram na farmácia e compraram um absorvente pós-parto como indicação da obstetra que havia atendido o casal.

Laura entrou no apartamento e foi diretamente para o quarto, deitou em sua cama e chorou tudo que podia e até mais. Ela não entendia o motivo daquela perda e isso a doía demais, principalmente por se sentir culpada.

- Laura você quer alguma coisa? - Lucas disse se aproximando dela.

- Deita aqui comigo, Lu. Eu só preciso disso. De você.

Ele atendeu o pedido da namorada e os dois deitaram.

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Laura estava no banheiro quando gritou fazendo Lucas se assustar e ir rapidamente até o local.

- O que houve meu amor?

- Tá sangrando, trás o absorvente e um remédio por favor, por favor.

Ela sentia uma cólica bem forte, mas isso já nem importava mais, o que realmente doía era o desgaste emocional que aquela situação trazia para a jovem. Ver aquele sangue sair dela e lembrar das palavras da obstetra era como se enfiassem várias vezes uma estaca de vidro no coração de Laura.

Apesar de todo o apoio da família e amigos, só Laura e Lucas sabiam de fato a dor que sentiam. A perda do primeiro filho, ouvir as pessoas dizendo que dentro de algum tempo eles poderiam tentar de novo. Mas na realidade eles não queriam outro bebê, eles queriam a vida que foi tirada do filho deles de volta e ter pelo menos a chance de ver os detalhes do pequeno.

Não se passava um dia sem que Laura não imaginasse como o pequeno seria. Se pareceria com Lucas ou com ela, se teria o cabelo escuro com os do pai ou claros como os dela, se os olhinhos seriam azuis ou castanhos. Como seria a risada, a voz, o chorinho, o sorriso. Tudo que eles poderiam ter vivido, sentido e falado mas que não tiveram a oportunidade. O que os restava era chorar e imaginar algo que não iria mais acontecer.

"Talvez tu seja mais uma cicatriz
Mas sempre que falam de ti
Lembro da tua mão na minha
Meu Deus o que é eu fiz?
Ainda penso muito em ti
A vida não tem sido justa
Cê' sabe ainda tô' aqui
Sua falta ainda me assusta." - Te vi na tua ontem, Konai.

Pretexto • Lucas Paquetá ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora