Pote-vida

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Queria ignorar parte do meu peito
A parte que lembra do choro da morte
A parte que lembra do beijo de despedida
A parte que ouviu a gritaria
A parte que viu o soco

Meus olhos me pedem para chorar
Minha boca se contrai,
segurando um grito que não vaza

Fecho meus olhos
Estou de suéter azul
Vestida com seu abraço
Meus lábios deslizam aos seus

Espuma
Espuma esponja espelho
Enxergar-te em sua maior paz
E sorrir, sorrir de orgulho

E toda a dor, toda a dor se liquefaz por segundos
Mas vem o tempo, e as tarefas, e a vida
E encher o currículo
E encher as pessoas de sorrisos
E encher páginas de um documento
E encher poemas de palavras
E me encho de me encher
Me enchendo e me desfazendo
E empanturrando um pote que trinca
E me empanturrando de estar cheia de coisas que me enchem
E

Não sei
Só tento
Manter o pote inteiro
De cristal, pote bonito, pote da vida
Remendando-me com você

E assim, mesmo que formada de cacos
Pelo menos vivo um pote mais rosado

E em ca(c)os, agradeço
Obrigada, fitinha vermelha

08/09/2021
Manu, meio dramática esses dias

Tudo: um grande nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora