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Uma verdade pode até machucar, mas uma mentira faz um estrago bem maior. Não doeria tanto se ela tivesse me falado, me contado a verdade. Foi um acidente, acidentes não são previsíveis, mas ainda era ela quem estava no outro carro.
Seu sorriso é uma mentira linda. Observando ela rir com Sina deveria me deixar feliz, ver que está bem, se levantou da onde quer que estivesse, mas me sinto vazio, minha mente vagando pelo nada.
Eu quero beber aquelas cervejas na geladeira, mas não posso enquanto estiver tomando os antibióticos. Já consigo respirar novamente pelo nariz, meu rosto já não está tão inchado quanto antes.
Any não dormiu comigo nessa última semana, eu não quis, não parecia certo. Ela diz que confia em mim, mas não é isso que parece. Eu ficaria feliz se ela tivesse me contado tudo sobre o acidente, me contado que Jaden era o outro motorista.
Eu teria dito que não tinha problemas com isso, que acidentes acontecem, que a culpa não era dela pelo o que aconteceu. Mas agora penso que ela tem a culpa, que Any estava errada naquela noite, ela quem deveria ter parado o carro.
Meus pensamentos e sentimentos estão uma bagunça. Meu peito enche de dor como se a cada minuto uma agulha entrasse mais fundo.
Quero odiá-la, mas seria injusto, ela não merece ódio, tampouco merece minha confiança. Any não teve medo em nenhum momento quando eu estava por perto, nem nas vezes em que fiquei bêbado.
Eu sou a tempestade e ela não teve medo de se molhar. Mas eu também fui um tolo por não querer saber se ela era rasa ou funda demais. Tentei mostrar o oceano inexistente dentro de mim enquanto ela me mostrava apenas a ponta do seu mar.
Sinceramente, seria tudo mais simples se eu pudesse levantar e ir embora, como se tudo fosse uma mesa de um bar qualquer.
Mas não é tão fácil, meu coração ainda é dela, meu corpo ainda é dela. Ainda quero cada parte de Any junto comigo, cada sorriso, cada abraço, todas as vitórias e suas comemorações.
Ao mesmo tempo, quero que ela vá embora, quero que ela saía, quero que Any vire e diga tudo que eu não quero escutar. Quero que diga que nunca me amou de verdade, talvez eu não sinta tanto o peso quando for embora.
Fiz inúmeros sorrisos aparecerem em seu rosto, consegui fazer com que as lágrimas não caíssem dos seus olhos apenas com uma palhaçada. E aparentemente, isso já não significa mais nada.
Há borboletas no meu estômago, mas todas estão mortas há mais de uma semana. Não sinto mais o frio na barriga de antes, minhas mãos suando por esperar ela chegar no apartamento. Parece que somos dois estranhos vivendo embaixo do mesmo teto.
Eu não a impedi de continuar se aproximando, nunca disse: Não chegue mais perto de mim.
Any se afastou sozinha, me abraçando somente quando digo que não vai me fazer mal se fizer. Vejo o brilho em seus olhos quando permito que faça algo, tento me sentir culpado por deixá-la com medo de se aproximar como antes, mas em nenhum momento senti alguma coisa.
- Hey!- Noah me chama empurrando meu corpo- Foi longe irmão, onde estava?
- Em lugar nenhum. Sobre o que falavam?
- Estamos decidindo o que vamos comer, Noah perguntou o que você sugere.- Sina fala enchendo seu copo com o refrigerante
- Menos pizza. Não suporto mais pizza.- Noah diz.
- O que você sugeriu?- pergunto para Any.
- Fast food.- ela sussurra a resposta, olhando as mãos em seu colo.
- É uma boa. Faz tempo que não como.
- Urgh, eu também! Sina nunca me deixa comprar.- meu irmão diz apontando para sua namorada.
- Desculpe se não quero te ouvir resmungar que está com dor de cabeça o dia inteiro.
- Sina tem um ponto.- Any fala ainda observando as mãos.
- Me defenda agora.- Noah me cutuca.
- Sina realmente tem um ponto.- digo- Você é insuportável quando está com dor de cabeça.
- Preciso arranjar alguém que me defenda urgentemente!- murmura bebendo um pouco do refrigerante em seu copo.
Any se levanta da cadeira quando Noah começa a fazer os pedidos pelo aplicativo, vai até o armário e pega a caixa de remédios. Ela não faz nenhum barulho enquanto mexe na caixa procurando algo.
Se direciona até o filtro de água e enche um copo, por instantes imaginei que os remédios que pegou são para ela, mas Any começou a andar de volta para mesa ainda com os comprimidos e o copo.
Ela empurra o copo para minha direção e estica a mão mostrando os remédios que estava procurando.
- Está na hora do seu remédio.- Any sussurra colocando os comprimidos na mesa quando não os pego da sua mão.
- Como sabe os horários que tomo os remédios?- pergunto os colocando na boca.
- Sempre vejo você tomando nesse horário.- diz encolhendo os ombros- Hoje não seria diferente.
- Obrigado.
- Papai disse que o carro é nosso.- Noah diz soltando o celular na mesa.
- O carro é meu Noah. Esquece essa história de nosso, estou te emprestando caso queira saber.
- Um empréstimo infinito.
- Você tem um carro?- Any pergunta surpresa.
- Nós temos um carro.
- Não, eu tenho um carro. E sim princesa, eu tenho, mas faz tempo que não uso.
- Então eu peguei para mim.- Noah diz sorridente.
- Não, Noah, o carro ainda é do Josh. Nem parece que estuda direito.- Sina resmunga voltando para a cozinha. Não vi em que momento ela saiu.
- Sina, amor, o dia em que você me defender eu vou soltar fogos de artifício.
- Eu não dúvido do seu potencial, querido. Quando achar os fogos me avise.
- Ela está debochando de mim, não está?
- Sim, ela está.- eu e Any falamos juntos.
- É, eu estou.
- Pois saiba que amanhã eu estarei soltando fogos na frente da sua casa.
- Meus pais não vão gostar nada disso.
- Seu pai me ama.
- E minha mãe vai fazer você engolir todo os fogos.
- Ela me ama também, só que seu pai me ama mais.
Olho para Any, que nega com a cabeça e encolhe os ombros mostrando tanta confusão quanto eu.
Isso tudo é uma mentira, essas conversas já não vão mais existir daqui alguns dias. É a mentira mais dolorosa que já senti.
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Um capítulo cheio de reflexões e depressão.
Levantem as mãos criança, o carinho vai descer.
Jump está vindo aí. Nunca estive tão pronta
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Até a próxima, Kyara!
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De repente... Você!
FanfictionCorações machucados é isso que eles tem. Almas machucadas é o que enchem os corpos deles. Sentimentos guardados, lágrimas poucas vezes derramadas. Um motivo para o ódio. Todos os motivos para o medo. Sorrisos falsos sendo mostrados para pouca parte...