Desatado

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Agora, olho para esse nó.
É, humano, você não prometeu ficar durante o tempo.
E, confesso, não gostava muito do seu cheiro.

Talvez só me acostumei com o carinho atrás da orelha.
Gostava do carinho para dormir.
Talvez eu tenha gostado do dia que brincamos no parque.
É estranho, gostei até de quando me pediu para não latir.
Ou quando, pela primeira vez, colocou uma coleira em mim.

Assim, do nada, você cansou.
Cansou e pediu para que eu fosse, só assim, só ir solto.
E eu fui. Cães gostam da liberdade.
Dai, outra vez, você assobiou.

Voltei, cães vêm quando chamam.
Você, outra vez, colocou a corda em meu pescoço.
Não terminou o nó. Encostou a mão em minha cabeça sem acariciar.
E entrou em casa. E me deixou do lado de fora.

Por todo um dia esperei você voltar. A corda se arrasta quando ando.
Será que você volta antes dos uivos da lua?

Sentada, com a corda arrastando, aguardarei.
E esperei, e esperei.

Até que ouvi pessoas ao longe.
Você não voltou, então eu fui.
Recebi carinho, virei umas latas.

Não gostei de não entender
Deve-se explicar o que se planeja até para os cães
Assim, eles sabem se dormem a tarde ou a noite
Porque, se você tem o seu silêncio, você tira o que mais importa:
a sinceridade

Magoou. Talvez eu abana o rabo ao te ver, mas não mais entro em sua coleira.

17/06/2021
Manu

Hoje senti frio.
Volto para seu colo aquecido?
Será que você abriria a porta para meus latidos?

Não sei. Não sei. Você pode voltar, e eu?
Senti sua falta hoje. Senti.
Controlo-me, digo que não.
Logo a falta é tapada.
Não sei. Não sei. Eu quero voltar? Devo?

Você não tinha cheiro de biscoitos coloridos.
Sinto falta de quem conhecia meus petiscos favoritos. Isso e de sua cama quente.

Quero alguém que me chame.
Me chame e me leve para dormir.
Me chame como quem chama cães.
Que deixa o portão aberto mas sem me mandar ir.

Ah, humanos...

18/06/2021
Manu outra vez

Tudo: um grande nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora