A descoberta da gravidez não tinha sido fácil e mágica como todos sempre diziam. Para Ana Laura gravidez era sinônimo de medo, perda e choro. O trauma de ter sofrido um aborto espontâneo permanecia com ela e mesmo depois de tanto tempo, a falta e o vazio ainda faziam parte dela.
Assim que chegaram do hospital ela foi correndo para o quarto e deitou em sua cama em posição fetal. Se permitiu sentir tudo, chorou e tentou assimilar tudo que havia acabado de acontecer.
Nem percebeu mas pegou no sono em meio as lágrimas. Sentiu uma onda quente percorrer seu corpo, mas não se importou com o que era. Posteriormente descobriu que fora Lucas quem a cobriu.
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Acordou e quis que tudo que viveu na noite anterior fosse um sonho - mas não era. Levantou e foi direto ao banheiro, pegou uma porção de água com as mãos e molhou o rosto para acordar.
Enquanto se olhava no espelho se perguntou o motivo de tanto sofrimento. Ela sempre quis ser mãe e agora que finalmente seria estava triste por isso, na verdade estava confusa sobre seus sentimentos.
A surpresa realmente não tinha sido das melhores para ela, ouvir sair da boca do médico as mesmas palavras que ouviu quando descobriu a gravidez do Benjamin foi como uma facada no estômago, mas ao mesmo tempo foi como um pouco de esperança despejado sobre ela.
Estava destruída por dentro, não queria sentir tudo aquilo e isso era o que piorava toda a situação. Se sentia culpada por sentir medo e não aproveitar a surpresa que a vida acabara de lhe dar. Aceitar tais sentimentos era a parte mais difícil para ela.
- Bom dia, meu amor. Dormiu bem?
- Dormi sim, e você? - a cara dela ainda estava abatida.
- Eu também. Ontem tinha acabado de comprar uma pizza e quando fui ver você tava dormindo. O que aconteceu?
- Nada, só fiquei surpresa com a notícia da gravidez e estava muito cansada. Nem percebi que havia pegado no sono.
- Você tem certeza?
— Tenho sim.
— Qual é Laura, eu te conheço. Você não tá falando toda a verdade, conta o resto pra mim, vai? Por favor!
— É impossível mentir pra você, Lucas. Eu tô com medo, muito medo. Medo de perder a gestação novamente, medo de não ser uma boa mãe, medo de dar tudo errado... E por conta desse medo eu me sinto culpada, por não estar aproveitando a gestação, mesmo que não seja planejada.
— Ah meu amor, não fica assim. Vem cá — deixou a espátula que usava para fazer os ovos mexidos na bancada e abriu os braços para Ana Laura. — Olha, nós estamos juntos, sempre. Eu vou sempre te dar apoio e ficar ao seu lado no que quer que seja. E não pensa pelo lado ruim, vamos aproveitar nosso bebê. Nós vamos ser pais novamente, isso não é incrível? Você está gerando uma pessoa, isso é mais incrível ainda. Você é incrível e eu tenho certeza que mesmo que esse bebê seja minúsculo ele já te ama mais que tudo nesse mundo, assim como eu amo. E nós dois sabemos que você será a melhor mãe do mundo.
— Você é tudo que eu mais preciso. Como pude viver tanto tempo sem ter você? Obrigada por ser a minha força nos momentos mais difíceis.
Ficaram mais algum tempo abraçados até que desse a hora de ir a obstetra.
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Assim que entraram na sala da doutora um arrepio percorreu o corpo de Ana Laura, fazendo-a ficar ainda mais nervosa. Aquela consulta era crucial, seria onde saberia tudo sobre o bebê e teriam a certeza de que Laura estava definitivamente grávida.
— Fiquem a vontade! Ana, ali na salinha ao lado tem um avental, quiser retirar a roupa pode usar, tá? Se não pode deitar na maca e levantar a blusa. — assentiu e se deitou na maca.
— Esse gel é meio gelado, então não se assuste. Com licença. — colocou o gel e indicou a ultrassom.
Nos primeiros minutos a sala se manteu silenciosa, a médica analisava a tela a sua frente e Ana Laura e Lucas apenas aguardavam a doutora começar a falar.
— Bom, tenho boas notícias. São dois bebês!
— Oi? — Laura e Lucas disseram em coro ao ouvir as palavras da médica.
— Isso mesmo que vocês ouviram, são dois bebês. Vem aqui, papai, olha só, está vendo esses dois pontinhos? São os dois bebês. Bom pelo que vejo aqui só temos um saco gestacional, o que torna eles univitelinos, ou seja, apenas uma bolsa amniótica e uma placenta. Os bebês terão o mesmo sexo e pode ser que sejam idênticos ou semi-idênticos.
— Ainda não consigo acreditar! São dois mesmo, doutora? A senhora tem certeza?
— Total certeza, Ana. O que digo a vocês é: mantenham a calma. Eu estarei aqui para o que precisarem e qualquer dúvida que tiverem. — o casal confirmou com a cabeça e seguiram com a consulta.
Definitivamente o casal não esperava uma gestação gemelar, pelo simples fato de nunca ter tido um caso assim em nenhuma das duas famílias. Acreditar que estava grávida já não era fácil para Ana, sendo de gêmeos então, só piorava tudo. Na verdade o fato da gestação ter seus riscos deixava ela receosa e com um sentimento de proteção absurdo. Lucas pulava de alegria por causa da notícia e se fosse por ele todo o planeta já saberia da novidade, mas a namorada o conteve e se acalmou.
Laura estava confortável com as boas notícias da consulta, mas lá no fundo, sabia que o medo ainda a habitava e não seria do dia para a noite que ela se livraria desse atormento. Mas apesar de tudo um pontinho de felicidade começava a nascer dentro da fisioterapeuta, felicidade essa que ela não tinha noção do que se tornaria.
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Pretexto • Lucas Paquetá ✅
RomanceLucas está de volta e solteiro, Laura é o colírio que seus olhos precisavam, sua verdadeira cara metade. (A história foi escrita há algum tempo atrás, por isso existem alguns erros de digitação.)